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“Sonho em criar um abrigo para ajudar crianças traumatizadas pela guerra não declarada de nossas periferias”

O paulistano Reinaldo Nascimento batalha para consolidar no Brasil um método que ajuda crianças a superar traumas provocados por tragédias

Por Katia Geiling
Atualizado em 28 out 2016, 09h58 - Publicado em 27 jun 2016, 06h46
Folhapress
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Toda vez que um terremoto, tufão ou outra catástrofe acontece, aumentam as chances de o telefone de Reinaldo Nascimento tocar. Tem sido assim nos últimos quatro anos, desde que o terapeuta social e educador físico passou a atuar como voluntário para ajudar crianças vítimas de tragédias a superar o trauma.

Esse trabalho inovador, batizado como pedagogia de emergência, foi iniciado há dez anos pelo professor alemão Bernd Ruf. Fundamentado na pedagogia Waldorf, o método utiliza recursos muito simples, como aquarelas, desenhos, músicas e brincadeiras de roda. Quando aplicados logo após um fato desestabilizador, eles podem evitar que sintomas de stress pós-traumático (como insônia e apatia) se transformem em distúrbios permanentes. “Sempre me questiono se estou mesmo em condições de partir para uma intervenção, mas, quando as crianças começam a cantar, dançar ou apenas choram para desabafar, meu entusiasmo é enorme. Dias depois do início do trabalho, que leva uns 15 dias, muitos pais contam que os filhos estão dormindo e comendo melhor”, relata Nascimento.

Os pedagogos de emergência não atendem apenas vítimas de desastres naturais; atuam também em regiões de guerra. O paulistano, de 37 anos, acaba de voltar do Equador, que foi arrasado por um terremoto em abril. Ele também ajudou vítimas do sismo nepalês no ano passado e do tufão filipino de 2013, mas foi em Gaza e no Iraque que constatou: males causados pelo homem são mais devastadores. “Quanto mais próximos do que nos prejudica, maior o trauma. Por isso é tão duro trabalhar com crianças que sofreram abuso dentro de casa.”

Nascimento foi criado na favela Monte Azul, na Zona Sul de São Paulo. Teve uma infância boa, adorava bola. “Um dia, minha mãe comprou uma TV pra ver se eu saía um pouco da rua. Tinha medo da violência que crescia no bairro”, conta ele. Não funcionou, mas aos 7 anos ele passou a frequentar a Associação Comunitária Monte Azul, ONG de inspiração Waldorf fundada pela educadora alemã Ute Craemer. Ao terminar o ensino médio, juntou dinheiro e foi para a Alemanha, onde se formou em terapia social. Desde 2008, trabalha no Brasil para a organização Amigos da Arte de Educar de Rudolf Steiner, que coordena as intervenções de pedagogia de emergência. Em 2012, Bernd Ruf o convidou para atuar como voluntário num campo de refugiados no Quênia. Já foram 11 intervenções desde então. “Sonho em criar um abrigo para ajudar crianças traumatizadas pela guerra não declarada de nossas periferias e educadores que lidam com menores em situação de risco. Essas pessoas precisam de apoio.”
 

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