Coluna da Liliane Prata: Sobre amor e conversas no restaurante
Nossa editora Liliane Prata conta a revelação que sua amiga trouxe ali, na mesa do restaurante
– Todo ataque é um pedido de amor – diz minha amiga, na segunda ou terceira taça de vinho. Estamos jantando no restaurante e sou pega de surpresa: eu estava tão desprevenida, mordicando meus bolinhos de arroz, e ela me vem com uma dessa. – Todo ataque é um pedido de amor – ela repete.
– Gente, como assim? – eu pergunto, eu, que tenho um sério problema com o pronome “todo”. Todo o que, todo como, neste mundo tão multifacetado?
– Repara – ela diz. – Toda pessoa que costuma ser grosseira está na defensiva. Todo mundo que sai gritando, todo mundo que sai xingando, esperneando, odiando, violentando das mais diversas formas, cometendo a mais simples ou mais grotesca das atrocidades, está todo mundo lá, desesperado, como se estivesse gritando: “Me ame! Por favor, me ame!”. Se a pessoa não foi amada na infância, então, aí que ela vai sair atacando, mesmo, revoltado por não ter tido amor, desesperado por não ter tido amor, suplicando amor.
– De onde você tirou isso, miga?
– Não sei de onde tirei isso. Mas é isso!
Ela sai para ir ao banheiro e eu fico lá, na mesa, botando pimenta no meu bolinho, botando fé no que minha amiga disse com tanta fé, botando minha cabeça para pensar em todas as pessoas que gritam por nada, que brigam por tão pouco, que perdem a cabeça por qualquer coisa, que batem na mesa por qualquer coisa, que batem as portas por qualquer coisa, que batem nos outros, que não batem bem da cabeça, que precisam de um coração batendo por elas – será?
– E aí a gente precisa o quê? O quê? Dar AMOR para essas pessoas – minha amiga avisa, voltando para a mesa on fire.
– Miga, na boa, se uma pessoa me ataca, eu não tenho como dar amor pra ela. Uma pessoa me dá um soco. Vou dar amor? Eu, não.
– Se sua integridade física não estiver em perigo, como nesse caso do soco… Se estamos falando de frases de ódio, de ataques psicológicos, de manipulações, de cinismo, de agressividade gratuita, de respostas ríspidas, de comentários ácidos, de tentativas cotidianas de diminuir o outro… Então não devolva na mesma moeda; em vez disso, dê amor. Respire fundo, pense na pessoa e repita mentalmente o Ho’oponopono!
(Ho’oponopono, ela já tinha me explicado em outra ocasião, é um método de cura havaiano que consiste em repetir: sinto muito. Me perdoe. Te amo. Sou grato).
– Miga, eu juro que tento ser zen, mas aí já está zen demais para mim – falo, pedindo para o garçom o cardápio para escolher a sobremesa.
– Observe. Observe e dê amor.
Naquela noite, voltei para casa descrente, mas resolvi tentar, e devo admitir que tem sido um belo e simples exercício. “Todo ataque é um pedido de amor”: simplismo? Achismo? Loucura? Pode ser. Mas aí vai, Marcela, ou miga, sua loka: esse tem sido um belo e simples exercício, que tem me feito muito bem. Obrigada!
Liliane Prata é editora de CLAUDIA e assina esta coluna semanalmente. Para falar com ela, clique aqui