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Violência obstétrica: contato pele a pele não pode ser dificultado

Contato entre mãe e bebê no pós-parto traz benefícios, mas não é respeitado em muitos hospitais

Por Lorraine Moreira
23 nov 2022, 08h24

Grávida. Positivo. Dois tracinhos. Basta um desses três estar impresso no teste de farmácia para a mulher vislumbrar seus próximos 9 meses: dores, hormônios desregulados, contrações e muitos, muitos mesmo, sentimentos. O que está fora do programado, mas faz parte da história de grande parte das pessoas, é ter uma experiência traumática no início da maternidade, a chamada violência obstétrica, depois de lidar com práticas hospitalares nem sempre necessárias que interrompem o primeiro contato das mães com seus bebês.

A importância do toque no pós-parto está associada a uma série de benefícios para a mulher, segundo Laís Peccia, mestra pela Faculdade de Saúde Pública da USP, entre eles estão: descarga de ocitocina, contração do útero e, consequentemente, a chance de ter uma hemorragia é reduzida; produção de hormônios que aumentam a autoconfiança materna para amamentar e, por isso, as taxas de aleitamento crescem. Do ponto de vista da criança, há uma regulação da temperatura corporal que diminui a possibilidade de hipotermia; o neném libera menos hormônios de estresse; a mortalidade neonatal é comprimida; há o estímulo do imprinting, fenômeno que faz os filhos reconhecerem suas mães.

Apesar de haver estudos que comprovam os benefícios para as mulheres e bebês e de apenas 10% destes precisarem da interrupção, “a taxa de contato pele a pele fica entre 40% e 60%, mas há hospitais com números menores, chegando a 20%. Em clínicas particulares, a tendência é que a taxa registrada seja ainda menor”, pontua Laís. O protocolo estabelecido é entregar o filho para a mulher assim que ele nasce, exceto se o bebê não conseguir respirar e, por isso, houver necessidade de uma reanimação neonatal. Na sequência, fazer o registro, a marca do pé, dar banho, pesar, medir e vacinar. As duas primeiras avaliações do pediatra também podem acontecer no colo da mãe. “A ideia estabelecida é que primeiro precisamos saber se o bebê está bem para depois entregar para a mulher. Quando o que deveria acontecer é o bebê ir para a mulher, exceto se ele não estiver bem”, completa.

Não permitir o contato entre a criança e a mãe assim que o parto é feito, de acordo com a especialista, enquadra-se como um tipo de violência obstétrica, que, nesse caso, consiste na apropriação do corpo e dos processos reprodutivos das mulheres por profissionais de saúde pela adoção de procedimentos desnecessários. “Desrespeitar o desejo da mulher e reduzi-la a um corpo que vai dar a luz é uma forma de retirar sua condição de sujeito”, afirma a pesquisadora, que completa: “passar o papel de agente principal para o médico, nesse caso, é uma agressão. O parto é da mulher e do bebê e, portanto, ela não deve ser colocada em uma condição de espectadora, em um evento que é conduzido pelo profissional de saúde”.

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“Expor a criança a uma situação desnecessária também é uma forma de violência neonatal, ou seja, aquela que ocorre assim que o nascimento acontece”. A falta do colo da mãe, como explica a especialista, permite que hormônios de estresse sejam produzidos com mais facilidade. Essa problemática é resultado da desumanização da assistência social, da objetificação da mulher e da crescente medicalização.

Houve melhorias?

A procura por partos humanizados impulsionou transformações efetivas, mas o problema está longe de ter sido solucionado, afirma a mestra. “As maternidades viram uma necessidade de atender esse público, que inclusive escolhe pagar por essa assistência diferenciada por ter poder aquisitivo para fazer isso e por entender a importância do momento”.

Na rede pública, há a Rede Cegonha, que pretende não só humanizar o atendimento no parto e no puerpério, mas também assegurar o direito ao nascimento, crescimento e desenvolvimento seguros do neném. Outro projeto vigente no Brasil é o “Mãe Canguru”, que aparece nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), como forma de apresentar melhorias no estado clínico dos bebês e, paralelamente, criar uma relação de afeto.

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Método Canguru

O Método Canguru consiste em uma assistência neonatal, em que o contato pele a pele, precoce e progressivo, entre os pais e filhos, é valorizado, conforme explica a Organização Mundial da Saúde. O objetivo é estimular o cuidado humanizado em UTIs Neonatal, através de estratégias de intervenção biopsicossocial, para atingir a posição canguru precocemente ‒ a mãe coloca o recém-nascido em seu peito.

Ele foi criado na Colômbia, em 1979, a fim de reduzir as taxas de mortalidade do país e, paralelamente, permitir o toque entre os dois participantes, sem que a incubadora fizesse parte do momento. Na época, não se observou sobrevida nas crianças prematuras, mas o aumento do vínculo afetivo e o desenvolvimento do filho foram aparentes. 

No Brasil, o método funciona como uma política pública que oferece benefícios às crianças que estão na UTI. Conforme Peccia explica, “o Mãe Canguru pode ser enquadrado como uma prevenção de danos, gerando menos intercorrências”.

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