Um roteiro de Roma muito especial
Roma: Arte, sabor e alegria de viver. Um roteiro de quatro dias montado com anotações de viagem, colecionadas ao longo de anos
Foto: Divulgação
A Cidade Eterna, fundada em 753 a.C., não é chamada assim à toa: soube manter a altivez do império por mais de dois milênios e entrou no século 21 encantando os viajantes do mesmo modo como no tempo em que todos os caminhos levavam a ela. Foi o que aconteceu comigo: uma paixão à primeira vista que foi virando amor eterno.
Quando estou em Roma, me sinto em casa. É claro que ter uma cara-metade de lá explica muita coisa. Mas a cidade é fascinante e faz qualquer pessoa se sentir em casa por várias outras razões. Roma é um museu a céu aberto, é uma aula de história. Roma é cor-de-rosa, ensolarada e se banha de dourado ao pôr do sol.
Em Roma, a alegria de viver é palpável, envolvente, mesmo com um trânsito caótico e barulhento, motoristas estressados gesticulando teatralmente, do jeitinho que a gente vê nos filmes. O romano é um boa-praça, com andar malemolente, um sorriso malandro e desafiador sempre enfeitando o rosto. Adora comer, beber, andar sem rumo, cortejar as mulheres (até se estão acompanhadas!).
As ruas vivem cheias, as mesinhas nas calçadas estão sempre lotadas, os restaurantes fervilham. O comércio fecha na hora do almoço e da sesta porque comer é uma celebração diária a ser feita sentada, lentamente. Quem não consegue voltar para comer em casa cumpre o ritual nas redondezas do trabalho. E, então, pratica aquele que é um verdadeiro esporte nacional: rir dos turistas americanos e japoneses, que comem massa com capuccino. Para o italiano, capuccino é somente de manhã, como desjejum, que a maioria toma na rua, antes de começar o expediente. Junto com a refeição é uma heresia!
A localização do hotel é chave: tem que ser no centro histórico para fazer tudo a pé. Embora o sistema de ônibus seja ótimo, o trânsito é travado. E a rede de metrô, paupérrima, já que o subsolo de Roma é um acervo arqueológico e não dá para cavar os túneis sem que o trabalho seja imediatamente interditado pelo Patrimônio Histórico. Carro? Nem pensar! Não se circula no centro sem uma licença especial, e é mais fácil ganhar na megassena do que achar um lugar para estacionar.
Melhor que seja assim, já que andar em Roma é uma aventura fascinante. Em cada canto, uma surpresa: pode ser uma fachada de prédio coberta de heras com um santo na cornija ou uma igrejinha repleta de preciosidades, escondida atrás de uma velha porta carcomida, ou uma ruína da Roma antiga, caída bem ali junto da calçada, como se fosse normal tropeçar em uma coluna de mármore trabalhado com mais de 2 mil anos.
A Roma milenar convive em harmonia com uma moçada descolada, de cabelo espetado, sempre ao celular; com lojas luxuosas que vendem os últimos lançamentos da moda; com enxames de vespas costurando no trânsito e hordas do charmosíssimo e multicolorido microcarro Smart, só para dois, sob medida para a cidade. Andar também é uma aventura porque não há calçadas e temos que disputar as estreitas vielas com motoristas alucinados, que acham que um centímetro é uma distância enorme quando tiram um fino dos pedestres.