Sociedade

As Donas do Jogo: quem são as mulheres invisíveis por trás do jogo do bicho real

De herdeiras em guerra a amantes polêmicas, conheça as figuras femininas que viveram no centro de um império de apostas dominado por homens

Por Kamille Neris
Atualizado em 18 nov 2025, 18h08 - Publicado em 18 nov 2025, 18h07

Imagens de mulheres envolvidas com o mundo do bicho.

Introdução

O sucesso de séries sobre o Jogo do Bicho joga luz sobre as mulheres por trás dos chefões. De herdeiras em guerra a amantes polêmicas, conheça as figuras femininas que viveram no centro de um império de apostas, disputas familiares e violência no Rio de Janeiro.
Principais Tópicos
- O sucesso de séries como ‘Os Donos do Jogo’ (Netflix), que reascendeu o interesse sobre o universo da contravenção.
- A história das irmãs Shanna e Tamara Garcia, herdeiras do bicheiro Maninho, marcadas por uma intensa disputa familiar pela herança.
- Apesar do sobrenome, quem assumiu o controle dos negócios foram os maridos das herdeiras, Zé Personal e Bernardo Bello.
- O perfil de outras mulheres envolvidas, como Ana Claudia Soares, amante de Maninho, e Julia Lotufo, viúva de miliciano.
- Como a vida real dessas mulheres, permeada por poder, alianças e violência, se confunde e inspira a ficção.
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Resumo gerado por ferramenta de IA treinada pela redação da Editora Abril.

Por trás de séries como Os Donos do Jogo, da Netflix, e Vale o Escrito – A Guerra do Jogo do Bicho (2023), do Globoplay, existem personagens reais que marcaram a história do jogo do bicho no Brasil. Ao lado de figuras como Maninho Garcia, Anísio Abraão David e Carlinhos Cachoeira, também surgem mulheres que apoiaram, influenciaram e, em muitos casos, ajudaram a estruturar uma das maiores redes de apostas do país.

Embora quase sempre retratadas como coadjuvantes, elas desempenham funções decisivas: articulam alianças, administram negócios paralelos, preservam documentos e patrimônios, sustentam laços familiares e mantêm a engrenagem funcionando longe dos holofotes.

Suas histórias, pouco documentadas, revelam a complexidade de um universo que vai muito além dos chefes tradicionais. A seguir, você conhece quem são algumas dessas mulheres e qual foi seu papel na vida real.

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Shanna Garcia e Tamara Harrouche Garcia Lopes

Imagem de Shanna Garcia, uma das gêmeas Garcia, inspiração pra série Os Donos do Jogo. — Shanna em depoimento ao documentário sobre a guerra de sangue carioca (Vale O Escrito/Divulgação)

Para entender quem são, vale voltar ao que as colocou sob os holofotes. Filhas de Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, e netas de Miro Garcia, nomes centrais do jogo do bicho carioca, elas cresceram imersas nesse universo. Mas só ganharam projeção nacional após o assassinato do pai, em 2004.

Desde então, o sobrenome Garcia passou a aparecer ligado a disputas familiares, desconfianças e a uma longa batalha judicial pela herança, avaliada em cerca de R$ 25 milhões.

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Imagem de Mel Maia e Giullia Buscacio, de Os Donos do Jogo. — A dupla ganhou repercussão nas redes sociais por retratar de forma intensa e fiel a rivalidade entre as personagens (@osdonosdojogonetflix/Reprodução)

A semelhança com a ficção é inevitável. Assim como as personagens Suzana (Giullia Buscacio) e Mirna (Mel Maia), de Os Donos do Jogo, Shanna e Tamara também se viram envolvidas em um confronto que misturava família, negócios e um império ameaçado.

No entanto, Heitor Dhalia, o diretor e criador da série, garante que todos os personagens são totalmente fictícios, criados a partir da combinação de características de diferentes nomes do mundo do jogo do bicho.

Maridos no comando

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Embora carregassem o sobrenome, quem realmente assumiu o comando das negociações foram os maridos. Shanna se casou com José Luis de Barros Lopez, conhecido como Zé Personal, que ganhou espaço ao controlar máquinas caça-níqueis em diferentes regiões do Rio.

Tamara se uniu a Bernardo Bello, que começou a carreira como vendedor em shopping e, rapidamente, se consolidou como uma das principais figuras no entorno dos Garcia.

A rivalidade entre as irmãs cresceu ao longo dos anos e se tornou um dos capítulos mais controversos da família. Brigas internas, alianças externas e episódios de violência acabaram moldando a história das duas e reforçando o clima de tensão que sempre acompanhou o clã.

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Hoje, Shanna vive uma vida discreta como empresária e criadora de cavalos no interior de São Paulo, mas já foi uma promissora amazona, com passagem por competições nacionais e internacionais. Ainda na infância e adolescência, integrou o circuito do hipismo, conquistou títulos brasileiros, representou o país no Mundial Mirim, em Tóquio, e chegou a disputar provas ao lado dos principais nomes da modalidade.

Tamara, por outro lado, não costuma aparecer na mídia. Não à toa, preferiu não revelar sua identidade quando deu depoimento ao documentário do Globoplay.

Ana Claudia Soares

A musa fitness, conhecida como “loira“, foi amante de Maninho em 2004, o mesmo ano em que ele foi assassinado. Eles se conheceram em uma academia na Barra da Tijuca e a paixão foi tanta que a fez tatuar o nome do bicheiro no cóccix.

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No Carnaval do mesmo ano, foi apresentada como a mulher oficial do contraventor e se tornou a primeira rainha de bateria do Salgueiro, escola que Maninho era padrinho. Na época, ele era casado com Sabrina Garcia, mãe de seus três filhos: as gêmeas Shanna e Tamara e o já falecido Myrinho.

Imagem de Ana Claudia Soares como rainha de bateria da salgueiro, amante de maninho na época em que sofreu o atentado. — Ana Claudia foi a primeira rainha de bateria da escola de samba Salgueiro (Arquivo Globo / Instagram/Divulgação)

Hoje, com 57 anos, Ana leva uma vida reservada e distante dos holofotes. Também se autodenomina empresária e chef de cozinha, segundo o Extra Globo. No documentário do Globoplay, afirmou que, ao conhecer Maninho, achou que ele tinha “cara de paraíba” e usava “cueca de gay”.

Julia Lotufo

Aos 34 anos, Julia é viúva do miliciano e matador de aluguel Adriano da Nóbrega, morto em 2020. Em julho deste ano, veio à tona seu relacionamento com Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que já foi preso por contrabando de caça-níqueis, peculato, tráfico de influência e formação de quadrilha.

A relação, porém, se complicou quando a ex-mulher dele acionou a Justiça e conseguiu uma medida protetiva contra o casal, alegando ameaças. Andressa Mendonça, com quem Cachoeira viveu por dez anos e teve um filho de 9 anos, está separada desde 2022 e hoje disputa com o ex-marido a partilha de bens e dívidas de pensão alimentícia.

Julia também já foi alvo da Operação Gárgula, acusada de organização criminosa e lavagem de dinheiro, sendo apontada como responsável pelo controle financeiro da quadrilha. Em 2021, tentou firmar um acordo de colaboração premiada, mas o Ministério Público recusou a proposta por considerar que não haveria informações novas a acrescentar.

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