Pela primeira vez, Flip conta com maioria de mulheres nas mesas
A curadora Joselia Aguiar conta o que a motivou a deixar o evento literário mais diverso. Mulheres e pessoas negras têm maior participação nesta edição
Até o próximo dia 30, Paraty (RJ) recebe 46 palestrantes na 15ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Com curadoria da jornalista baiana Joselia Aguiar, o evento pela primeira vez conta com um número de mulheres maior que o de homens (24 ante 22) nas mesas de discussão.
Negros também têm espaço – no ano passado, não havia nenhum; neste, são 30% dos convidados. Não por acaso, o homenageado é o escritor Lima Barreto (1881-1922), que viveu marginalizado no Rio de Janeiro do século passado.
CLAUDIA: Qual a sua marca na curadoria?
Joselia Aguiar: Quis incluir outras artes. Na abertura, tivemos uma encenação dirigida por Felipe Hirsch. Com texto da historiadora Lilia Schwarcz, Lázaro Ramos interpretando Lima Barreto, nosso homenageado. Esta é a primeira vez que houve algo do tipo. Também haverá intervenções poéticas curtas que usam tecnologia e artistas que fazem sons com o próprio corpo.
CLAUDIA: Você é a segunda mulher curadora (a primeira foi Ruth Lanna, há 11 anos). Qual a importância disso?
Joselia Aguiar: É outro ponto de vista. Tendo a incluir mais mulheres na programação. Existem muitos projetos culturais tocados por nós pouco conhecidos e que merecem espaço.
CLAUDIA: Um dos destaques da edição é a diversidade. Como escolheu os participantes?
Joselia Aguiar: Torço para que, um dia, a diversidade deixe de ser notícia e se torne normalidade. Busquei autores que nunca tinham vindo ao evento, como Scholastique Mukasonga, de Ruanda; Sjon, da Islândia; Marlon James, da Jamaica. Trataremos de questões sociais e raciais indiretamente durante toda a programação, unindo afinidades pela literatura, mas, em alguns momentos, em mesas específicas, a discussão será mais direta.
CLAUDIA: Por que a escolha por Lima Barreto?
Joselia Aguiar: Apesar de ter vivido no início do século 20, ele é atual. Usava a autoficção (literatura inspirada na vida pessoal), recurso comum hoje, e tem um olhar antropológico, que discute a sociedade, e reflexões ainda válidas.
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