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90 dias sem compras: o desafio que pode mudar sua vida

A influencer Yasmin Sirino compartilha sua experiência de dar adeus ao consumismo

Por Lorraine Moreira
15 mar 2023, 06h35

Basta algumas rolagens no Instagram, poucas visitas a sites de lojas e muitos malabarismos no cartão de crédito para obter segundos valiosos de paz, graças às bolsas, roupas e joias novas que preenchem todas as suas faltas momentaneamente. Mas e se eu te contasse que isso pode ser uma doença? A oneomania, o transtorno do comprar compulsivo (TCC), atinge cerca de 5% da população, segundo um estudo da revista Comprehensive Psychiatry, e causa danos financeiros e emocionais a quem sofre do problema. A fim de se livrar da questão, uma compradora compulsiva se desafiou a ficar 90 dias sem comprar nada – e ainda publicou nas redes sociais que faria isso. A ideia, é claro, viralizou.

O desafio: 90 dias sem comprar nada

“Eu não conseguia mais ficar um dia sem comprar”, lembra Yasmin Sirino, a influencer que compartilhou a experiência em seu TikTok. Brigas com pessoas próximas e deixar de aproveitar o presente, por sempre estar preocupada com a compra que iria chegar ou um novo desejo que poderia consumar, tornaram-se parte da rotina. “Todos nós temos questões mal resolvidas, e a ansiedade da compra junto à liberação de serotonina do pós-compra faz você esquecer dos seus problemas reais”, explica.

Foi então que pensou em um desafio: 90 dias sem comprar nada que não precisasse. Sem roupas, sapatos e bolsas novas, na busca por aprender a controlar seus gastos. Agora, ela colhe resultados positivos dessa mudança na relação com as compras. “Eu ainda tenho vontade de comprar, mas tenho mais controle e noção. Então estou mais consciente sobre o que quero e preciso, e o que é somente compulsão.”

Uma ferramenta essencial ao longo do processo, conta, foi a terapia. “Sinto que ajuda muito a alinhar os pensamentos e não deixar a jornada tão pesada.” Quando o desafio acabar, ela pretende comprar com mais consciência.

O que é e como reconhecer a oneomania

O consumo compulsivo é um transtorno em que o indivíduo tem dificuldade de comprar de forma moderada, muitas vezes para fugir ou se distrair de problemas, segundo a psicóloga analítico-comportamental Bruna Tozzi. A condição foi descrita pela primeira vez em 1924 pelo psiquiatra alemão Emil Kraepelin, e, embora décadas tenham se passado, ainda há quem acredite que esse hábito seja inofensivo, mesmo que os oniomaníacos tenham problemas na esfera emocional e até mesmo financeira.

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“Eles vão às compras sozinhos, por vergonha de sua impulsividade, e mentem sobre os valores gastos, escondendo até mesmo as sacolas a fim de evitar julgamentos. Uma quantidade de tempo significativa é desperdiçada com o hábito, sendo que muitos reportam a sensação de urgência, euforia e ansiedade, que só são aliviadas com compras. Quando a culpa chega, ela é tão avassaladora que só é amenizada com outra compra, o que reinicia o ciclo.”

Não é a necessidade do objeto em si, mas a da realização do ato de comprar. Isso se relaciona com o mercado de sensibilidade, teorizado pelo filósofo Gilles Lipovetsky. Basicamente, o capitalismo desenvolve uma economia não só baseada em produtos úteis, mas também na sensação que o consumo deles traz, o que explica o motivo das pessoas ficarem felizes por adquirirem algo mesmo antes de terem aquilo em mãos. Quem nunca comprou algo para esconder uma tristeza ou valorizar uma grande conquista, né? Não importa se a razão é boa ou ruim, a compra sempre parece a saída.

Embora pareça algo mais leve do que a toxicodependência, por exemplo, a oneomania também impede o autocontrole. “No momento em que a pessoa sente uma emoção com a qual tem dificuldade de lidar, recorrer às compras para ter alívio, distração ou um prazer funciona momentaneamente, mas assim que esses segundos de alívio, distração e prazer passam, os prejuízos aparecem por meio do sofrimento emocional, com a culpa e a vergonha, e pelos danos financeiros”, indica a profissional. Por isso, trata-se de um modo “disfuncional” de se comportar, à medida que traz diferentes danos.

Em muitos casos, a frase “eu fiz isso, então mereço algo” ou a ideia de autocuidado aparecem. No entanto, “o autocuidado é associado com a capacidade de cuidarmos de nós mesmos, tanto no que se refere ao bem-estar físico, quanto mental. Assim, não depende, em exclusivo, das aquisições que fazemos. Há pessoas que vão às compras todos os dias e continuam com uma baixa autoimagem e baixa autoestima. Há pessoas que vão às compras apenas quando precisam e têm uma boa autoimagem e elevada autoestima. A percepção e a estima que temos de nós próprios, desse modo, dependem mais de fatores intrínsecos do que extrínsecos”, pontua Bruna.

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90 dias sem compras
Será que você também não está fazendo compras pelos motivos errados? (Andrea Piacquadio/Pexels)

Como perceber o consumo compulsivo

Está na dúvida se possui o transtorno? “Se você tem recorrido às compras com frequência, mesmo sem a necessidade de ter aqueles itens, sem conseguir controlar esses impulsos, há um sinal bastante expressivo. Pode haver prejuízo financeiro ou não, dependendo da sua disponibilidade de recursos financeiros. Outro ponto importante é quando pensar sobre os comportamentos de comprar causam sofrimento, consomem muito tempo e interferem significativamente no funcionamento social ou ocupacional do indivíduo”, indica a psicóloga.

O que fazer para lidar com o transtorno? 

O primeiro passo para lutar contra o problema é buscar ajuda profissional, a princípio de um psicólogo e, depois, a de um psiquiatra. Também é importante ter um consultor financeiro e até mesmo fazer um mapeamento do seu histórico, com os prejuízos estimados e quais são realmente as conquistas significativas da sua vida, conforme indicação de Bruna. Entrar no desafio também pode ser um termômetro do quanto você sofre ou não com relação ao consumo.

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