Com arte e educação, esse projeto transforma vidas na Bahia
Movimentado pela "pedagogia do desejo", o Projeto Axé tem a arte como o principal instrumento de trabalho
Maria da Gama Santos é do interior da Bahia, tem 36 anos, um filho de 19 e uma filha de 16. Desde criança, sonhava em costurar, mas sempre teve dificuldades, já que não tinha ninguém disposto a ensiná-la, por conta da pouca idade. Há alguns anos, ela finalmente aprendeu a lidar com os tecidos, fios e agulhas e, então, ficou conhecida como “Maria que gosta de costurar”.
Há pouco mais de um ano, Maria da Gama conheceu o Projeto Axé. Então, passou a ter aulas de modelagem, corte e costura. Ao lado de um grupo de mulheres inspiradoras como ela, Maria pesquisa sobre moda, aproveita o material que seria jogado fora para produzir peças ecossustentáveis e aprende com cada um de seus erros para aperfeiçoar seu dom. Hoje, a aluna tem um ateliê, em que faz e reforma roupas de seus clientes mais adorados. Agora, ela descobriu o que é querer sempre mais.
Maria sonha em se tornar uma profissional, para também ensinar técnicas de costura no futuro. “A gente tem que crescer. Você não tem que ter o dom só para você, tem que dividir com outras pessoas. Eu costuro, gosto do que eu faço e vivo disso”, conta Maria da Gama.
Criado há 27 anos, o Projeto Axé é uma ONG movimentada pela “pedagogia do desejo”, em que a arte é o principal instrumento de trabalho. Ao lado dela, os sonhos e a esperança de uma vida melhor. “Quem não tem nada a perder tem muito a ganhar”, pontua Marcos Cândido, um dos idealizadores.
O Projeto Axé articula a sociedade civil, o poder público e o setor privado, permitindo o desenvolvimento sustentável de vidas humanas, além do aprendizado em áreas como arte, beleza e meio ambiente.
Foi em junho de 1990 a primeira vez em que a ONG foi às ruas de Salvador encontrar crianças e adolescentes que fazem da rua o seu espaço de socialização. Desde então, todos os dias foram de trabalho e mais de 22 mil crianças já foram atendidas, além do apoio atribuído anualmente a 1600 famílias.
Para participar, esses jovens precisam frequentar regularmente a escola, dormir em suas casas e estar presentes todos os dias na sede, onde se alimentam e aprendem com aulas de arte, música e dança, por exemplo.
Mulheres adultas em situação de vulnerabilidade social ganham a oportunidade de participar de oficinas de costura e moda e chegam a receber uma bolsa enquanto estão participando dos cursos do Projeto Axé. Assim, elas têm a oportunidade de conquistar novos aprendizados e também a própria renda.
“No nordeste e em muitos outros lugares do Brasil, as mulheres são as verdadeiras chefes da família e, por isso, a ONG oferece formação continuada para mulheres adultas, o que não é oferecido em nenhum outro lugar”, ressalta Marcos.
Unindo sustentabilidade, arte e educação, em 2014, foi criado o projeto social Mochila Sustentável, mantido pela Ford em parceria com a ONG. Tudo acontece na Bahia, entre a sede do Projeto Axé, no Pelourinho, em Salvador, e a Casa do Trabalho, em Camaçari.
Uniformes industriais são doados, higienizados e remanufaturados de maneira ecossustentável, com estampas feitas pelos jovens do próprio Projeto Axé. Com o que aprenderam lá, as mulheres os transformam em mochilas, que são doadas anualmente aos alunos da rede municipal de ensino de Camaçari.
A estimativa é que, desde 2014 até o fim de 2017, tenham sido doadas 40 mil mochilas e 60 mil uniformes, além de ter sido feita a capacitação de cerca de 100 mulheres com o curso de corte e costura.
“Quando as mulheres chegaram aqui, elas não falavam nada, ficavam de cabeça baixa. Hoje, elas contam e riem da sua própria história. É um outro momento para cada uma delas”, comemora a Professora Maria Rosa Lima Teles, querida pelas alunas que ensina na Casa do Trabalho.
Além disso, essas mulheres também produzem alguns outros produtos incríveis, que são vendidos em uma loja do Projeto Axé, no Pelourinho. A renda arrecadada com a venda desses produtos são revertidas para a ONG.
“Isso aqui é uma porta aberta para o futuro, não é só para uma pequena renda. Tem gente que já está com o seu ateliê, costurando. Gente que largou o emprego e hoje está ganhando dinheiro com o que aprendeu aqui”, finaliza a Professora Maria Rosa.