A importância da independência financeira para mulheres na 3ª idade
Elas vivem mais, mas têm autoestima prejudicada por dependência financeira
Não há mais volta: a população está envelhecendo, e discutir os rumos desse fenômeno é mais do que necessário. A expectativa de vida das mulheres é de 80,5 anos, segundo dados do IBGE de 2021. Poderíamos comemorar a longevidade, mas a perda de autonomia para maridos, filhos e familiares conforme o tempo passa nos traz aflições. Tudo porque a falta de independência, inclusive financeira, afeta (e muito) a autoestima desse grupo – sem poder fazer as próprias escolhas, sentem-se incapazes, inúteis e frustradas.
Vamos começar do princípio, o que é autoestima? “É a avaliação que uma pessoa faz de si mesma, incluindo suas habilidades, qualidades, defeitos e valor pessoal. É a capacidade de reconhecer e aceitar seus pontos fortes e fracos”, segundo a psicóloga Rachel Zaine. É nesse lugar que a independência financeira atua: “A independência financeira traz às mulheres liberdade, poder de decisão sobre a própria vida, é o ‘andar com as próprias pernas’, sendo ela a protagonista e responsável por atuar na sua história de vida.”
É sobre construir possibilidades de escolhas futuras – é mais do que pagar as contas atuais ou comprar o que queremos. Graças a essa autonomia, as mulheres podem escolher o rumo de suas vidas, sem terceirizar, por falta de opção, o que desejam. Nada disso, entretanto, vem fácil.
Por que é tão difícil?
“Mulheres historicamente ganham menos e têm menos renda disponível para investir, o que resulta em patrimônios desiguais entre homens e mulheres. Não só isso, mas assumimos entre duas e dez vezes mais o trabalho não remunerado que os homens, como tarefas domésticas e cuidado com as crianças. Tudo isso impacta fortemente a nossa renda”, contextualiza Suzanna Tenório, educadora financeira.
Ela completa: “Além disso, a maioria de nós não foi ensinada a gerir dinheiro, a conhecer o seu funcionamento, a entender os mecanismos de crédito, muito menos a investir. Por tudo isso, ainda temos pouca confiança para lidar com as nossas finanças. O que mais escuto nos meus atendimentos e na conversa com alunas é a palavra medo.”
Nesse ponto, há quem diga que elas possuem menos inteligência para tal, ao que a especialista rebate: “estudos mostram que mulheres investidoras têm retornos melhores do que os homens em suas aplicações e, apesar de metade dos lares brasileiros serem chefiados por mulheres, temos uma falta de confiança generalizada entre elas quando.”
Acrescentamos o fato de que boa parte das mulheres interrompem suas carreiras devido a responsabilidades familiares, como licença maternidade, ou até mesmo dedicação aos primeiros anos dos filhos, entre outros. Isso pode levar a impactos negativos na renda da mulher. Ainda existe desigualdade salarial, em que mulheres ganham menos do que os homens para exercerem trabalhos equivalentes.
O etarismo conta – e muito
“Já existem diversos estudos que comprovam que o etarismo, a discriminação baseada na idade, tem impacto na saúde física e mental das pessoas. Muitas mulheres ao envelhecerem podem não serem vistas como competentes da mesma forma que pessoas do sexo masculino da mesma faixa etária”, analisa a psicóloga de idosos Ana Martins.
A forma como suas competências, capacidades, comprometimento e capacidade de aprendizagem são reconhecidas e valorizadas pode exercer influência direta na forma como se enxergam ou até fazê-las mudar de ambiente de trabalho, por exemplo.
Existe a possibilidade de que a falta de independência tenha impacto mais direto na autoestima de idosos. “Outro fator importante é lembrar que ocorreu um aumento da expectativa de vida, a possibilidade de viver por mais tempo gera a necessidade de refletir sobre a diferença de uma vida longa para uma vida saudável e longa. O que muitas vezes pode envolver planos de saúde mais caros, maior gasto com medicações, necessidade de continuar trabalhando caso não seja possível a aposentadoria ou a mesma não seja suficiente para cobrir os gastos”, continua.
No Brasil é difícil, mas a gente precisa
Sabemos que poupar algum dinheiro é um luxo e pode parecer utópico para boa parte das mulheres brasileiras, então pedimos aqui que você reflita se esse é o seu caso – e, se for, nós admiramos e respeitamos a sua batalha, sabemos que você já faz tudo o que pode, e isso é poderoso!
“Entenda que alcançar a independência financeira é um processo e começa com se educar financeiramente, entender o fluxo do seu dinheiro, como ele entra e como ele sai e ser consciente dos seus hábitos de comportamentos de forma ter um bom controle financeiro. Então, nunca perca de vista a relação entre a sua renda e as suas despesas e dívidas. Saiba definir prioridades e desenvolva mecanismos que te auxiliam a resistir a tentações”, indica Suzanna. Seguindo as regras de ouro de:
– Gastar menos do que se ganha.
– Definir objetivos claros e criar uma perspectiva atraente para o futuro.
– Poupar entre 10 e 20% da sua renda todos os meses e investir esse dinheiro de forma aderente ao seu objetivo e perfil.