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Escalada de juros e dívidas: como sair dela

A cada 10 brasileiros, 8 estão devendo. Os números são preocupantes e seguem aumentando, inclusive, entre as famílias mais ricas

Por Paola Carvalho
10 jun 2022, 08h31

Eu sofri por muito tempo com taxas de juros abusivas. Não tive educação financeira, não entendia como as minhas dívidas se multiplicavam. Com ajuda de uma consultoria, saí dessa cilada. E nunca mais usei o cartão de crédito e nem tomei empréstimos. Agora gasto o que tenho em mãos”, diz a empreendedora e doula Juliana Pedrosa.

Quitar contas atrasadas está mais difícil, a renda está cada vez mais comprometida e pensar em solicitar empréstimo ou financiamento se torna um pesadelo, assim como foi para Juliana. Todos esses importantes marcos da vida financeira de uma pessoa são resultado de um ciclo de aperto monetário iniciado em março de 2021, que soma 10 aumentos consecutivos da taxa básica de juros. A Selic está hoje em 12,75%, o maior patamar desde abril de 2017, quando ela estava no piso histórico de 2%. Esse é aquele momento em que o frequente papo na roda de conversas entre economistas chega ao bolso do consumidor.

A cada 10 brasileiros, quase 8 têm dívidas. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer atingiu 77,7% em abril, a maior proporção da série histórica iniciada em janeiro de 2010. “O Banco Central aumenta a Selic para tentar controlar a inflação, ou a alta dos preços.

Ao aumentá-la, os juros de mercado também crescem, tendendo a desacelerar o consumo das famílias e os investimentos. Os juros mais altos acirram ou pioram a inadimplência – a incapacidade do consumidor quitar contas e dívidas – na medida em que o valor da dívida não paga aumenta mais com o passar do tempo”, explica a economista da CNC, Izis Ferreira.

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Hoje, o brasileiro destina R$ 520,60 ao pagamento de dívidas a cada R$ 1 mil. Segundo o Banco Central, o endividamento das famílias com o sistema financeiro fechou o último ano (2021) em 52,6%, recorde após 43,9% em 2020. Do total de famílias com dívidas, 88,8% delas estão comprometidas com o cartão de crédito, maior proporção em 12 anos. Apesar dele oferecer os custos mais elevados, segue como o tipo de dívida mais comum entre os consumidores, o que significa que o endividamento está ocorrendo essencialmente no consumo de curto prazo.

As dívidas crescem entre os mais ricos, também de acordo com a Peic. Na avaliação por faixa de renda da pesquisa, destaca-se o crescimento do endividamento das famílias com ganhos acima de 10 salários mínimos. Em abril passado, o percentual das famílias mais abastadas endividadas foi de 74,5%, o maior já observado na série histórica.

“Os juros e a inflação altos convivem com o desemprego e a queda da renda da maior parte da população brasileira”

Pedro Rossi, professor do Instituto de Economia da Unicamp
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“O endividamento acelerou este ano entre as famílias de renda alta no país principalmente porque há demanda represada pelo consumo de serviços entre essa faixa de renda. Com a flexibilização da pandemia, eles estão voltando a consumir e pagam com cartão de crédito itens como passagens aéreas, reserva em hotéis, restaurantes, salão de beleza e mais. O cartão de crédito é uma modalidade de endividamento, mesmo quando a compra é feita à vista”, explica Izis.

É uma situação fora do controle para muitos. Um levantamento com base nos dados dos 130 milhões de consumidores e empresas inscritos no Cadastro Positivo, realizado pela companhia de inteligência de dados Quod, classificou 42% dos devedores como superendividados. Outros 13% estão no limite do controle, 24% mais próximos de regularizar as suas pendências e 21% “desorganizados”, ou seja, aqueles que entram e saem da inadimplência, com mais despesas em dia do que atrasadas.

“O Brasil vive um momento delicado no qual os juros e a inflação altos convivem com o desemprego e a queda da renda da maior parte da população brasileira. O caminho mais adequado é uma política de combate à inflação que busque ao mesmo tempo preservar o poder de compra da população, especialmente da parcela mais pobre, e estimular o crescimento e a geração de empregos”, pontua o professor do Instituto de Economia da Unicamp, Pedro Rossi.

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Como a previsão é de que os preços continuem subindo, para conter a inflação o mercado aposta na freada da trajetória de alta apenas em agosto, quando a Selic pode atingir 14%. E, com crédito mais caro e mercado de trabalho frágil, a inadimplência deve seguir. Quem pagará a conta dessa escalada e dos impactos de um ano eleitoral é o contribuinte, o cidadão brasileiro, ou seja, você. As pessoas estão perdendo poder de compra ao mesmo tempo em que as suas necessidades se mantêm ou até aumentam, pois está ficando cada vez mais difícil honrar compromissos financeiros. Quando possível, é momento de evitar dívidas.

“Cuidar das finanças pessoais é também cuidar da saúde mental, pois a inadimplência pode causar transtornos psicológicos, familiares, afetando, inclusive, a produtividade do trabalho”

Izis Ferreira, economista da CNC
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