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8 novas maneiras de combater a enxaqueca

Mais de 80% dos brasileiros se automedicam guiados por velhas crenças, o que só piora o tormento

Por Cristina Nabuco
Atualizado em 12 dez 2017, 17h10 - Publicado em 23 nov 2017, 14h40

Um batidão rolando dentro da cabeça. O estômago embrulha. A luz e o barulho perturbam. Não há humor que se mantenha alto com um quadro assim. A maioria dos que sofrem com esse drama lida com ele vez ou outra. Mas 10% dos casos evoluem para enxaquecas crônicas, que provocam 15 dias ou mais de mal-estar por mês, com sérios prejuízos para o trabalho e a vida social.

Os cálculos da Organização Mundial da Saúde mostram que 15% da população padece com enxaqueca. Só no Brasil, os atingidos podem chegar a 31 milhões. O desfecho poderia ser diferente com tratamentos para cortar a crise e prevenir episódios. “Não é preciso resignar-se a viver mal”, assegura a neurologista Célia Roesler, do Departamento Científico de Cefaleia da Academia Brasileira de Neurologia e diretora da Sociedade Brasileira de Cefaleia.

Novos estudos escancaram essa dor intensa e incapacitante que prefere o sexo feminino (atinge quatro mulheres para cada homem) e ataca sobretudo a faixa entre 25 e 45 anos. Muitos deles foram apresentados no Congresso Internacional de Cefaleia, em Vancouver, no Canadá, revelando informações que contrariam velhas crenças e podem ajudar a reconhecer o distúrbio antes que ele passe a incomodar quase todo dia.

1. A enxaqueca nem sempre martela só um lado da cabeça

Embora em geral a dor seja unilateral, isso não significa que toda vez pegue o mesmo lado. Pode alternar a cada crise. Atinge as meninges (membranas que revestem o cérebro) e o couro cabeludo, durando de quatro a 72 horas.

A dor lateja – a pessoa tem a impressão de que o coração pulsa no crânio. Sua intensidade varia de moderada a forte e piora com esforço físico. É comum vir acompanhada de náuseas e vômitos, tontura e intolerância à claridade, sons e cheiros.

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Já quando a enxaqueca passa de episódica a crônica, essas características às vezes mudam. “Pode doer a cabeça inteira”, afirma o neurologista Marcelo Ciciarelli, professor universitário e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cefaleia. “Algumas crises são menos intensas e as náuseas nem sempre aparecem.” Essas variações, entremeadas com episódios em que se manifestam os sintomas típicos – diz ele –, podem confundir e atrasar o diagnóstico.

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2. É mais produtivo contar quantos dias a pessoa fica livre da dor

Pela classificação oficial, a enxaqueca (um dos 150 tipos de dor de cabeça) se torna crônica quando a pessoa tem pelo menos 15 dias de dor por mês, por mais de três meses. “Quando se pergunta a um paciente quantos dias a cabeça doeu, ele tende a considerar só os dias em que a sensação foi mais forte, e não aqueles em que esteve presente em grau menor”, explica Célia. “Ao descobrir quantos dias ele não teve dor, o médico consegue traçar um retrato mais fiel de como a dor se comportou.”

Também é útil anotar data, intensidade, sintomas associados, possível desencadeante e uso de medicação para monitorar a doença. Assim, o neurologista pode planejar uma estratégia terapêutica mais eficiente. Existem aplicativos, como o Diário da Cefaleia, para coletar esses detalhes e acompanhar a resposta ao tratamento.

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3. Gatilhos não são tão importantes

Vinho, queijo, chocolate, frituras, molhos, embutidos e café desencadeiam crises. Mas o foco hoje não está neles. Primeiro porque a enxaqueca é uma doença neurológica, hereditária e progressiva. De acordo com Marcelo, ela resulta de alteração no cérebro que estimula o nervo trigêmeo, o maior nervo do crânio, a liberar de maneira acentuada uma proteína (o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina, mais conhecido pela sigla em inglês CGRP) que dilata os vasos sanguíneos e inflama suas paredes. “Altos níveis de CGRP aliados a uma falência no sistema analgésico interno deflagram as crises”, explica ele.

Com o tempo, a pessoa vai ficando tão sensível que começa a responder a vários estímulos. “Às vezes ela para de comer muita coisa e ainda tem dor. Portanto, o problema não está no gatilho, mas na reação individual”, argumenta Célia. Segundo porque o foco no gatilho afasta o doente do médico. “Ao eleger um culpado – o vinho ou o stress –, a pessoa não vê necessidade de ir ao especialista e toma qualquer remédio”, diz Marcelo. Um estudo do neurologista João José Freitas de Carvalho, de Fortaleza, estima em seis anos a demora na busca de auxílio.

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4. Pílula pode ser indicada

Por causa da enxaqueca, muitas mulheres desistem de tomar contraceptivo oral, o que nem sempre se justifica. “Elas tiram o anticoncepcional, arriscando-se a povoar o mundo, e nem assim as dores melhoram”, brinca Célia. Há relação entre as oscilações hormonais do ciclo menstrual e essa dor – razão pela qual as mulheres são as mais atingidas. São comuns as crises na ovulação, durante a menstruação ou antes dela.

Na gravidez, quando os hormônios se estabilizam, a dor de cabeça costuma dar uma trégua. Quem tem enxaqueca pode se adaptar bem a pílulas contendo apenas progesterona ou combinadas de baixa dosagem. Segundo a médica, só é preciso cuidado na indicação se a paciente apresenta enxaqueca precedida de alterações visuais, como a percepção de pontos escuros ou luminosos.

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5. Criança não está imune

Quando o pequeno se queixa de dor, é comum os pais suspeitarem de problema de visão ou que ele está fingindo por não querer ir à escola. Essas interpretações prolongam o sofrimento; as crianças não são levadas ao médico.

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No congresso do Canadá, o neurologista Marco Antonio Arruda, de Ribeirão Preto (SP), apresentou um trabalho sobre a enxaqueca infantil. Ela está relacionada a distúrbios do sono, dificuldades de aprendizagem, ansiedade e depressão. Algumas pistas podem servir de alerta aos pais, como a criança procurar lugar com pouca luz, reclamar do barulho do recreio, evitar brinquedos rotatórios, como o gira-gira, enjoar nas viagens de carro e dormir muito – já que na infância a enxaqueca melhora com o sono.

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6. Analgésico pode ser perigoso

A Academia Brasileira de Neurologia entrevistou 2 318 pessoas pela internet e descobriu que 81% delas usam remédios por conta própria para combater dores de cabeça; 58% os receitam para amigos e familiares. O levantamento foi divulgado em maio. “Recebo pacientes que tomam dez comprimidos por dia. Quando digo para tirar, eles acham que vão morrer”, diz Célia. “Às vezes, preciso internar para desintoxicação. Do contrário, posso adotar o melhor tratamento e a dor não cederá.”

O uso abusivo não é um problema só do Brasil. Esse tema foi abordado pelo neurologista Mário Peres, de São Paulo, durante o congresso internacional. O corpo vai ficando tão dependente que começa a pedir o fármaco, aumentando a frequência e a intensidade da dor – de episódica, ela pode virar crônica. A campanha 3 É Demais, da Sociedade Brasileira de Cefaleia, ajuda a entender que é possível preveni-la ou abortá-la rapidamente. Ela diz: “Mesmo que você tenha uma boa explicação para as suas dores de cabeça, se sente três ou mais vezes por mês e há mais de três meses, procure um médico especialista”.

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7. A toxina botulínica funciona, sim

As aplicações reduzem a frequência da dor e restituem a qualidade do sono em casos crônicos. O neurologista Andrew M. Blumenfeld, diretor do Centro de Dor de Cabeça, na Califórnia, nos Estados Unidos, comprovou que 70% dos pacientes apontaram melhora de mais de 50%; e cerca de 25% tiveram alívio de 75%. Ele estabeleceu um protocolo e o apresentou em junho no encontro anual da Sociedade Americana de Dor de Cabeça. As aplicações da toxina são feitas em 31 pontos da cabeça e do pescoço, em intervalos de três meses, ao longo de um ano. “O objetivo é ‘desligar’ o nervo trigêmeo para evitar a liberação da proteína CGRP, associada às crises”, esclarece Marcelo Ciciarelli. Diferentemente dos fármacos para prevenção, a toxina age apenas no local, sem cair na circulação, e não produz efeitos colaterais (veja, abaixo, o depoimento da nutricionista Larissa Biella Braccialli).

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8. Exercícios físicos fazem bem

Na crise, simples movimentos são intoleráveis. Fora dela, exercícios bem estruturados e supervisionados previnem. Pesquisadores da Universidade Basel, na Suíça, mostraram que treinos, de alta intensidade, como corrida, com intervalos, e exercícios contínuos moderados (a caminhada, por exemplo) podem reduzir a frequência do problema. O primeiro tipo revelou-se mais benéfico. Em um trabalho apresentado durante o congresso internacional, os voluntários treinaram duas vezes por semana ao longo de três meses. Além disso, é preciso ter alimentação equilibrada e nas horas certas (jejum desencadeia dores), horários fixos para dormir e meios de administrar o stress.

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Depoimento Larissa Biella Braccialli, 31 anos, nutricionista, de Itápolis (SP)

“As dores de cabeça apareceram aos 6 anos. Minha família suspeitou de distúrbio da visão. Até que um neurologista diagnosticou enxaqueca e mandou excluir queijo, chocolate e suco de laranja. Fiz isso e melhorou. Com a menstruação, as dores voltaram. No cursinho para o vestibular, tive crises tão intensas que ia parar no pronto-socorro. Em 2004, iniciei o tratamento preventivo. Eram de oito a dez crises fortes por mês. Agora, são duas, no máximo. Tomo antidepressivo (duloxetina) e anticonvulsionante (lamotrigina). Pretendo engravidar e vou parar com esses medicamentos. Por isso, o médico sugeriu a toxina botulínica. De dezembro para cá, fiz quatro aplicações. Senti melhora significativa, mesmo na TPM. Enfrentei um stress enorme com problemas de saúde na família sem ter crises. Se acontecem, a intensidade é menor. Assim que percebo que a dor está vindo, não espero ficar pior. Tomo remédio (sumatriptano com naproxeno sódico) para cortar, deito e logo passa. O cérebro de uma pessoa com enxaqueca acha normal ter dor diante de qualquer contratempo. O tratamento preventivo impede o cérebro de acionar a dor como resposta.”

 

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