Caso Marielle: testemunha relaciona vereador carioca e miliciano ao crime
Informações sobre o depoimento foram obtidas com exclusividade pelo jornal O Globo
Segundo informações obtidas com exclusividade pelo jornal O Globo, uma testemunha afirmou que o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o ex-policial militar Orlando Oliveira de Araújo queriam a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL).
De acordo com o depoimento, relata O Globo, a motivação do crime foi o avanço das políticas comunitárias de Marielle em áreas que interessam a milícia na Zona Oeste. Disse ainda que participou de reuniões e que as conversas entre Orlando e Siciliano teriam começado em junho de 2017.
A testemunha em questão diz que foi forçada a trabalhar para Orlando e deu detalhes de como a execução foi planejada:
“Eu estava numa mesa, a uma distância de pouco mais de um metro dos dois. Eles estavam sentados numa mesa ao lado. O vereador falou alto: “Tem que ver a situação da Marielle. A mulher está me atrapalhando”. Em seguida, bateu forte com a mão na mesa e gritou: “Marielle, piranha [sic] do Freixo”. Depois, se dirigiu ao ex-PM, disse: ‘Precisamos resolver isso logo'”, afirmou o depoente, segundo O Globo.
A mesma reportagem ainda cita que a testemunha deu três depoimentos à Divisão de Homicídios. Nas conversas, compartilhou informações sobre datas e reuniões entre Siciliano e Orlando. Também apontou nomes de quatro homens escolhidos para o assassinato, que agora serão investigados pela polícia.
Ainda segundo a publicação, a testemunha contou que, um mês antes do atentado contra Marielle, o ex-PM deu a ordem para o crime de dentro da cela de Bangu 9, no Complexo Pentenciário de Gericinó, onde está preso.
Primeiro, mandou que clonassem um carro, o Cobalt prata. Depois, um homem identificado como Thiago Macaco foi encarregado de fazer o levantamento dos hábitos da vereadora e todos os trajetos que Marielle usava ao sair da Câmara de Vereadores.
O depoimento menciona ainda que o ex-PM é “dono” da comunidade Vila Sapê, em Curicica, também na Zona Oeste. Ele travaria uma guerra com os traficantes da Cidade de Deus. Segundo o relato, a vereadora passou a apoiar os moradores da Cidade de Deus e então comprou briga com Orlando e Siciliano.
Procurado pelo O Globo, o vereador disse que a acusação é mentirosa e que não conhece o PM em questão, que foi condenado e preso por chefiar uma milícia. Siciliano prestou depoimento à Divisão de Homicídios sobre o assassinato de Marielle, no início de abril, na condição de testemunha.
Outro crime
Assessor de Siciliano, o líder comunitário Carlos Alexandre Pereira Maria, de 37 anos, foi assassinado a tiros e encontrado dentro de um carro no bairro da Taquara (Zona Oeste do Rio), depois que o vereador foi chamado a prestar depoimento.
De acordo com relatos de testemunhas aos PMs do 18º BPM, um dos assassinos gritou: “Chega para lá que a gente tem que calar a boca dele”. Depois, abriu fogo. Isso era por volta das 20h45 de domingo (8). Na época do crime, no início de abril, a assessoria de Siciliano informou que Alexandre trabalhava acompanhando os moradores de localidades da Zona Oeste, onde era líder comunitário. Em seu perfil no Facebook, a vítima dizia ser “assessor parlamentar” de Siciliano e informava que havia começado no cargo no último dia 3 de abril.
Ele levantava as necessidades dos cidadãos e as repassava para o parlamentar. Ele também postava fotos do que chamava de “fiscalização” em obras feitas a pedido do vereador. A assessoria do parlamentar, entretanto, garantiu ao Jornal Extra que Alexandre era apenas colaborador.