A casa de Francesca Monfrinatti une design e garimpos originais
A mescla da influencer revela um olhar apurado para decorar.
Combinações inusitadas e hi-lo são o que definem o estilo da influencer de moda Francesca Monfrinatti, 28 anos. A paulistana, que ficou conhecida com seu antigo blog, lançado em 2008 e batizado de Shoe Lover (por ser ela uma apaixonada por sapatos, em especial os com design de destaque), acredita mais em looks autênticos do que em usar necessariamente peças grifadas. O pensamento foi lapidado ao longo de uma já considerável experiência com moda. Formada em design de produto pelo Istituto Marangoni, em Milão, trabalhou na Carlos Miele, Schutz e Daslu e foi ainda uma das criadoras do Fashion Day In, evento que surgiu em 2011 para apresentar ao mercado coleções de marcas novas e promissoras, que não faziam parte do line-up oficial do São Paulo Fashion Week. Etiquetas como Thelure e Lolitta foram algumas das que integraram a iniciativa. Hoje, se dedica a alimentar o site que leva seu nome com conteúdo ligado a lifestyle. “Gosto do que é bom, claro. Mas prefiro peças que mostrem a minha personalidade, independentemente de quanto custem e ainda que possam parecer extravagantes ao primeiro olhar”, diz.
Esse mesmo mood pode ser visto em sua casa. Desde 2013, ela vive com o marido, o consultor de design e arquitetura Marcello Maksoud, em um apartamento de 450 m² em um edifício projetado pelo arquiteto Isay Weinfeld na Vila Nova Conceição, Zona Sul de São Paulo. Francesca se mudou para o endereço no meio do processo de uma reforma, idealizada e comandada por Marcello durante dois anos e meio. Isso não a impediu, no entanto, de imprimir sua marca na escolha de cores (o azul do sofá da sala principal foi ideia dela) e na disposição dos móveis, numerosos. “Ele já tinha o apartamento e a ideia da obra e do design de interior porque, afinal, isso faz parte do trabalho dele. Mas, como temos um gosto parecido, todos dizem que a casa tem a minha cara também”, afirma. “O Marcello é na decoração como sou na moda: curtimos misturar achados a peças mais distintas.”Assim, os dois preencheram com um acervo de arte, design contemporâneo e objetos vintage o amplo imóvel – que passa a sensação de ser uma casa graças a duas largas varandas laterais ao redor de todo o apartamento, o único do prédio com essa planta. “Sempre morei em casa. Então, para mim, isso é muito especial”, diz Francesca.
Radical, o redesenho buscou valorizar a amplitude. Tudo foi pensado para integrar ao máximo os três atuais ambientes: a sala, com cozinha aberta para receber com frequência os amigos, a sala de TV, que a princípio era um quarto, e a suíte que restou, com generosos 120 m², banheiro espaçoso e um closet que guarda os inúmeros pares de sapatos da moradora. Depois da derrubada de algumas paredes e da troca do piso, só sobraram da planta original as vigas e colunas estruturais e a laje do teto. Até o concreto que reveste boa parte das paredes dos cômodos, dando unidade a eles, foi aplicado. O projeto impressiona pelo preciosismo. Das saídas de ar aos puxadores dos armários, da cozinha de inox às portas de aço-carbono, Marcello desenhou cada detalhe – que agradam, um a um, Francesca. “É tudo supermoderno. Se eu tivesse feito do zero, acho que sairia exatamente assim.” Uma escolha desde o início foi priorizar a decoração dos banheiros. O lavabo da sala da TV, por exemplo, tem um espelho curioso de Jacques Adnet e obras de Alex Flemming e Evelyn Tannus.
Essa linha artsy aparece em todo o local. Alguns cantos, aliás, têm pinta de galeria – atmosfera reforçada pela iluminação indireta, escondida sobre as vigas – e outros se assemelham a um showroom de lojas de design, tamanha a variedade de objetos de diferentes épocas e correntes, assinados por grandes nomes da área, como Patricia Urquiola, Jean Prouvé, Sergio Rodrigues e John Reeves. Pudera: Marcello foi dono da extinta loja de décor Benedixt e, ao importar peças para suas vitrines, aproveitava para trazer móveis para o próprio lar. “Temos tudo aqui: traços escandinavos, portugueses, italianos, vietnamitas, canadenses, australianos. Isso abriu minha cabeça para o mundo dos móveis”, conta Francesca. Entre as obras de artes, há quadros assinados pelo artista plástico RAG, no hall de entrada, e telas enormes de Ian Strange, à la street art, no canto da TV. As criações contemporâneas e autorais se misturam a peças antigas, garimpadas em brechós, leilões e até em oficina de motos – caso de um boneco Playmobil customizado como um Papai Noel rebelde, que recebe com irreverência quem chega à casa. Mas os achados queridinhos são a chaise-longue Rio, original de Oscar Niemeyer e angariada em um leilão, uma janela indiana de 1600, o arquivo de um laboratório antigo, ainda com inscrições nas gavetas, e um par de baús Louis Vuitton, herança da avó da influencer. O mix dá particularidade ao décor – e casa com a maneira pela qual Francesca monta suas produções. “Nesse sentido, existe um total diálogo entre a moda e a decoração. Em ambas as áreas, misturo elementos que não passam de cara a ideia de que ficariam bem juntos. Curto um item atual perto de um móvel com data dos anos 1920″, exemplifica.
À primeira vista, a volumosa coleção de objetos e móveis e a profusão de cores pode até parecer exagerada, mas basta uma visão mais atenta para captar que nelas existem, sim, harmonia. “Não sou uma influencer de 1 milhão de seguidores, mas quem me segue entende do que gosto”, garante Francesca. São aqueles que sabem que não raramente é bem ali, no que é incomum, que mora a beleza.