Professor de Stanford defende que terapia virou passatempo de ricos
De acordo com ele, ter um psicanalista tornou-se "símbolo de status" fora do alcance dos mais necessitados
Keith Humphreys é psiquiatra e professor em Stanford, onde treina a próxima geração de psiquiatras. Ele defende que tais médicos dediquem sua educação, que demanda grandes investimentos nas faculdades de medicina e residência, tratando pessoas com sérios problemas mentais. Mas o que ele vê é um número crescente de psiquiatras optando pelo atendimento privado, em consultas particulares com pessoas que não necessariamente têm um problema mental, enquanto muitas que necessitam estão sem atendimento adeuqado.
“Esses psiquiatras, altamente especializados, deveriam estar cuidando de pessoas problemáticas. Quando não fazem isso, todo mundo que precisa de tratamento sai perdendo”, afirma Humphreys. Segundo ele, no fim da Segunda Guerra Mundial houve um crescimento exponencial no número de profissionais de saúde mental para dar conta dos cuidados dos veteranos. Com o tempo, psiquiatras e psicólogos viram melhores oportunidades financeiras saindo do setor público e indo atuar em consultórios particulares de terapia.
Humphreys diz que, embora tenha havido uma melhora nas políticas de saúde dos Estados Unidos, o atendimento à saúde mental continua defasado. A cobertura para tratamentos de saúde mental ou hospitalizações é escassa ou quase inexistente. Com um sistema de saúde que você precisa pagar pelos benefícios, como ocorre nos Estados Unidos, “os ricos vão sempre sair ganhando”, diz o professor.
Como clínicas de saúde mental não precisam fazer parte do sistema de saúde pública, torna-se cada vez mais difícil para pessoas com poucas condições financeiras encontrar um terapeuta acessível. “A pessoa que está precisando pode ser suicida, pode ser viciada em remédios ou ter um filho com sinais de transtorno bipolar, mas não encontra nenhuma clínica que aceite tratá-la. Isso é injusto”.