Modelo sobre agressões do ex-marido: “Ele me mandava rastejar”
Jessica Aronis era espancada e humilhada psicologicamente como punição, quando o agressor julgava que não havia limpado o chão ou feito a comida adequada
A modelo e empresária Jessica Aronis, 28, pesava pelo menos 60kg. Entretanto, após passar por um árduo relacionamento abusivo de seis anos que quase a matou, ela chegou a pesar 49kg. A anorexia nervosa foi um dos efeitos colaterais do ocorrido, isso após conviver e lidar com um homem não só violento fisicamente (tapas no rosto, socos, chutes…), mas também com violência psicológica. Jessica era chamada de burra, ignorante, muitas vezes precisava ajoelhar para pedir desculpas. O motivo? Não limpar direito o chão, ou fazer uma comida diferente da que ele queria.
Em um dos áudios adquiridos pelo blog do Paulo Sampaio, enviado por pessoas próximas à Jessica, seu companheiro dizia o seguinte: “Como você é ignorante, como você é burra. Qual é o ponto que eu coloco pra você? Eu coloco o meu ponto pra você. Vamos trabalhar? Vamos trabalhar direito. Se é pra limpar o chão, limpa o chão direito. Se é pra fazer comida, faça comida direito. Se é pra limpar lá fora, limpe lá fora direito. Não é direito de qualquer jeito. É direito. A melhor forma de limpar lá fora qual é? Então você limpa quão melhor que a empregada? Se você for fazer comida, então você faz a comida melhor, mais caprichosa que tiver. Se for limpar o chão, você limpa o chão direito. Se for pra começar a fazer dieta porque eu pedi pra você ontem, não compra amandita. Se for pra fazer qualquer merda, faça essa merda direito. E não seja uma puta de uma preguiçosa que quer fazer de qualquer jeito porque tá com pressa, porque a pressa é inimiga da perfeição. Se você é esse tipo, vai pra puta que o pariu. Você entendeu? Eu quero você longe de mim. Eu não quero que você pise aqui. Eu não quero tacar uma garrafa só na sua cabeça, eu quero tacar uma pedra na sua cara. Cê entendeu qual é o meu ponto? Se você mente ainda, se você… Se eu digo pra você…Vamos começar a nos alimentar direito? E você traz uma amandita pra casa, eu pergunto pra você se foi você que comprou, em vez de você falar assim: ‘Foi, fui eu que comprei… eu sou uma idiota, foi mal, num fiz o que você pediu”, e você mente, eu não tenho que tacar só a garrafa não, eu tenho que tacar a cama na sua cabeça, tenho que tacar o abajur na sua cara, entendeu ou não entendeu? Se você quer que eu mude, então muda. Você sabe o meu ponto e eu sei o seu ponto”.
Uma das agressões era jogar um copo com água no rosto de Jessica, por achar que ela não estava prestando atenção na conversa. Nesses momentos, ela dizia que sofria de dislexia. A partir daí, o agressor só conversava com ela segurando um copo na mão. Jessica conta que até seus cachorros dela viviam apavorados, dizendo que o agressor os prendia no chuveiro, e um dia chegou a agredir um dos bichos.
Certa vez, cismou que a casa estava suja por causa das patas dos bichinhos, e obrigou-a a limpar o chão com água sanitária. Porém, estava muito tarde e não havia nenhum local aberto. “Eu entrei em uma padaria 24 horas e implorei para que eles me cedessem um pouco, alegando que meu irmão tinha bebido demais e vomitou a casa toda”, conta Jessica, em entrevista ao blog. Quando ela voltou, ele nem se lembrava mais e estava dormindo.
Na semana passada, seis meses depois de sair de casa, Jessica tomou coragem para postar em seu perfil no Instagram vários relatos sobre os abusos e agressões que sofreu. Ela diz que não quer se vingar, mas sim alertar outras mulheres. Mesmo quando perguntada, Jessica não declara o nome do ex-marido, em parte porque está movendo um processo contra ele que corre em segredo, e porque alega que seu objetivo não é expô-lo.
Antes das agressões físicas surgirem, o ex-marido de Jessica havia abusado psicologicamente dela. “Eu estava extremamente apaixonada, o protegia com unhas e dentes. Uma noite, em uma balada, ele me deu um tapa no rosto na frente de uma porção de gente. Algumas pessoas tentaram me defender, uma amiga dele me puxou em um canto e disse: ‘Jessica, você nunca mais vai permitir que ele faça isso com você!’ Mas eu não ouvia, estava completamente dominada. A submissão se deu aos poucos; quando vi, eu era empregada, motorista, e ainda assim ele dizia que nem para dirigir eu servia.”
Ninguém na família dela sabia de nada. Jessica não contou, não só por medo do marido descobrir, como também porque passou a achar que o que ele fazia era normal. “Eu não entendia porque minhas amigas choravam quando eu contava o que eu estava vivendo. Era um desabafo, claro, mas não achava que fosse pra tanto.” A mãe dela, Patrícia, conta que “percebia que alguma coisa estava muito errada”.
A situação começou a ficar cada vez pior: Jessica passou a ter crises nervosas, gritava, batia com o punho fechado na própria cabeça. Entrava na Internet em busca de histórias parecidas. “Enquanto ele dormia ao meu lado, eu ficava no celular pesquisando sobre violência doméstica. Percebi que era exatamente o que eu estava passando”. Foi então que ela resolveu conversar com uma prima que é advogada criminalista. A prima a forçou a procurar uma terapeuta. Algumas sessões depois, a terapeuta disse que não daria conta da situação, e a orientou a buscar uma especialista.
Jessica acabou consultando uma psiquiatra, que foi taxativa: “Ela disse que eu tinha de sair de casa.” Depois de mais humilhações e agressões, a psiquiatra convocou os pais de Jessica para participar de uma consulta. “Minha mãe já sabia mais ou menos o que estava acontecendo, mas meu pai, não. À medida que ouvia a história, ele se mexia na cadeira, sem acreditar, imagina.” Naquele dia, a médica bateu o martelo. “Ou a Jessica sai de casa por livre e espontânea vontade, ou vocês tiram ela de lá até sexta-feira (dois dias depois), porque senão ele vai matá-la.”
Na mesma tarde, Jessica ainda foi ao trabalho, no comércio que o casal dividia. Ele falou que queria conversar sobre o dinheiro que os dois deviam ao pai dela. “Disse: ‘Ou a gente paga, ou mata ele’.” Jéssica reagiu: “Não fala assim!” Ele retrucou: “Que foi, vai defender o papaizinho? Você não sabe o que é uma metáfora, sua burra!” Quando percebeu que ela não queria mais discutir, ele se enfureceu: ‘Tá se achando né? Tá pensando que criou asinhas!”‘ Acuada, ela pediu para conversar. “Ele mandou que eu ajoelhasse. Eu não ajoelhei, como tinha feito outras vezes. Ele disse que então conversaríamos em casa e, depois, mudou de ideia: ‘Quer saber de uma coisa? Você não vai voltar pra casa! Pronto! E f*da-se!”
No outro dia, depois que ele saiu para trabalhar, Jessica foi com a polícia buscar seus pertences no apartamento do casal. Foi para a casa da prima advogada, entregou seu celular para ela e sumiu das redes. “Eu estava dilacerada, destruída, meus cabelos caíam aos tufos, as lembranças eram as piores. Eu me preocupava com ele, me sentia ligada aquilo tudo. É como uma droga, você sabe que aquilo tá fazendo mal, que pode te matar, mas não consegue se livrar.”
Jessica já havia saído de casa outras vezes, mas dessa vez nunca mais voltou. Afinal, a família já sabia de tudo, e havia apoio psicológico e médico, para o caso de ela ter uma recaída. “Eu tinha crises de pânico, de depressão, mas consegui me livrar. Agora, estou aqui contando a história para você, com a sincera intenção de ajudar o maior número de vítimas possível.”
A modelo não divulga o nome do ex-marido, mas todas as pessoas que fazem parte do círculo de amizades dela afirmaram ao blog que se trata do ator João Gabriel Vasconcellos, 32 anos, cuja estreia no cinema foi no filme “Do Começo ao Fim”, de Aluizio Abranches, no qual vivia uma paixão incestuosa com o irmão, interpretado por Rafael Cardoso — que está na novela “Espelho da Vida”, atual trama das 18hs da TV Globo. João Gabriel também participou de “Chiquititas”, do SBT, e da série “O Negócio”, na HBO.
O outro lado
O blog entrou em contato com o ator João Gabriel Vasconcellos. O ator negou as acusações de agressão: “Isso tudo é mentira, tanto que não tem nenhum exame de corpo de delito, nenhuma testemunha. Há questões mais profundas na separação, havia um acordo financeiro que eu não quis arcar, valores estabelecidos pela família dela.”
De acordo com com ele, ele vinha tentando terminar o relacionamento havia um ano, sem sucesso: “Ela me implorava para ficar, etc etc, eu acabava cedendo. Até o dia em que a peguei me gravando, e disse que não queria mais.” Mais tarde, por WhatsApp, ele acrescentou: “Tudo isso é muito triste, o fim de um casamento é sempre doloroso. Nunca houve agressão física da minha parte. Estou em contato com meus advogados, os quais estão avaliando as medidas judiciais cabíveis, referentes às imputações injuriosas e difamatórias, pois essas acusações são sérias, inverídicas e agora precisarão ser provadas”.
Esse é o corpo de Jessica após terminar o relacionamento.