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Madonna continua uma ‘feminista má’. O último discurso dela prova

O ~polêmico~ discurso dela durante a 'Marcha das Mulheres" só mostra como ela continua relevante.

Por Lucas Castilho
Atualizado em 15 abr 2024, 17h28 - Publicado em 23 jan 2017, 12h03
Madonna faz discurso durante a "Marcha das Mulheres", em Washington, nos Estados Unidos. (Theo Wargo/Getty Images)
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Madonna é uma feminista má! Bem, ela mesma já disse isso: ao receber a homenagem de Mulher do Ano pela Billboard, em 2016, discursou: “Eu me lembro de desejar ter uma mulher para me apoiar. Camille Paglia, a famosa escritora feminista, disse que eu fiz as mulheres retrocederem ao me objetificar sexualmente. Então eu pensei, ‘Se você é uma feminista, você não tem sexualidade, você a nega’. E eu disse ‘Dane-se. Eu sou um tipo diferente de feminista. Sou uma feminista má’”.

Ainda bem, não perdeu o jeito, continua fazendo as coisas da forma dela para promover equidade. A última prova? O bonito – e polêmico – discurso deste sábado, 21, durante a “Marcha das Mulheres”, em Washington.

“Sejam bem vindas à rebelião do amor. Para a rebelião da nossa recusa, como mulheres, em aceitar essa nova era de tirania. Não só as mulheres estão em perigo, mas todos os povos marginalizados. […] Digam sim, nós estamos prontas para começar uma revolução em nome da liberdade e da igualdade”, afirmou ela.

Obviamente, como quase tudo o que ela diz, as palavras ganharam atenção internacional, principalmente por causa deste trecho:

“Sim, eu estou brava. Sim, eu estou indignada. Sim, eu pensei muito sobre explodir a Casa Branca, mas eu sei que isso não vai mudar nada”

De acordo com rumores, após o discurso, o Serviço Secreto norte-americano começou uma investigação. Mas, não, Madonna não vai bombardear nada – pelo menos, não literalmente. Porém, vai continuar, sim, uma mulher única e relevante.

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Leia Mais: 19 vezes que as famosas deixaram o mundo menos machista

Essa não foi a primeira vez que a cantora lutou pelos direitos das minorias e, principalmente, pelo das mulheres! Durante os mais de 30 anos de carreira, além de presentear o mundo com diversas pérolas musicais, ela construiu um legado importantíssimo a favor da liberdade de expressão.

A estrela fez uma verdadeira revolução cultural e colocou em pauta temas polêmicos (e importantíssimos), como masturbação e aborto, quando ninguém teve coragem de fazer. Por incrível que pareça (ou melhor, só mostra como ela sempre foi moderna!), as lições de Madge ainda continuam atuais.

Abaixo, algumas delas.

Se expresse.

A música por si só já é um hino feminista: “Não aceite o segundo lugar, baby. Coloque o seu amor à prova. Se expresse”, dizia o refrão. Quando o clipe estreou, então, em 1989, foi um acontecimento. Dirigido pelo hoje renomado cineasta David Fincher, o vídeo era extremo e apresentava uma Madonna líder de uma espécie de sociedade futurista. Sim, uma mulher no comando! Nos anos 1980! Como se não bastasse, ela ainda gravou cenas acorrentada numa cama e também engatinhando até uma tijela de leite. Claro, o trabalho foi proibido em vários países e ela foi acusada de promover a perversão e o machismo. Nada disso e ela tinha uma boa explicação! “Nenhum homem colocou aquelas correntes em mim, eu mesma fiz isso. Nenhum homem me obrigou a rastejar até o leite, fiz porque eu quis. Degradante é você ser obrigada a fazer algo que não queira. Eu estou no comando”, disse em entrevista na época. Pá!

Não dependa da aprovação de ninguém.

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(Divulgação)
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(Divulgação)

Sim, Marília Gabriela ouviu essa resposta. Essa entrevista, aliás, é cheia de pérolas. Assista aqui.

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Se alguém condena você por alguma atitude o problema é dessa pessoa e não seu.

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(Divulgação)

Promovendo seu trabalho intitulado SEX, lançado em 1992 e até hoje o livro de arte mais vendido do mundo, Madonna precisou ouvir de um repórter [homem] que uma de suas fotos era horrível. Na fotografia em questão, tirada por Steven Meisel, a cantora estava em frente a um espelho simulando masturbar-se. Sua resposta não poderia ter sido melhor. Daqui.

É preciso, sim, discutir o tão “duplo padrão”, quando as mulheres são criticadas em atitudes nas quais os homens recebem aplausos.

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(Divulgação)

Está tudo bem mesmo?

Falar sobre sexo (e fazer!) é da natureza humana.

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(Divulgação)

Criticada pelo alto teor sexual de seu álbum “Erotica”, lançado em 1992, Madonna respondeu em forma de música. Em “Human Nature”, canção presente no CD “Bedtime Stories (1994)”, o recado é bem claro: “Eu não me arrependo. [sexo] É da natureza humana”. Daqui.

Fazer o que quiser não é uma filosofia que se aplica apenas aos jovens.

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(Divulgação)

Ela tem quase 60 anos e continua quebrando paradigmas: ela é mesmo velha demais para se divertir?

Ei, é ok você ser o que quiser.

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(Divulgação)
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(Divulgação)
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(Divulgação)

Chega de rótulos. Chega de sexismo!

A letra dessa canção. <3

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Tenha o comando de sua própria vida.

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(Divulgação)

“Don’t go for second best, baby”. Daqui.

Empodere outras mulheres.

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Eleita, em 2016, Mulher do Ano pela Billboard, ela aproveitou a homenagem para fazer um poderoso discurso a favor das mulheres e contra o sexismo e a misoginia.

Vale a pena ler tudo!

“Estou aqui em frente a vocês como um capacho. Quer dizer, como uma artista feminina. Obrigada por reconhecerem minha habilidade de dar continuidade à minha carreira por 34 anos diante do sexismo e da misoginia gritante e do bullying e abuso constante.

As pessoas estavam morrendo de AIDS em todos os lugares. Não era seguro ser gay, não era legal ser associada à comunidade gay. Era 1979 e Nova York era um lugar muito assustador. No meu primeiro ano [na cidade] eu fiquei sob a mira de uma arma de fogo, fui estuprada num terraço com uma faca na minha garganta e tive meu apartamento invadido e roubado tantas vezes que parei de trancar as portas. Com o passar do tempo, perdi para a AIDS ou para as drogas ou para as armas quase todos os amigos que tinha. Como vocês podem imaginar, todos esses acontecimentos inesperados não apenas me ajudaram a me tornar a mulher ousada que está aqui, mas também me lembraram que sou vulnerável, e que na vida não há segurança verdadeira exceto sua autoconfiança.

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Eu me inspirei, é claro, em Debbie Harry e Chrissie Hynde e Aretha Franklin, mas meu muso verdadeiro era David Bowie. Ele personificava o espírito masculino e feminino e isso me agradava. Ele me fez pensar que não havia regras. Mas eu estava errada. Não há regras se você é um garoto. Há regras se você é uma garota. Se você é uma garota, você tem que jogar o jogo. Você tem permissão para ser bonita, fofa e sexy. Mas não pareça muito esperta. Não aja como você tivesse uma opinião que vá contra o status quo. Você pode ser objetificada pelos homens e pode se vestir como uma prostituta, mas não assuma e se orgulhe da vadia em você. E não, eu repito, não compartilhe suas próprias fantasias sexuais com o mundo. Seja o que homens querem que você seja, e mais importante, seja alguém com quem as mulheres se sintam confortáveis por você estar perto de outros homens. E por fim, não envelheça. Porque envelhecer é um pecado. Você vai ser criticada e humilhada e definitivamente não tocará nas rádios.

Eventualmente fui deixada em paz porque me casei com Sean Penn e estava fora do mercado. Por um tempo eu não fui considerada uma ameaça. Anos depois, divorciada e solteira, fiz meu álbum ‘Erotica’ e meu livro ‘Sex’ foi lançado. Eu me lembro de ser a manchete de cada jornal e revista. Tudo que lia sobre mim era ruim. Eu era chamada de vagabunda e de bruxa. Uma das manchetes me comparava ao demônio. Eu disse ‘Espera aí, o Prince não está correndo por aí usando meia-calça, salto alto, batom e mostrando a bunda?’ Sim, ele estava. Mas ele era um homem. Essa foi a primeira vez que eu realmente entendi que mulheres não têm a mesma liberdade dos homens.

Eu me lembro de desejar ter uma mulher para me apoiar. Camille Paglia, a famosa escritora feminista, disse que eu fiz as mulheres retrocederem ao me objetificar sexualmente. Então eu pensei, ‘Se você é uma feminista, você não tem sexualidade, você a nega’. E eu disse ‘Dane-se. Eu sou um tipo diferente de feminista. Sou uma feminista má’.

Eu acho que a coisa mais controversa que eu já fiz foi ficar aqui. Michael se foi. Tupac se foi. Prince se foi. Whitney se foi. Amy Winehouse se foi. David Bowie se foi. Mas eu continuo aqui. Eu sou uma das sortudas e todo dia eu agradeço por isso. O que eu gostaria de dizer para todas as mulheres que estão aqui hoje é: Mulheres têm sido oprimidas por tanto tempo que elas acreditam no que os homens falam sobre elas. Elas acreditam que elas precisam apoiar um homem. E há alguns homens bons e dignos de serem apoiados, mas não por serem homens, mas porque eles valem a pena. Como mulheres, nós temos que começar a apreciar nosso próprio mérito. Procurem mulheres fortes para que sejam amigas, para que sejam aliadas, para aprender com elas, para as inspirar, apoiar e instruir.

Estou aqui mais porque quero agradecer do que para receber esse prêmio. Agradecer não apenas a todas as mulheres que me amaram e me apoiaram ao longo do caminho; vocês não têm ideia de quanto o apoio de vocês significa. Mas para aqueles que duvidam e para todos que me disseram que eu não poderia, que eu não iria e que eu não deveria, sua resistência me fez mais forte, me fez insistir ainda mais, me fez a lutadora que sou hoje. Me fez a mulher que sou hoje. Então, obrigada.”

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