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Cientistas brasileiros descobrem como o zika age no cérebro de bebês

Segundo os pesquisadores, o estudo pode ajudar no desenvolvimento de medicação para prevenir a microcefalia ou impedir a infecção

Por Colaborou: Maria Clara Serpa
Atualizado em 15 jun 2020, 15h02 - Publicado em 15 jun 2020, 15h02
Os sobreviventes do zika
Amanda com Alice, 3 anos, no colo. Mãe e filha foram afetadas pela epidemia do zika em 2016. A menina não anda e nem fala por causa das sequelas  (Af Rodrigues e Brenda Alcântara/CLAUDIA)
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Um grupo de 30 pesquisadores brasileiros publicou um novo estudo sobre as possíveis causas da microcefalia em bebês cujas mães foram expostas ao vírus da zika. A pesquisa inédita e feita com tecnologia 100% nacional saiu na revista Science na última terça-feira (9) e indica que algumas alterações no DNA, em neurotransmissores e em proteínas podem explicar o porquê de algumas mães que tiveram zika darem à luz bebês com microcefalia.

Segundo os pesquisadores, era muito difícil conseguir amostras de cérebros dos bebês infectados, porque a perda de um filho é um momento muito delicado para a mãe. Assim, era impossível analisar como o vírus atua dentro do cérebro do bebê. “O surto começou em 2015 e só agora temos resultados. Infelizmente, é o tempo que a ciência leva para ter bons resultados. Eu sei que todo mundo quer respostas imediatas, mas tentar acelerar este processo só vai resultar em uma ciência ruim”, explica Helder Nakaya, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (FCF-USP) e um dos autores do estudo, que começou a ser feito em 2016.

Nesse estudo, os pesquisadores analisaram o cérebro de oito bebês que morreram devido às complicações da microcefalia e quatro cérebros de bebês que morreram por outras causas, além de centenas de milhares de genes e proteínas. Na comparação, descobriram no cérebro de bebês com microcefalia colágeno reduzido, glutamato em excesso e mudanças nos genes. O colágeno é a proteína responsável por manter a estrutura dos tecidos – ou seja, a menor quantidade de colágeno poderia explicar a malformação no órgão.

“Em 2016, analisei o cérebro de 10 bebês que morreram em decorrência de complicações da microcefalia, então, este ano, os pesquisadores me chamaram para que eu pudesse confirmar se também tinha observado menor quantidade de colágeno. Isso confirmou a teoria de que a falta da proteína poderia estar relacionada à síndrome congênita”, explicou a médica neuropatologista Leila Chimelli, coautora da pesquisa. Por fim, os cientistas também constataram que o excesso de glutamato, um neurotransmissor, também pode ter papel importante na síndrome congênita do zika.

O primeiro diagnóstico de zika Vírus no Brasil aconteceu em 2015 e até dezembro de 2019 já havia mais de 3,4 mil casos de zika no país, segundo o Ministério da Saúde. De acordo com estudos, a cada mil gestantes com o vírus, de 50 a 420 podem dar à luz bebês com microcefalia. “Conseguimos esse avanço nos estudos brasileiros porque a epidemia principal da doença aconteceu aqui, ou seja, as amostras são daqui, e a ciência do país avançou muito nos últimos anos. Temos uma rede de pesquisadores no Brasil todo, colaborando com médicos e outros profissionais de saúde e com laboratórios equipados e pessoal treinado para realizar pesquisa de ponta. A epidemia serviu para mostrar que podemos fazer uma pesquisa em altíssimo nível. Claro que tudo isso dependeu de anos de investimentos contínuos na ciência”, afirma Helder.

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Segundo o professor, a publicação da pesquisa é um grande passo para conseguir um medicamento que ajude a tratar a síndrome congênita do zika. “Além de nos ajudar a descobrir os genes e vias de sinalização envolvidos, entender os mecanismos moleculares da infecção por zika pode facilitar o desenvolvimento de fármacos que irão prevenir a microcefalia ou impedir a infecção”, diz.

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