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Marta é melhor que Neymar, Feliciano, Bolsonaro e MC Biel

Uma carta à maior artilheira do mundo: Marta, quando você faz gol e cerra os dentes, as mulheres criam fôlego novo e reagem a tudo que as oprime

Por Patrícia Zaidan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 18 jun 2019, 18h14 - Publicado em 5 ago 2016, 17h36
Ronald Martinez/Getty Images
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Ô Marta, não fique brava com a torcida que gritou, no Engenhão, um tributo. “Ah- ah-ah, a Marta é melhor que o Neymar”. Você é mesmo muito melhor que ele. Aceite o reconhecimento. Não se trata de mera comparação. O Brasil te homenageia, goleadora. E no jogo contra a China (3×0), na quarta (3/8), o que se viu foi um público paparicando, amando se derramando a seus pés.

Por que as mulheres não aprenderam a ser gratificadas? Por que pesa tanto ser boa e estar acima? Aproveite! Você não é apenas a detentora de cinco troféus de melhor do mundo. Virou referência para as jogadoras do interiorzão do país, que vivem na miséria e esquecidas pela CBF, pelos patrocinadores e cartolas. Como o time de São Francisco do Conde, a 70 quilômetros de Salvador, que produziu uma craque – Elaine Baiana, jogadora da Suécia – e atraiu, por sua invencibilidade, jornalistas alemães que colocaram o elenco na capa da revista Countdown, da Fifa, em 2006. Recentemente, ainda jogavam ali duas empregadas domésticas, duas balconistas, uma babá, uma operária de fábrica de doce. Pouca coisa mudou também nos grandes times da primeira divisão, do Rio e de São Paulo: as jogadoras continuam dormindo em beliches nas casas apertadas alugadas para acomodá-las.

Você, como Formiga, Cristiane, Mônica e Andressa, correm como um Pokemon alado, um alento para todas as brasileiras que não jogam futebol. Vencem no gramado para que outras mulheres e meninas derrotem adversários nas suas lutas particulares. Aceita, Marta, a vibração da torcida em seu nome. Sua história é símbolo, afirmação, lembrança permanente de que não estamos jogando à toa. Mesmo quando perdemos, suamos para virar o jogo bruto.

Veja só, artilheira:

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A lei Maria da Penha faz 10 anos neste 7 de agosto. Trata-se de uma das três melhores leis do mundo para combater a violência doméstica. É uma vitória, mas não a conquista do campeonato. O Brasil é o quinto país em matança de mulheres. Aqui, em 10 anos, a carnificina de negras cresceu 54%. O lugar onde as mulheres são imoladas é a casa. Os algozes, os homens que elas amam ou amaram um dia. 

É por isso que a cearense Maria da Penha, que dá nome à lei, percorre de cadeiras de rodas o país inteiro encorajando mulheres a denunciar os agressores. Ela fez isso quando tomou um tiro nas costas, dado pelo marido que havia tentado matá-la uma outra vez. Para Maria da Penha e para outras ativistas, a presença da Marta no mundo masculino do futebol tem um efeito empoderador.

Ainda estamos perdendo de 7×1 para os machistas, Marta.

Nesta semana veio à público o episódio que envolve uma universitária contra um dos deputados mais inflados do Congresso Nacional: o pastor Feliciano. Segundo a estudante de 22 anos, da Juventude do PSC (o mesmo partido do pastor-parlamentar), ele teria cometido assédio, agressão (soco na boca) e tentativa de estupro. Pregador da moral, homem que condena gays e ganha votos defendendo a família intocável e o fim do adultério, ele queria que a moça fosse sua amante. Inconformado com a recusa, mostrou força. Se está certa uma versão que correu na imprensa, essa estudante, ao ser procurada por assessores do pastor com uma pressão para que se calasse, enviou um recado: “Se vale um conselho, manda o Feliciano aquietar o pintinho dele.” Boa! Podia valer como um gol, Marta. Mas logo a universitária gravou um vídeo amenizando a biografia de garanhão.

Saiba por que você deve continuar mostrando os dentes em campo, Marta, dando passes incríveis, colando a bola no fundo da rede: Feliciano tem muitos colegas da Câmara. Bolsonaro, por exemplo, que fala em estuprar colegas de plenário e bate continência para torturadores e ícones da ditadura militar.

Tem também cantor, como o MC Biel, 20 anos (tão jovem e tão autoritário), que, nos dias de hoje, se considera o rei do passe livre para assediar e constranger. Durante uma entrevista, ele disse a uma repórter que a “quebraria no meio” e que ela era “gostosinha”. As outras pessoas no local riram da jornalista. Um boletim foi registrado na delegacia contra esse cara que já manifestou nas redes sociais sua homofobia e seu racismo. MC Biel acabou sendo desconvidado para aparecer nas Olimpíadas e perdeu contratos de shows. Vai ter, como o pastor, que aquietar o seu pintinho mimado.

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Ah- ah-ah, Marta, você é melhor que Neymar.
Ah- ah-ah, Marta, você é melhor que Feliciano, Bolsonaro, MC Biel e todos os machistas do país, juntos.

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