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Mulçumanas usando ‘burkini’ estão sendo retiradas das praias na França

"Eu criei o burkini para dar liberdade às mulheres, não para tirá-la", disse Aheda Zanetti, criadora do traje de banho feito especialmente para mulheres que não podem mostrar os corpos em locais públicos devido crenças e religião.

Por Letícia Paiva
Atualizado em 12 abr 2024, 14h53 - Publicado em 24 ago 2016, 17h37
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Em represália aos recentes ataques terroristas na Europa, algumas cidades francesas proibiram o uso do traje de banho conhecido como burkini– peça que cobre o corpo e a cabeça e é usada por mulheres islâmicas para ir à praia. Uma delas é Nice, palco do atentado terrorista, durante comemoração pública no Dia da Bastilha, que resultou na morte de 86 pessoas. Com isso, as mulheres mulçumanas vêm sendo repreendidas pelas autoridades ao irem à praia com o burkini, tanto pelos franceses quanto por abordagens policiais.

As autoridades de Nice estão barrando “roupas que manifestam abertamente a adesão a uma religião em uma época em que a França e lugares de culto são alvos de ataques terroristas”, discurso semelhante que outras cidades, como Cannes, têm usado para determinar a proibição. Desde o seu início, em julho, na cidade de Cannes foram abordadas dez mulheres com a roupa: seis deixaram a praia e quatro pagaram multa à polícia.

Esta semana, a imprensa europeia circulou imagens em que uma mulher é abordada por policiais franceses em praia próxima a Cannes. Ela trajava leggings, túnica e um lenço cobrindo a cabeça. A agência de notícias francesa AFP afirmou que sua ocorrência alegava que ela não vestia “roupa que respeitasse a boa moral e o secularismo. A mulher, identificada como Siam, contou ao The Guardian que não tinha a intenção de nadar. Uma testemunha disse que pessoas na praia gritavam “volte para casa” e aplaudiam a ação da polícia, enquanto sua filha chorava.

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O vice-prefeito de Nice, Christian Estrosi, afirmou em carta destinada ao primeiro-ministro francês, Manuel Valls, que “esconder a face ou ir à praia usando roupas que cobrem todo o corpo para ir à praia não está de acordo com nossa ideia de relações sociais”. O primeiro-ministro francês disse que o burkini “não é compatível com os valores franceses”, mas se recusou a aprovar uma lei nacional proibindo o traje.

Um dos argumentos mais usados pelos defensores da proibição é o de que o burkini “se baseia na subjugação feminina”, como dito pelo primeiro-ministro Valls. Por isso, as mulheres deveriam ser proibidas de poder usar o traje, criado em 2004 por Aheda Zanetti. De acordo com ela, o burkini foi criado para que as meninas islâmicas pudessem praticar esportes,o que era difícil com o hijab (um tipo de véu usada pelas religiosas): “Eu criei o burkini para dar liberdade às mulheres, não para tirá-la”, escreveu, em artigo no jornal The Guardian.

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A França tem um legislação dura no que se refere a símbolos religiosos. Servidores públicos não podem usar nenhum item que faça referência a sua crença. Em 2004, todos os símbolos religiosos em escolas públicas foram banidos. O antigo presidente Nicolas Sarkozy proibiu, em 2011, o uso do niqab (tipo de véu que cobre todo o rosto) em espaços públicos. Em 2012, o ministro da educação lançou memorando recomendando que mães usando hijab deveriam ser retiradas de participar de atividades externas das escolas.

Parece que  “Liberdade”, valor da Revolução Francesa tão valorizado pelos franceses, nãoé levado tão a sério quando o assunto é religião.

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