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O que a volta do Talibã pode significar para as mulheres do Afeganistão

Direitos conquistados por afegãs nos últimos vinte anos são ameaçados pela ascensão do Talibã

Por Sarah Catherine Seles
Atualizado em 17 ago 2021, 10h49 - Publicado em 16 ago 2021, 20h28
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talibã proíbe que mulheres tenham acesso ao ensino superior no Afeganistão. (Anadolu Agency/Getty Images)
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Neste domingo (15), o grupo extremista Talibã tomou o poder do Afeganistão. 20 anos após a expulsão do grupo pelos Estados Unidos, o medo voltou a ser instaurado na população. Especialistas apontam que as mulheres serão as mais atingidas pelas ações do grupo. 

“Para o Talibã, a mulher só pode estudar até os doze anos, tem que se cobrir toda, não tem direitos e não é reconhecida igual ao homem”, aponta Arlene Clemesha, historiadora e professora de História Árabe na Universidade de São Paulo e atual diretora do Centro de Estudos Árabes da USP.

“A população está muito preocupada com a questão de direitos humanos, direito das mulheres e a volta de um governo extremamente repressivo”, afirma a especialista. E o temor é ainda maior entre as cidadãs afegãs.

mulheres
Mulheres afegãs (|Anadolu Agency/Getty Images)

Poucos dias após a invasão do país, algumas mulheres já relatavam que eram proibidas de frequentar escolas e universidades, além de serem obrigadas a usar burca, veste usada por mulheres muçulmanas e que cobre todo o corpo. Apesar disso, o porta-voz do Talibã, Suhail Shaheen, prometeu que os integrantes respeitarão os direitos das mulheres e da imprensa. 

A afirmação, no entanto, pode ser lida como uma tentativa de acalmar os ânimos e conseguir propor negócios com outros países. Os Estados Unidos e as Nações Unidas já impuseram sanções ao Talibã e a maioria dos países mostra pouco interesse em reconhecer o grupo diplomaticamente. Outros nações, como a China, sinalizam com cautela que podem reconhecer o grupo como regime legítimo.

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Aisha Khurram, ex-embaixadora da Juventude da ONU, relatou que professores da Universidade de Cabul se despediram das alunas no domingo (15). “Alguns professores se despediram de suas alunas quando todos foram evacuados da Universidade de Cabul nesta manhã… e talvez não tenhamos nossa formatura assim como milhares de alunos em todo o país”, escreveu em sua publicação no Twitter.

Algumas pessoas que fugiram das áreas controladas pelos talibãs afirmaram que os integrantes exigiram que as famílias entregassem meninas e mulheres solteiras para serem esposas de seus combatentes. Agressões e retaliações também foram relatadas.

Em entrevista à agência de notícias AFP, Muzhda, de 35 anos, disse que tiraria a própria vida em vez de permitir que o Talibã a obrigasse a casar. Com medo, ela fugiu com suas duas irmãs: “Estou chorando dia e noite”, desabafou.

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mulheres no Afeganistão
O Talibã impõe a obrigatoriedade do uso da burca (David Sacks/Getty Images)

Histórico do conflito

A história do Talibã no Afeganistão começou na década de 1990, quando as mulheres eram proibidas de trabalhar e estudar, tendo que ficar confinadas em casa. Além disso, elas só podiam sair acompanhadas por um parente do sexo masculino e usando, obrigatoriamente, a burca. 

“A situação hoje não é a mesma de 25 anos atrás. Na época, o Talibã era um grupo recentemente formado por combatentes que haviam lutado para expulsar a União Soviética do país, que havia chegado ao poder dentro de uma situação de instabilidade e conflitos”, explica a historiadora.

O grupo tomou o poder prometendo estabilidade, paz e fim da divisão no país. “Mas não foi o que o Afeganistão viu na sequência, já que foram cinco anos de terror para boa parte da população afegã que passou a ver retaliações, vinganças, uma imposição da visão muito restrita do Islã e uma agenda de islamização radical da sociedade, que não era a visão do afegão médio”, conta a professora.

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“Hoje o contexto político é outro, o Talibã está há 20 anos na resistência contra a invasão americana e ocupando porções do país. O grupo passou a se organizar na luta contra os Estados Unidos.” Nos 20 anos fora do poder, o Talibã se organizou e se entranhou nas lideranças rurais do país, por isso conseguiram fazer um avanço muito rápido para retomar o poder.

Desde 2001, o país passou por mudanças e, com isso, a classe média viu o período como oportunidade para trazer progresso, justiça social e direitos humanos. “O elemento em comum com 1996 é o medo em relação à possibilidade de volta de um governo muito repressivo, cruel e vingativo”, explica Arlene.

Violação dos direitos humanos

Segundo a Reuters, Antonio Guterres, Secretário-Geral da ONU, pediu ao Talibã para ter moderação e proteger a vida da população. “Continuam a haver relatos de graves abusos e violações dos direitos humanos nas comunidades mais afetadas pelos combates”, afirmou o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric. 

Ela disse ainda que Guterres “está particularmente preocupado com o futuro das mulheres e meninas e que ‘direitos conquistados devem ser protegidos’”. “Todos os abusos devem parar. Ele apela ao Talibã e a todas as outras partes que garantam que os direitos e liberdades de todas as pessoas sejam respeitados e protegidos”, finalizou Stephane.

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A ativista Malala Yousafzai também demonstrou tensão com a situação das mulheres afegãs. “Estou profundamente preocupada com as mulheres, as minorias e os defensores dos direitos humanos”, afirmou em suas redes sociais.

A jovem entende de perto como o grupo age, já que, quando tinha apenas 15 anos, levou um tiro no rosto de um membro do Talibã no caminho para a escola. Desde então, Malala luta pelos direitos humanos e igualdade de oportunidade para as mulheres.

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O escritório de Rohgul Khaizard, a vice-governadora da província de Nimroz (a primeira a ser tomada pelo grupo após a retirada das tropas norte-americanas), compartilhou uma carta com a emissora NBC, em que expressa preocupação com o futuro das mulheres.

“O Talibã, durante o regime anterior, mostrou que nunca permitiria que mulheres estudassem e trabalhassem. Nós acordamos com milhares de medos, e ficamos assustadas até o amanhecer”, diz o documento. O apelo à comunidade internacional suplica: “Por favor, pare o Talibã. Respeite as mulheres e as meninas”.

 

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