Alergia alimentar é coisa séria: a importância da campanha “Põe no rótulo”
A advogada Cecilia Cury reuniu um grupo de mães preocupadas com o perigo da alergia alimentar e exige que os fabricantes deem mais informações nos rótulos
A campanha online Põe no rótulo tem forte presença nas redes sociais e reuniu até celebridades como Mateus Solano, Monica Iozzi e Reynaldo Gianecchini.
O projeto lançado por Cecilia Cury, 34 anos, teve início quando nasceu Rafael, o caçula da advogada paulistana. “Ele chorava muito, mas não era de fome. Durante as mamadas, reclamava e fazia cocô até seis vezes ainda no peito”, explica.
Com auxílio dos médicos, a mãe eliminou quase tudo da dieta: leite, soja, ovo e até algumas frutas, mas nada dava resultados significativos. Um dia, frustrada, Cecilia dividiu o tema com um grupo de mães que se reunia semanalmente e do qual ela fazia parte.
“Ao ouvir a história, uma delas me perguntou: ‘Mas você cuida dos traços’?”, lembra. Até então, ela nunca tinha ouvido falar nos traços, os resíduos misturados durante o processo de produção.
Funciona assim: por mais que um produto não contenha leite ou ovo, se for batido na mesma máquina de outro que tenha os ingredientes ou se passar pela mesma esteira de embalagem, ele pode ser contaminado e prejudicar ou até matar as crianças mais sensíveis.
Com o toque das amigas, Cecilia começou a prestar mais atenção aos rótulos. “Alguns informam traços, enquanto outros não trazem nenhuma informação e obrigam você a ligar para o serviço de atendimento ao consumidor para consegui-la”, conta ela, que passa horas no supermercado para garantir a segurança do filho.
O preço é outro fator que pesa na equação: “Às vezes, não consigo falar com um fabricante e tenho de recorrer ao produto mais caro, mas que discrimina no rótulo ser alergênico”, afirma. Com o tempo, Cecilia virou uma vigilante do tema. Foi estudar, fez doutorado no assunto e fundou com outras mães interessadas a Põe no rótulo. A campanha, cuja página no Facebook já tem mais de 80 mil seguidores, pede que as empresas sejam mais responsáveis na hora de esclarecer os clientes sobre os ingredientes que seus produtos contêm.
As mães têm apoio da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Asbai), que estima que de 6% a 8% das crianças brasileiras sofram de algum tipo de alergia. Em países como Estados Unidos e Chile, já há leis para proteger o consumidor nesse sentido. É por esse motivo que a maioria dos produtos oferecidos por multinacionais no Brasil contém os dados. “Esperamos e torcemos por avanços a favor das pessoas e famílias que sofrem com a alergia”, conclui Cecilia.