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A felicidade não é feita de pequenos momentos de êxtase

Ou estamos todos condenados a viver entre doses de euforia e longos períodos de chatice

Por Ludmila Vilar (colunista)
Atualizado em 21 jan 2020, 18h25 - Publicado em 29 set 2015, 09h31

Nunca me caiu bem a ideia amplamente assimilada de que a felicidade é feita de pequenos momentos de… felicidade. Como se fosse um pequeno intervalo feito de fogos de artifícios entre períodos de chatice (esses, portanto, a maior parte da vida).
 
Numa fase bastante confusa de vida, daquelas que você tem certeza que só fez escolhas erradas e reza para encontrar uma fórmula de autoajuda com passo a passo para ser feliz, acabei pisando no mundo da filosofia.
 
Descobri o quão incrível era a ciência que estuda o pensamento, a moral e a ética, entre tantos outros conceitos com os quais lidamos diariamente e que têm tanto impacto sobre a nossa existência.
 
Lembro-me perfeitamente de uma professora que me explicou a importância da reflexão. “Refletir é como impulsionar o pensamento”, disse ela. Os insights, epifanias, saltos quânticos, seja lá como você chame aqueles momentos em que nossa mente consegue enxergar uma situação de outro jeito, são como se esse impulsionamento ganhasse a propulsão de uma mola.
 
Nessa época descobri também que o conceito de felicidade é objeto de estudo antigo. Desde muito antes das fórmulas mágicas dos livros de autoajuda, Platão, Sócrates, Aristóteles e um outro monte de filósofos de outras épocas discutiam sobre o que é ser feliz. Definitivamente, não é viver pequenos momentos de euforia.
 
Para Aristóteles, por exemplo, a felicidade vem com uma conduta virtuosa. Ou seja, felicidade seria uma conquista diária respaldada pelo desenvolvimento de valores reconhecidamente justos com todos. Ou seja, depende mais da gente do que de circunstâncias que não temos controle.

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 Por que falar de felicidade agora? Na verdade, por três razões aleatórias, sendo duas delas algo que repercutiu na minha vida e na sua.

A primeira foi a aprovação do Estatuto da Família, um projeto de lei do deputado federal Diego Garcia, do PHS, do Paraná. Como nunca tinha escutado falar desse partido, fui atrás para saber mais. Ele existe desde 1996 (!) e a sigla PHS quer dizer – eis aqui a máxima capacidade de distorção do significado das palavras – Partido Humanista da Solidariedade.

Vejam vocês, os que se consideram humanistas e solidários querem criar uma lei para determinar que família é apenas homem e mulher com um papel de compromisso assinado e seus rebentos – eu mesma, sou filha de pais que nunca fizeram isso.
 
De acordo com essa lógica, órfãos criados por tios, por exemplo, não têm família. Crianças de casais homossexuais também não. Aliás, nem mesmo netos educados por avós têm uma família perante a lei que esse grupo de gente “solidária” quer criar.
 
Difícil crer que um texto desse tenha sido escrito por homens adultos. Como pode ser possível viver por anos e anos e ter uma visão tão curta sobre o que é importante na vida. O que deve significar felicidade para o deputado Diego Garcia?
 
A segunda foi o desfecho de “Verdades Secretas”, a novela da TV Globo que virou vício nacional nos últimos meses. No enredo, os personagens principais gravitavam (assim como nós) ao redor dos sete pecados capitais: luxúria, avareza, ira, soberba, preguiça, inveja e gula.

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 A ideia de pecado capital é uma determinação da Igreja Católica, que criou também as virtudes capitais, entre elas a temperança e a generosidade. Não me interessa recorrer aos pecados e às virtudes do ponto de vista moral, mas à polarização entre eles (por exemplo, de um lado temos a luxúria e a soberba e do outro a castidade e a humildade).

Esses dois extremos me fazem acreditar que o caminho do meio seria o atalho para ser feliz. E era isso que faltava à vida de Angel, Giovanna, Fany, Anthony, Alex, Pia, Eziel, Larissa e Roy na trama de Walcyr Carrasco. Deu no que deu.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=GyxMs9KYA3Q%5D

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Por fim, a terceira razão foi ter assistido ao delicioso filme “Hector e a Busca Pela Felicidade” (2014), que não chegou a ser lançado nos cinemas por aqui, mas acabou de entrar no NOW (serviço on demand da NET).

Hector é um psiquiatra que sente não estar ajudando seus pacientes a serem mais felizes. Pior que isso, ele tem a sensação de ser uma fraude. “Falo de coisas que não vivi”. Assim, o médico decide viajar pelo mundo em busca de experiências que evidenciem a felicidade.

 A jornada rende um pequeno compêndio de frases sobre esses movimentos que são comuns a todos nós. “Evitar a tristeza não significa buscar a alegria”, “Precisamos nos preocupar menos com a busca pela felicidade e mais com a felicidade da busca”, ou “Ser feliz é ser amado pelo que você é” são algumas delas.

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No caminho, Hector vive diferentes situações de medo, alegria, liberdade, prisão. Nenhuma delas, no entanto, valeria de nada se ele não fosse esperto o bastante para observá-las com profundidade e, então, transformar o que um dia foi “experiência” em felicidade. Que tal refletir mais sobre isso?

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