Você sabe como está seu colesterol?
Apenas 8% das pessoas prestam atenção nessa gordura, que, fora dos níveis saudáveis, pode levar a infartos e derrames
A mulher na faixa dos 30 aos 50 anos, com múltiplos afazeres, dificilmente imagina que seu colesterol pode estar elevado e em vias de entupir as artérias. Afinal, essa ação gradual é silenciosa, não produz dor ou sintomas. Uma pesquisa da Sociedade Europeia de Aterosclerose, com 12 mil adultos, em 11 países da Europa e no Japão, apurou que 92% ignoravam suas taxas. Também no Brasil, sobretudo entre as mulheres, é grande o desconhecimento e 40% da população tem colesterol elevado. As brasileiras, que aprenderam que infarto é coisa de homem ou algo a observar só após a menopausa, precisam ser alertadas. “Elas correm tanto perigo quanto eles”, diz a cardiologista Olga de Souza, coordenadora do Serviço de Arritmias da Rede D’Or São Luiz, no Rio de Janeiro. “E devem, sim, controlar o colesterol.” Nos últimos anos, ele ficou meio de escanteio, como se representasse menos riscos que pressão alta, diabetes, fumo, obesidade e stress. Estudos recentes reafirmam a ameaça – em especial a da fração ruim, o LDL – e desmontam uma velha convicção: não é verdade que muito HDL, conhecido como o colesterol bom, significa vantagens. Outra novidade é a aprovação de drogas para reduzir os índices de LDL.
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Nem sempre nocivo
O colesterol participa da formação das membranas celulares, da produção de hormônios e da síntese de vitamina D. O fígado fabrica 70% do total; só o restante vem da alimentação. O problema é quando os níveis sobem demais, seja por causa de uma dieta rica em gordura saturada, seja por tendência genética. Então o LDL, considerado o vilão, tende a se depositar nas paredes das artérias, formando placas de gordura capazes de interromper o fluxo de sangue para órgãos vitais, como o coração ou o cérebro. Daí resultam o infarto e o derrame, principais causas de morte em países do Ocidente e também no Brasil. “Se o LDL for mantido nos patamares seguros, caem pela metade os riscos de ocorrer um ataque cardíaco”, afirma o cardiologista Francisco Fonseca, professor da Universidade Federal de São Paulo.
Quanto à fração boa, o HDL, acreditava-se que taxas altas significavam maior proteção às artérias. Para mantê-las, prescreviam-se exercício físico, azeite de oliva e medicação. Porém, um trabalho recente mostrou que mais HDL nem sempre é melhor. “Índices muito altos ou baixos demais também elevam o risco de doenças cardíacas”, explica o cardiologista Marcelo Assad, coordenador do Serviço de Aterosclerose e Prevenção Cardiovascular do Instituto Nacional de Cardiologia no Rio. “O melhor é manter níveis intermediários.”
O foco principal, hoje, é derrubar o LDL. O cuidado começa com dosagens anuais dos níveis dele no sangue. “Como se observa aumento expressivo entre adolescentes – um em cada cinco já apresentam colesterol alto no país –, o exame é recomendado a partir dos 10 anos”, orienta Assad. “Se houver na família histórico de doenças cardiovasculares ou de níveis altos de colesterol, a primeira dosagem deve ser feita aos 2 anos.” O ideal é que o LDL não ultrapasse 100 miligramas por decilitro de sangue. Mas, para quem tem alto risco de infarto, o valor deve ficar abaixo de 70. Não havendo outros fatores de risco, como hipertensão, diabetes e sedentarismo, podem ser admitidos índices até 130.
Confirmado o diagnóstico, ataca-se o problema por meio de correções na dieta (evitando as carnes gordas, pele de frango, leite integral e manteiga, ricos em gordura saturada; além de alimentos industrializados, em geral cheios de gordura trans). “Fazer exercícios também ajuda a controlar o peso e a pressão arterial e ainda melhora a elasticidade das artérias”, diz o cardiologista José Carlos Nicolau, do Instituto do Coração, ligado à Universidade de São Paulo. Quando essas duas ações não são suficientes para alcançar a meta, entram em cena os medicamentos. Por isso, cada caso precisa ser bem avaliado.
Remédios avançados
Quem não tolera fármacos à base de estatinas ou não baixa os índices de LDL com eles agora tem opção. Os recém-aprovados evolocumabe (Repatha), do laboratório Amgen, e o alirocumabe (Praluent), da Sanofi e Regeneron, inibem a PCSK9, enzima que eleva o mau colesterol. “É a primeira inovação desde o advento das estatinas nos anos 1980”, diz o cardiologista José Carlos Nicolau, que participa de testes com os fármacos. Injetáveis por caneta a cada quinzena ou mês, eles promovem quedas de 60% no LDL. O preço é salgado: até 1393 reais a dose de evolocumabe. A do alirocumabe está sendo definida.