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Ativista brasileira-palestina pede: “Humanize o povo palestino”

Influencer tem mais de 180 mil seguidores no Instagram, onde publica vídeos educativos sobre orientalismo, cultura palestina, islamismo e geopolítica

Por Julia Pelinson e Paola Carvalho
Atualizado em 18 nov 2023, 14h06 - Publicado em 18 nov 2023, 12h50
Hyatt Omar em manifestação pró-Palestina Livre, em Toronto (Canadá) (Divulgação/Divulgação)
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Hoje, para uma pessoa muçulmana ou judia, um simples passeio pode se tornar uma experiência de violência. Em uma quarta-feira, Hyatt Omar sai para almoçar com sua mãe e irmãs em Mississauga, região metropolitana de Toronto (Canadá), onde vivem. Todas seguem o Islamismo, mas apenas a mãe usa o “hijab” (véu e vestimenta feminina muçulmana). Na saída do restaurante, se deparam com um homem que, tremendo, carrega uma chave de fenda e olha com ódio para a mãe de Hyatt. A família, então, imediatamente se desloca – foge – para a loja mais próxima e, em seguida, para o carro, voltando para casa a fim de evitar um problema maior.

Uma violência que só aumenta
O episódio, ocorrido no último mês, acompanha a escalada do conflito Israel x Palestina, junto a uma onda de desinformação e preconceitos, resultando no crescimento da islamofobia e do antissemitismo. Hyatt aponta que “esse não é um conflito religioso. Judeus, muçulmanos e cristãos já viveram em harmonia no mesmo lugar onde, hoje, milhares estão sendo mortos. A causa dessa tragédia é o sionismo, o movimento extremista que rege o Estado de Israel”.

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Hyatt Omar tem mais de 180 mil seguidores no Instagram e é alvo de ameaças nas redes. (Reprodução/Reprodução)

Hyatt Omar é uma jovem brasileira-palestina, de 25 anos, ativista pró-Palestina Livre. Em seu perfil no Instagram (@hyattomar), que tem mais de 180 mil seguidores, publica vídeos educativos sobre orientalismo, cultura palestina, islamismo e geopolítica. Ela também é formada em Psicologia pela York University (Canadá). Diante da guerra travada entre Israel e Hamas, Hyatt faz um apelo à comunidade global pela humanização do povo palestino e pelo fim do massacre na Faixa de Gaza.

Ao acordar na manhã do dia 7 de outubro, Hyatt não conseguia acessar diversos recursos de sua conta no Instagram. Minutos depois, quando soube que o Hamas havia atacado Israel, descobriu que seu perfil estava enfrentando uma série de denúncias na plataforma. Xingada de “terrorista” sem nem saber o que havia acontecido, ela aguardou as próximas notícias. Quando Israel declarou guerra ao Hamas, Hyatt imediatamente ligou para sua avó, que vive em território palestino na Cisjordânia, para saber se ela e a família estavam seguras. O pesadelo segue enquanto Hyatt busca conscientizar as pessoas sobre a situação palestina.

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Um pedido de atenção e compaixão

“Peço que as pessoas abram os olhos para o que está acontecendo na Palestina há 75 anos: a limpeza étnica do nosso povo por meio de um sistema de apartheid imposto por Israel. Um sistema que viola direitos humanos básicos cotidianamente e que, agora, se agrava com um ataque indefensável. Lamento as mortes dos civis israelenses e esperava o mesmo para as mortes de palestinos inocentes. Nas redes sociais, tenho testemunhado a desumanização da comunidade de Gaza, como se a atuação do Hamas justificasse uma punição coletiva e o genocídio dos palestinos”, argumenta Hyatt Omar.

A ativista é filha de palestinos, mas nasceu em Pelotas (RS), onde os pais buscavam melhores oportunidades de trabalho. Apenas uma de seus quatro irmãos nasceu na Palestina. Enquanto na escola ela conhecia a cultura brasileira, em casa nunca faltaram canais árabes na TV, receitas palestinas na cozinha e os ensinamentos islâmicos. Mesmo sendo muçulmana, Hyatt só usa o “hijab” em momentos de oração e para entrar em mesquitas, por escolha própria: “Acreditamos que o uso do hijab é uma ordem de Deus às mulheres, mas o Islã nos dá livre arbítrio para decidir usar. A religião prega que nenhuma mulher deve ser obrigada a fazer algo que não queira e meus pais respeitam muito a minha decisão. Só utilizarei quando me sentir preparada para representar minha fé e ser um símbolo direto da mesma”, explica.

No Instagram, ao compartilhar seu dia a dia em família, trabalho, passeios e estudos e desmistificar os costumes e a religião predominante dos palestinos, mais e mais perguntas surgiam entre seus seguidores. Até que, em 15 de maio 2020, dia em que se relembra o “Nakba” ocorrido em 1948 – expulsão de cerca de 750 mil palestinos de suas terras, onde foi fundado o Estado de Israel com o apoio da Inglaterra, o que gerou uma massa de refugiados e o jugo daqueles que permaneceram às autoridades israelenses –, Hyatt decidiu publicar um vídeo explicando a data e o movimento Palestina Livre, que reivindica a soberania de um Estado Palestino livre e soberano, defendido por personalidades como Nelson Mandela e Malcolm X (a publicação foi deletada em 2022, quando ela esteve na Palestina, para facilitar a passagem pelo controle israelense).

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O vídeo sobre o “Nakba” foi um caminho sem volta: tendo viralizado, ao mesmo tempo em que Hyatt via seu número de seguidores crescer aos milhares, a jovem começava a receber mensagens de ódio e até ameaças contra sua vida. Ela chegou a fazer boletins de ocorrência junto à polícia brasileira, mas decidiu não parar por ali. Ao constatar o desconhecimento dos ocidentais sobre os povos e a história do Oriente Médio, Hyatt intensificou seu trabalho educativo e de denúncia à política de apartheid sob a qual o povo palestino vive, já apontada pela Anistia Internacional e a Human Rights Watch. Na situação atual, a publicação que mais vem gerando engajamento é um vídeo que conta “como é a vida na Palestina sob ocupação”, no qual ela utiliza imagens próprias de sua última visita às cidades dos pais.

“Humanizar os palestinos, e os povos árabes em geral, é parar de normalizar a violência e o sofrimento em suas terras. É entender que a religião islâmica não prega o terrorismo e deixar de enxergar os muçulmanos como radicais e ameaçadores. É não aceitar que crianças sejam presas e interrogadas em tribunais militares sem câmeras. É não ser seletivo quanto à empatia pelos atingidos em uma guerra. É nos ver como iguais. Neste momento, meu apelo é para a humanização dessas pessoas e para um cessar-fogo em Gaza”, afirma a ativista.

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