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Páginas da Vida: “Minhas filhas foram geradas em barriga de aluguel na Índia”

Por sete anos, Teté Ribeiro fez tratamentos para engravidar. Após resultados negativos, recorreu a uma clínica indiana que contratou a dona de casa Vanita para dar à luz às suas gêmeas. A paulistana de 45 anos conta a história no livro "Minhas Duas Meninas"

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 out 2016, 06h54 - Publicado em 27 set 2016, 07h05
Paulo Saborido
Paulo Saborido (/)
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“Sempre quis ser mãe, mas aos 30 anos tinha acabado de me casar com o Sérgio (Dávila, jornalista) e estávamos de mudança para Nova York. Como a viagem era um sonho antigo, resolvemos aproveitar ao máximo o momento. Dali, fomos para a Califórnia e, depois, para Washington. Em 2006, enfim, começamos a tentar. Aos 35 anos, engravidei. Foram dias fazendo planos de como seria a vida com um bebê. Mas, no segundo exame, o embrião tinha sumido. Foi um aborto espontâneo e suave, porém marcaria o início de um processo doloroso para nós. Não consegui engravidar outra vez. Consultei médicos, fiz uma estimulação de ovulação. Eu achava que, depois de anos de anticoncepcional, meu corpo estava tendo dificuldade para se adaptar à falta dos hormônios. Não se falava tanto nessa questão de a idade ser um fator determinante para a fertilidade e nunca imaginei que justamente eu fosse ter esse problema. 

Durante minha juventude, a luta era para barrar esse instinto do meu organismo. Eu pensava: ‘Se eu esquecer a pílula um dia, engravido’. O baque foi entender que esse acontecimento tão natural para um casal não ia se desenrolar sem a intervenção de um médico. Ficamos na dúvida se devíamos investigar qual de nós tinha problema. Não dava para culpar o outro, porque, no fundo, sabíamos que todas as decisões que haviam nos levado até ali tinham sido conjuntas. O erro foi nenhum dos dois ter levantado a bandeira: ‘O tempo está passando’. O casamento ficou desgastado, tivemos períodos de muita tristeza e raiva. Fora isso, é uma crise solitária. Ninguém quer ouvir essa história quando há outras muito mais interessantes.

Depois de sete anos e muitas injeções de hormônios, fertilizações e inseminações, desisti. Sérgio queria seguir tentando. Eu não podia nem ouvir falar em hormônios. Foram 84 meses me sentindo como se tivesse sido atropelada: primeiro pelos remédios, depois pelos exames negativos. Tive ataques de agressividade que não combinavam comigo, cansei de mim mesma. Olhava para trás e pensava: ‘Podia ter feito outra faculdade e uma pós-graduação nesse meio-tempo. Teria uma nova profissão, mas, em vez disso, me formei em frustração’. 
Como muitos médicos me confirmaram que seria difícil engravidar, demos entrada no processo de adoção. Nesse meio-tempo, alguns acontecimentos mudaram o rumo de nossa vida. Já tinha ouvido falar de barriga de aluguel nos Estados Unidos, pois o processo é legal em alguns estados americanos. No Brasil, só é permitido entre familiares e desde que não exista recompensa financeira. Meu ginecologista levantou a questão e contou que na Índia era possível conseguir uma mulher para gerar meu filho por um preço dez vezes menor que nos Estados Unidos. Na mesma época, uma colega de trabalho, numa visita à Índia, foi a uma clínica médica conhecer o processo mais a fundo. Quando ela me contou os detalhes, mandei um e-mail pedindo mais informações. Fui para lá algum tempo depois e, junto com o Sérgio, passei por uma reunião com um advogado. Há um processo burocrático antes de qualquer troca de material biológico. Pagamos 25 mil dólares para que nossos embriões fossem implantados em Vanita, uma indiana que ganhou 8 mil dólares para pagar a educação do próprio filho, então com 5 anos. Ela ficou hospedada em uma casa onde recebia alimentação saudável e acompanhamento médico. 

De longe, por exames em outra língua, eu observava a evolução do meu bebê. Aos três meses de gestação, descobri que teria gêmeos – mas só fui saber que eram meninas no nascimento, já que é proibido revelar o sexo da criança em ultrassons na Índia, uma tentativa de reduzir o aborto de meninas por lá. Rita e Cecilia nasceram em novembro de 2013, aos 8 meses de gestação, três dias antes da minha chegada a Anand (a mais de 400 quilômetros de Mumbai). Comemorei muito porque, pela primeira vez em anos, não me sentia um fracasso. Eu tinha uma história com final feliz. Saí de nenhum bebê para dois – que abundância! Se soubesse antes que daria tão certo, teria optado pela barriga de aluguel em vez de passar sete anos no purgatório da quase gravidez. Trouxe-as para casa com 1 mês de vida, mas demorou a cair a ficha da maternidade. Ainda mantenho contato com Vanita e, aos poucos, vamos mostrando para as meninas que a história delas não é convencional.”

Divulgação
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Livro Minhas Duas Meninas, Companhia das Letras, R$39,90*

* Preço referente a setembro de 2016, sujeito a alterações

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