Ação mostra quanto sangue é desperdiçado por causa do preconceito
Ainda faz sentido impedir homens gays de doarem sangue?
Você sabia que em pleno 2016 homens que se relacionam com outros homens ainda são impedidos de doar sangue? E você tem ideia de quanto sangue saudável está sendo desperdiçado por causa dessa norma arcaica?
Pensando no fato de que essa realidade é desconhecida para a maioria das pessoas, o movimento All Out colocou nas ruas de São Paulo um caminhão mostrando as centenas de bolsas de sangue que são rejeitadas diariamente no país. A ação é parte de uma campanha global da ONG, chamada #WastedBlood (Sangue Desperdiçado, em tradução livre). Cerca de 50 países ao redor do mundo ainda proíbem homens gays e bissexuais de doarem sangue.
Aqui no Brasil a proibição vem da Portaria 2712, de 12/11/2013, do Ministério da Saúde. Na entrevista realizada antes da doação não há referência a respeito da orientação sexual, mas é solicitada a informação sobre parceiros sexuais. Se um homem declara que teve relações com outro homem nos últimos 12 meses, o candidato é automaticamente dispensado.
Obvio que é possível mentir no formulário, mas vamos combinar? Não é justo que uma pessoa disposta a doar seu tempo e seu sangue tenha que fazê-lo de forma clandestina. Além disso, a existência desse pré-requisito reforça o preconceito e a ideia de que homens que se relacionam entre si são promíscuos. Tá na hora de mudar, né?
Vale lembrar que toda e qualquer bolsa de sangue doado passa pelo mesmo processo de verificação, independente do que diz o formulário do doador. Ou seja: o processo continuaria sendo seguro, a diferença é que ele passaria a ser mais inclusivo. E é assim que deveria ser, já que milhares de pessoas carecem de doações no Brasil.
A campanha em São Paulo foi desenvolvida pela Agência Africa e está sendo feita em parceria com a Truckvan, que disponibilizou o caminhão. A #WastedBlood também colocou no ar uma plataforma virtual, onde homens gays e bissexuais podem entrar numa fila de espera simbólica para se tornarem doadores. Dessa forma dá para se ter uma noção do tamanho do desperdício ao redor do mundo.
Aqui na América Latina, países como México, Argentina e Chile já reformularam suas regras e hoje a orientação sexual não influi em nada na entrevista para doação de sangue. Mesmo assim, até mesmo nações desenvolvidas com Alemanha, Estados Unidos, Dinamarca, França e Holanda continuam rejeitando doações de homens que mantém relações homossexuais.