A festa do divórcio
A separação costuma ser vista como sinônimo de tristeza, mas e se não for? Afinal, o fato de ter terminado não significa que não tenha valido a pena
Diante de um vestido lindo, dourado e chiquérrimo, a pergunta:
— Onde eu vou poder usar este vestido, amiga?
Eu arrisquei:
— No casamento de alguém…
E ela:
— Mas quem é que vai casar ainda?!
Quem é que vai casar ainda? Talvez a próxima geração.
Os filhos, os filhos de amigos que farão uma cerimônia grande o suficiente para chamar todas as “tias”. Não sei. E, na verdade, pouco importa. O que a pergunta movimentou em mim foi o desejo de festejar não só os começos, mas também os recomeços. Ritualizar as passagens com vestidos dourados, algum requinte e, sobretudo, convidados.
Respondi: vamos organizar cerimônias de separação?
Não, não há exatamente o que se celebrar numa separação, por isso não chamaria de festa, mas certamente há o que movimentar simbolicamente, logo, cerimônia. Por que estamos tão acostumados a nos reunir em alegrias e nos isolar em tristezas?
Gostaria de chamar as amigas e fazer um “chá de panelas”, seria bem útil depois da divisão dos utensílios do lar, ou o “chá de lingerie”, que também poderia renovar a gaveta das calcinhas, ventilando a promessa de alguma diversão futura.
Poderíamos também fazer uma despedida de casados. Algo como um jantar dançante, onde o casal contaria suas histórias, honraria tantas aventuras juntos e seguiria para a próxima etapa, reconhecidos publicamente como pessoas que celebram o amor vivido.
A cerimônia em si, o ritual de divórcio, seria emocionante. Imagina! O amor que deu certo passaria no telão. Sim, deu certo, mas terminou.
Algum amor tem como não dar certo quando a gente muda a perspectiva ou abandona a ilusão de eternidade? Choraríamos pelo que foi, emocionados e cientes da finitude de tudo, mesmo das coisas mais lindas. Não é assim a vida, afinal?
Sairíamos dali com nossos familiares e amigos desejando boa sorte ao ex-casal. Não precisaríamos chorar sozinhos. Padrinhos e madrinhas garantiriam algum conforto para as emergências da tristeza.
Depois da noite do vestido dourado, arrumaríamos nossas malas. Vamos para a lua de mel da separação! Um destino paradisíaco, camas com pétalas, champanhe, banhos e massagens, entre nós, amigas.
Vamos tirar fotos e fazer um álbum superfaturado com poses cafonas. Vamos garantir o melhor de nós umas para as outras, preparando-nos para a longa jornada do próximo amor, que pode ser, quem sabe, este que acontece aqui e agora.
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