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#TemQueFalar: “Eu tinha 4 anos quando o tio que abusou da minha mãe fez o mesmo comigo”

O homem que abusou de nossa leitora Luana*, de 21 anos, ainda faz novas vítimas

Por Redação CLAUDIA
Atualizado em 11 abr 2024, 18h03 - Publicado em 1 nov 2015, 14h30
Divulgação/CLAUDIA
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Na última semana, as mulheres brasileiras se uniram em torno do tema #PrimeiroAssédio, capitaneado pelo grotesco ataque sofrido por uma participante do MasterChef infantil – ela tem apenas 12 anos. A mobilização levou muitas delas a compartilhar em suas redes sociais casos semelhantes ou ainda mais graves, que deixam seqüelas profundas em suas vítimas. Algumas delas, porém, preferiram guardar suas histórias para si, por medo de ser identificadas por seus agressores. Publicamos a história de uma leitora que, 15 anos após um ataque sexual, ainda tem medo de ser encontrada. Não demorou para que outras mulheres nos procurassem. Em comum, o desejo de dividir seus traumas, medos e culpas. Especialistas apontam que falar sobre eles é uma das maneiras eficientes de superá-los. Por isso, criamos o movimento #temquefalar. Um espaço de cura, que incentiva a troca de experiências e, sobretudo, traz o assunto à tona, para evitar novas vítimas entre crianças e mulheres. Clicando aqui, você lê o depoimento de Mariana, 46 anos, e aqui o de Marcela. 42 anos. Leia agora o depoimento de Luana, 21 anos:

“Tenho 21 anos, sou advogada e moro em Parintins, interior do Amazonas.

Minha mãe sempre soube que meu tio era pedófilo. Ela passou a infância e adolescência sendo abusada sexualmente por ele. Não só ela, mas todas as irmãs, e também, praticamente todas as sobrinhas. Por saber disso, ela chegou a conversar comigo sobre pedofilia, mas eu tinha 4 anos ainda, não entendia essas coisas. Esse meu tio era meu vizinho e tinha uma mercearia e uma filha com quem eu gostava de brincar. Certo dia, fui comprar algo na mercearia e ele me disse que a filha havia ganhado um presente e me falou para ir lá brincar com ela. Entrei na casa e não tinha ninguém lá.

Quando perguntei sobre a minha prima, ele disse que ia chamá-la e me mandou sentar na cama enquanto esperava. Mas, em vez de chamá-la, ele começou a fechar a casa. Ouvi o barulho das portas sendo trancadas e dele voltando para o quarto. Então ele me falou que a filha estava com “uma coisa estranha no corpo” e pediu para ver se eu também tinha isso no meu corpo.

Ele começou a baixar meu short e o medo me paralisou. Não sabia o que ele estava fazendo, mas sabia que era algo muito errado. Ele pegou um cinto e colocou do meu lado. Disse que, se eu contasse aquilo para alguém, ele mataria meus pais. Depois ele tirou minha roupa completamente, meu fez deitar da cama, abriu minhas pernas e começou a passar os dedos na minha vagina. Eu estava tão paralisada e com tanto medo! Queria gritar para alguém me socorrer, mas minha voz simplesmente não saía. Depois ele começou a lamber os dedos que passava em mim. Perdi a noção do tempo em que ele permaneceu fazendo isso, mas me pareceu uma eternidade. Não satisfeito, ele começou a penetrar os dedos em mim e a me lamber. Eu estava tremendo e, do nada, falei que ouvi minha mãe me chamar. Ele dizia que não tinha ouvido nada, mas eu insisti. Ele me lembrou da ameaça que havia feito. Vesti minha roupa e corri para minha casa.

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Não falei nada. Durante muito tempo não dormi direito, tinha pesadelos e acordava chorando todas as manhãs. Mas nunca contei nada por medo de ele cumprir a ameaça. Lembro perfeitamente que em uma dessas manhãs de choro, meu pai me pegou no colo e perguntou o que estava acontecendo e eu tive medo dele, do meu próprio pai.  

Seis anos depois, num período de programação contra o abuso sexual infantil na escola, criei coragem e contei o ocorrido para minha mãe. Pedi que ela nunca contasse a ninguém, pois eu ainda acreditava que ele mataria meus pais. Mas ela contou. Contou para o meu pai e para os meus tios, que, claro, sabiam o monstro que ele era. Pediram a ele que prometesse que nunca mais faria isso e me pedisse perdão, e, em troca, eles não o denunciariam.

Ele me pediu perdão, mas nunca deixou de cometer pedofilia com outras crianças.

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Como consequência disso, tentei suicídio duas vezes, desenvolvi vários distúrbios e me auto flagelei por cerca de doze anos. Eu tinha pesadelos, insônia, medo de homens. Muitas vezes senti medo do meu próprio pai, que nunca deu qualquer sinal de que poderia me machucar de alguma forma. Quando cresci, decidi fazer faculdade de Direito para lutar contra esses monstros. Achava que o crime já havia prescrito e que eu não podia mais fazer nada. Mas, na faculdade, descobri que quando um crime é cometido contra um menor de idade e os responsáveis legais não fazem nada, quando o menor atinge a maioridade, ele poderá denunciar. Eu tinha 17 anos e cheguei em casa feliz, com desejo de fazer justiça. Contei aos meus pais a novidade que tanto me fez feliz, mas eles disseram que seriam contra, que ficariam contra mim. Pedi ajuda a todo mundo que poderia me ajudar a provar a veracidade dos fatos, de pessoas pra quem meu tio confessou que havia realmente abusado de mim, mas todos ficaram contra mim.

Desenvolvi uma mágoa muito grande dos meus pais, me senti abandonada, desprotegida. Senti que as pessoas que mais deveriam me apoiar e lutar pelo meu bem não estava nem aí. Durante muitos anos, evitei falar sobre isso, mas quando eu criei coragem e comecei a contar a minha história, fui vencendo alguns dos meus medos. Mas outros medos insistem em ficar.

Perdi as contas de quantas vezes caí no choro e me escondi no banheiro por imaginar que meu marido pudesse fazer algo comigo à força. Mas ele sabe a minha história e sempre espera paciente que eu me acalme para me dizer eu me ama e nunca vai deixar isso acontecer de novo. E me dói ver que o homem que arruinou a minha infância está à solta, fazendo novas vítimas e, cada vez que eu falo em denunciá-lo, a minha família age como se a errada na história fosse eu.

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Meu tio é membro da igreja e usa a bíblia pra atrair novas vítimas pra perto dele. Mas eu não tenho mais provas que possam levá-lo para a cadeia. Me sinto impotente.”

 

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