Gravidez e zika vírus: com medo e pouca informação, 90% das mulheres querem mais exames
CLAUDIA teve acesso em primeira mão à pesquisa "Mulheres grávidas em face da Síndrome Congênita do Zika" e mostra, aqui, o que angustia e o que falta às brasileiras que esperam por seus bebês
Uma pesquisa inédita, realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com o Data Popular e apoio da ONU Mulheres e da Fundação Ford, ouviu 3.758 mulheres para traçar um panorama entre gravidez e zika vírus. O objetivo era mapear o grau de conhecimento em relação à doença, bem como traçar os hábitos de prevenção e os sentimentos relacionados a esse momento.
O extenso resultado demonstrou a preocupação das gestantes e a insatisfação com a falta de acesso aos exames básicos e orientações sobre prevenção, contágio e futuro de um bebê contagiado pelo vírus. Abaixo, você confere o que destacamos do estudo:
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Má informação
Apesar de mais da metade das entrevistadas citarem os médicos como melhor meio de confirmar informações durante a gravidez, os profissionais de saúde não conseguem subsidiar o conhecimento necessário para que essas mulheres se sintam seguras.
As gestantes relatam que não receberam orientações ou ações específicas sobre o zika e os riscos durante a gravidez. Para elas, as informações são desencontradas e contraditórias, o que só gera mais confusão e angústia. Talvez por isso, apenas 27% das grávidas disseram saber muito sobre o zika, quando foram questionadas sobre o quanto conhecem da doença. E ainda 46% das mulheres com menor escolaridade sabem pouco, nada ou quase nada sobre a doença.
Esse fato é comprovado na pesquisa. Quando questionadas “Até quantos meses de gravidez existe risco de sequelas para o bebê caso a mãe tenha zika?”, 32% das entrevistadas responderam que é até o fim do primeiro trimestre. Entretanto, a Fiocruz já identificou más-formações, como a microcefalia, em filhos de mulheres contaminadas pelo vírus entre a 5ª e a 38ª semana de gestação. Além disso, 21% ainda associam o problema a vacinas e 45% citam outros fatores como causa dos problemas decorrentes da zika.
SUS e rede privada
A insegurança é ainda maior no SUS. 70% das mulheres que fazem o acompanhamento gratuito gostariam de ter feito mais exames de ultrassom. O número é muito superior em relação às pacientes que se tratam no sistema particular (43%). O protocolo técnico do Sistema Único de Saúde prevê apenas um ultrassom obstétrico com doppler – já os demais exames ficam à critério do médico, que poderá solicitá-los ou não.
A principal demanda, entretanto, refere-se ao teste de sorologia. A pesquisa aponta que 90% das grávidas gostariam de fazer o teste de detecção de zika se tivessem acesso.
Elas também relatam a demora nos exames e das deficiências do acolhimento prestado nos hospitais públicos: o atendimento é rápido demais, por isso, recebem pouca atenção e não se nota preocupação em informá-las, tranquilizá-las ou confortá-las.
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Medo
O que prevalece é o sentimento de desamparo. Não apenas nas falhas notificadas em consultas e exames, mas também na perspectiva em caso de necessidade de cuidados especiais para a mãe e seu pequeno.
Some isso a um cenário que já é naturalmente complexo: 46% das gestantes citaram o medo quando questionadas sobre as reações ao descobrir a gravidez, 66% tiveram sensações negativas. Delas, 62% relatou que não estava planejando e 23% revelou o temor de seu filho ter alguma doença.
Os meios de comunicação não ajudam
Embora a internet e a TV sejam citadas como fontes importantes de informação, a maior parte das mulheres acredita que a microcefalia aparece de forma triste e desoladora na mídia, o que só aumenta o sentimento de pena e de medo. Para elas, o conteúdo não mobiliza ou informa sobre como lidar com a doença, apenas assusta.
E MAIS
– 27% das mulheres entendem a mãe que opta por interromper a gestação ao saber que o bebê tem microcefalia. 53% não entendem, 20% não sabem opinar.
– 30% dizem que parariam de amamentar o bebê caso tivessem zika.
– 66% das grávidas citaram uma reação negativa ao descobrirem a gestação. 53% relataram preocupação, 46% medo e 16% desespero.
– 66% discordam da afirmação: “Quem decide se o bebê vai ter microcefalia ou não é Deus, por isso não adianta muito eu me cuidar”.