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A vida de Ghislaine Maxwell, acusada de tráfico sexual e abuso de menores

Sócia e amiga de Jeffrey Epstein, ela foi presa pelo FBI depois de quase um ano sem ser localizada

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 14 jul 2020, 15h25 - Publicado em 2 jul 2020, 20h09
 (Mark Mainz/Getty Images)
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“Que boa notícia!”, assim a diretora Lisa Bryant desabafou quando recebeu a informação de que Ghislaine Maxwell foi presa hoje, nos Estados Unidos. Lisa esteve à frente do documentário Jeffrey Epstein: Poder e Perversão, da Netflix, e acompanhou de perto o sofrimento das sobreviventes do esquema criminoso liderado pelo pedófilo americano e a empresária francesa. Na entrevista exclusiva que deu a CLAUDIA no início do mês de junho, Lisa ainda se sentia indignada com a aparente impunidade de Ghislaine, que até então não tinha sido localizada. “Ela era a principal facilitadora dessa pirâmide de abusos”, disse a diretora em junho. “Há uma pressão muito grande dos advogados para responsabilizá-la e julgá-la”, comentou na época. Hoje (2) o clima era outro.

“Estou muito emocionada pelas sobreviventes”, disse ela feliz. “Ela merece ser julgada. Espero e torço que Ghislaine Maxwell seja apenas a primeira dos outros conspiradores ainda livres a ser presa e responsabilizada por suas ações”, comemorou. Assim que foi informada da prisão, Lisa ligou para as sobreviventes. “Elas estavam muito felizes e empolgadas porque foi a coragem delas que fez com que isso acontecesse [a prisão de Ghislaine]”, celebrou. “Tenho tanto orgulho de cada uma delas e das outras que agora poderão ter coragem de falar”, acrescentou. Lisa também comemora que a repercussão mundial sobre o documentário possa ter colaborado para aumentar a pressão no FBI por uma atitude.

O nome de Ghislaine Maxwell ganhou notoriedade mundial por conta de seu relacionamento com o pedófilo milionário, Jeffrey Epstein. Ela foi presa na quinta (2), nos Estados Unidos, depois de meses vivendo em uma cidade com menos de 2 mil habitantes, a pouco mais de 500l quilômetros de Nova York. Isolada e longe das grandes cidades, ela passava despercebida. Ou quase.

“Essa ação contra Ghislaine Maxwell é anterior ao processo contra Jeffrey Epstein”, disse a promotora Audrey Strauss na coletiva após a prisão, se referindo a um depoimento de Ghislaine quando Epstein ainda estava sendo investigado. Agentes do FBI disseram que estavam acompanhando a movimentação da empresária e descobriram recentemente que ela havia se mudado para uma mansão isolada em Bradford, New Hampshire. Ela foi presa perto das 8h30 da manhã (hora local).

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Ghislaine Maxwell é a peça-chave do esquema criminoso liderado por Epstein por mais de 20 anos.  Segundo testemunhas e sobreviventes, era ela que selecionava e aliciava menores para ter relações sexuais com Epstein e amigos do casal. Em mais de uma vez, participou diretamente dos abusos sexuais, mas negava o envolvimento.

Ghislaine Maxwell
(Patrick McMullan/Patrick McMullan/Getty Images)

Eu acredito que “Jeffrey Epstein: Poder e Perversão” tenha renovado a atenção mundial e a indignação sobre esse caso, criando pressão para que o FBI agisse

Lisa Bryant, diretora do documentário

 

Nascida na França, mas criada na Inglaterra, a história pessoal de Ghislaine é marcada por excessos e tragédias. Filha de Robert Maxwell, fundador do grupo Mirror, que inclui o tabloide The Daily Mirror e a revista OK!, entre outras publicações, ela cresceu em meio à nobreza (é amiga pessoal do príncipe Andrew), famosos e políticos poderosos. Ghislaine era a caçula dos nove filhos e sua preferida.  Estudou em Oxford e estava sempre ao lado do pai nas festas.

A morte de Maxwell, em 1991, foi considerada suspeita, mas oficialmente tratada como acidental. O corpo dele foi encontrado nu, boiando no mar, perto de seu iate Lady Ghislaine, que estava ancorado nas Ilhas Canárias. A polícia considerou que ele escorregou e morreu afogado. Ghislaine ficou desconsolada, mas o pior ainda estava por vir. Os filhos foram surpreendidos com dívidas e fraudes financeiras descobertas apenas após a morte de Maxwell. Foi justamente nesse período que Ghislaine teria iniciado seu relacionamento com Jeffrey Epstein e se mudado para Nova York. Ela morava a apenas alguns quarteirões do milionário americano.

Ghislaine Maxwell e Robert Maxwell
Robert Maxwell com Ghislaine, em 1984 (Staff/Mirrorpix/Getty Images)

O que começou como romance passou para amizade e depois, sociedade. Ghislaine apresentava Epstein a pessoas influentes e a jovens mulheres também. Em 2003, num perfil escrito pela revista Vanity Fair,  Epstein declarou que Ghislaine era sua “melhor amiga”.  Os dois eram inseparáveis.

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No documentário da Netflix, as sobreviventes descrevem com detalhes a participação de Ghislaine no esquema criminoso de Epstein. Com a morte dele, em agosto de 2019, a curiosidade sobre o paradeiro dela cresceu, mas ninguém sabia ao certo onde estava Ghislaine até essa quinta (2). Ela é acusada de seis crimes, incluindo aliciamento de menores e perjúrio.

Jeffrey Epstein: Perversão e Poder
(Davidoff Studios/Getty Images)

“Ela encorajava as menores, ganhava a confiança delas e depois as entregava na armadilha que ela e Epstein tinham armado para elas”, descreveu a promotora Audrey Strauss hoje na coletiva. Segundo os depoimentos, parte do golpe começava com ofertas de fundos para as jovens poderem estudar e viajar, como mostra o documentário. Com a presença e apoio de Ghislaine, as sobreviventes acreditavam que o casal estava querendo ajudar e só descobriam a verdade quando não podiam mais escapar.

Virginia Roberts e príncipe Andrew

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Durante as investigações, uma foto tirada por Jeffrey Epstein, no apartamento de Ghislaine em Londres, liga o príncipe Andrew ao esquema de pedofilia e tráfico sexual. Na foto, o príncipe está abraçado a uma jovem de 16 anos e Ghislaine aparece ao fundo, sorrindo. Ele nega ter tido relações com a menor, mas a prisão de Ghislaine pode trazer novos dados à investigação e a promotoria confirmou hoje que vai convocar o príncipe para conversar oficialmente sobre o caso.

O clima de alívio e esperança na coletiva era sentido até pelos agentes do FBI.

“O exemplo dessas mulheres durante a investigação é poderoso”, disse o chefe do FBI em Nova York, William F. Sweeney. “Elas persistiram contra os ricos e influentes e fizeram isso sem um distintivo, sem uma arma ou mandado judicial. Elas apenas se uniram”, ele elogiou.

A promotoria pediu que Ghislaine permaneça presa sem direito à fiança. Nas próximas semanas começam os interrogatórios. Como Lisa Bryant lembrou, há outras pessoas envolvidas que ainda não foram trazidas à Justiça. O primeiro passo foi dado.

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