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A importância das relações sociais para as crianças

As amizades infantis podem ajudar, e muito, as crianças a se tornarem mais sociáveis independentes e autônomas

Por Mayra Stachuk
Atualizado em 22 out 2016, 21h43 - Publicado em 6 abr 2015, 07h24

Até os 5 anos, Henrique era um menino tímido e quieto que adorava brincar de Lego, como define a mãe dele, a publicitária Priscilla Benclowicz, 36, de São Paulo. Mas foi só sair da escolinha maternal eentrar para o primeiro ano, em um novo colégio, que tudo mudou. Lá, ele conheceu Zak, o clássico moleque extrovertido, agitado e que adora futebol. Apesar dos temperamentos e interesses diferentes, eles encontraram afinidades e hoje, aos 7 anos, são melhores amigos.

“Eu cheguei a ficar preocupada se o Henrique um dia teria problemas de socialização, porque ele era bonzinho demais”, lembra Priscilla. “Mas elese soltou, não tem mais aquela timidez excessiva e, acredite, adora até futebol, coisa para a qual antes não dava a menor atenção. Considero que essa amizade foi uma influência positiva. Para os dois, na verdade”, diz ela. Isso porque Zak aprendeu com o amigo a gostar de brincadeiras que exigem mais tranquilidade e concentração, como os jogos de montar. Agora, os dois dividem o tempo juntos fora da escola entre os chutes de futebol e as pecinhas de Lego.

A convivência com os amigos é fundamental no desenvolvimento das crianças. E não é preciso nem ir tão longe como a psicóloga norte-americana Judith Rich Harris, autora do livro Diga-me com Quem Andas (Ed. Objetiva), lançado há 16 anos, que anula a influência dos pais na formação da personalidade dos filhos e credita toda a importância apenas aos amigos. “Ambas as convivências são determinantes e valiosas, cada uma a seu modo”, afirma Ada Morgenstern, psicóloga, psicanalista, professora e supervisora do Curso de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae. “Enquanto a família transmite valores, é nos relacionamentos fora de casa, com seus iguais, que a criança aprende a socializar de verdade, a se virar, a dividir e a fazer concessões. Coisas que muitas vezes o contexto familiar, principalmente se ele for superprotetor, não oferece oportunidade para que ela aprenda”, diz Ada.

Isso explica por que muitas crianças se comportam de maneira diferente quando estão entre o grupo de amigos (principalmente na escola) equando estão com a família. Quando a mãe não está ali para decidir por elas, elas mesmas fazem suas escolhas. Para a pedagoga Paula Festino, de São Paulo, outro motivo para o comportamento distinto é o fato de as regras e os combinados na escola serem mais facilmente cumpridos do que em casa. “Os pais em geral cedem à manha e ao choro, então as crianças manipulam. Elas percebem o quanto são capazes de alterar o humor dos pais, e muitas vezes fazem isso para chamar a atenção. Na escola isso não funciona, pois regra é regra e é para todo mundo. Então os pequenos acabam agindo mais espontaneamente”, diz Paula.

A irmã de Henrique, Gabriela, de 4 anos, é um exemplo disso. Priscilla conta ter ficado surpresa quando ouviu da professora que a menina é a líder de seu grupinho na escola. “Em casa ela é toda manhosa, imaginava que na escola fosse do tipo cordata. Mas lá ela é cheia de atitude”, conta, aos risos.

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Essa diferença de comportamento – e a possibilidade de a criança ser submissa com os amigos – também preocupa muitos pais, que ficam na dúvida se devem ou não interferir na dinâmica dos grupinhos dos filhos. “Os adultos devem estar próximos e observar que posição o filho ocupa dentro do grupo, porque o excesso não é bom, seja de dominação, seja de submissão. Mas sem julgamentos ou preconceitos – nada de chamar o filho de frouxo ou de mandão”, orienta Ada. “O líder tem que aprender a ceder e aceitar o que vem do outro. E as crianças mais submissas devem descobrir que também podem propor coisas, ter ideias, e não ir sempre atrás dos outros”, completa. Conversa é a base de tudo. É fundamental que a criança conviva com as diferenças para aprender a lidar com elas.

Dentro de casa

Ter um irmão mais velho geralmente acelera o desenvolvimento de uma criança tanto quanto conviver com crianças mais velhas na escola. No caso de Gabriela, de tanto ver Henrique levar os amigos para brincar em casa, ela manifestou esse desejo mais cedo do que normalmente ocorre. “Enquanto ele só trouxe um amigo aqui com mais de 4 anos, a Gabi aos 3 já começou a pedir para chamar as amiguinhas pra vir em casa. E hoje, pelo menos uma vez por semana, alguma passa a tarde aqui”, conta Priscilla. Como ainda são novinhas, as meninas vêm com as mães ou as babás. “Só uma delas, que é mais grudada na Gabi, fica sozinha. Mesmo assim, da primeira vez a mãe veio junto, almoçou com a gente e depois explicou que ia trabalhar. Hoje ela se sente em casa aqui conosco.”

Essa tática de apresentar um ambiente novo com o pequeno deve ser seguida sempre, segundo Ada. “É importante que os pais estejam junto num primeiro momento, para que a criança entenda que ali é um lugar bacana, gostoso, onde ela pode ficar à vontade, pode brincar”, diz ela. Isso naturalmente acontece na casa dos avós e familiares, mas vale também para a casa de amiguinhos. É como a adaptação da escola: é por meio dos pais que a criança vai se sentir segura ou não para estar em um ambiente que não seja o dela.

Convite para dormir

Esse é um momento temido por muitos pais, que ficam inseguros e não têm certeza de quando é hora de deixar ou não. A escola em que Henrique estuda organiza, desde o primeiro ano (turmas de 6 anos), acampamentos sem a presença dos pais. Começam com uma noite fora, depois duas, eassim sucessivamente. A cada dois anos, o destino muda, mas é sempre em outra cidade. “Da primeira vez eu não deixei, achei que ele era muito pequeno e não estava pronto, apesar de ter pedido para ir. Mas esse ano, já com 7, nós permitimos”, diz Priscilla. “A abordagem da escola, que fez uma reunião antes com os pais e mandava fotos no fim do dia durante a viagem, me deixou mais tranquila.”

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“Dormir fora de casa é uma experiência superimportante para a criança, porque ensina autonomia. É a oportunidade de cuidar de si sem o cuidado da mãe”, afirma Ada. Claro que isso não significa a ausência de adultos responsáveis. Mas, segundo ela, estar sem os pais desperta o senso de responsabilidade nos pequenos. O que não dá para determinar, no entanto, é a idade certa para que isso aconteça – seja para o acampamento ou para dormir na casa do amigo. “É difícil mensurar uma idade ideal, mas isso deve ocorrer em um momento em que a criança já tenha algumas habilidades desenvolvidas, como dormir sozinha em seu quarto e fazer xixi no banheiro. Principalmente, deve ter segurança emocional. Isso ocorre entre 7 e 9 anos. Em algumas crianças, até antes, em torno dos 5”, diz o pediatra Hamilton Robledo, do Hospital São Camilo, em São Paulo. “O importante é que essa vontade parta dela. Nunca sedeve forçar a criança a pernoitar fora.”

Quero ir embora!

E se o filho ligar durante a noite pedindo para ir buscar? Essa é uma dúvida recorrente. Os pais temem que socorrer o filho possa desestimular sua independência, e que deixá-lo faça com que ele se sinta abandonado. “É uma situação bem típica”, afirma Ada, “porque a criança ainda não tem condição de projetar exatamente o que vai acontecer. Ela quer muito dormir na casa do amigo porque não quer parar de brincar; é o que sente naquela hora. Depois, as coisas podem mudar.”

Tanto Ada como Hamilton afirmam que, se o filho ligar pedindo parabuscar, os pais têm de mostrar companheirismo e compreensão, e nunca dar bronca ou reprimir por ele querer voltar para casa. “Devem levar esse episódio com leveza e ir pegá-lo se sentirem que não é apenas uma ansiedade, mas um desconforto de fato”, diz Ada. “E sempre conversar, dizer para ele que, mais para a frente, se quiser, pode tentar novamente.É uma atitude importante dos adultos, que também ficam inseguros eapreensivos com essa nova situação”, orienta Hamilton. Uma dica importante é confiar e não ficar ligando constantemente para saber notícias, diz ele. “Isso pode acarretar uma insegurança na criança. O melhor seria combinar um único horário para falar com ela, e sempre reforçar que sente orgulho pela sua atitude.” Henrique, quando foi para o acampamento, não ligou para a mãe nenhuma vez. E, hoje, dorme na casa dos amiguinhos sem problemas. “Mas ele sabe que, se precisar, eu vou buscá-lo”, garante Priscilla.

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