Mais uma mulher morre na Argentina após ser estuprada e empalada
Mulher não resistiu aos ferimentos e somou-se às vítimas do feminicídio. O crime motiva nova onda de protestos sob o mote #NiUmaMenos
Na madrugada do sábado (17), uma mulher moribunda, machucada e suja de sangue, pedia ajuda nas margens de uma estrada na província de Missiones, no nordeste da Argentina. Foi encontrada por um morador da região, que acionou a polícia local. A argentina Irma Ferreyra da Rocha, 47 anos, mãe de sete filhos, havia sido vítima de um ataque sexual e agonizava quando foi levada ao hospital. Encontrada com as calças abaixadas, tinha um ramo de árvore enfiado no ânus – um empalamento, portanto. Após passar por três cirurgias, teve uma parada cárdio-respiratória no domingo (18) e não resistiu.
Revoltadas com mais uma vítima fatal do machismo, mulheres da Argentina estão se mobilizando em protesto ao crime. O grupo Ni Uma Menos (Nenhuma a menos, em tradução livre) tem feito manifestações há dois anos contra o feminicídio no país, onde uma mulher morre a cada 30 horas por violência do parceiro ou de outro homem da família. Elas pressionam o governo a assumir leis para coibir esse tipo de crime.
No ano passado, morreram 235 por feminicídio, sendo que pelo menos 20% delas haviam feito denúncias contra o agressor, de acordo com levantamento da Justiça argentina. Esse número pode ser ainda maior, já que não são contabilizadas transexuais mortas quando não houve formalização da mudança de gênero ou assassinatos em que o agressor comete suicídio após o crime.
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O suspeito de autoria do mais recente crime é conhecido como El Porteño, tem 27 anos e mantinha um relacionamento com Ferreyra da Rocha há alguns meses, quando chegou da capital argentina, Buenos Aires. A vítima foi vista pela última vez em uma festa e a agressão ocorreu em um túnel. Sua irmã Mabel Rocha contou ao jornal local sobre seus últimos momentos com vida: “Tinha sangue no rosto, todo machucado. Eu lhe disse ‘irmã, eu te amo, tenha força’. Ela me disse ‘não aguento mais“.
O Ni Uma Menos convoca novas manifestações, como as que ocorreram em outubro, quando milhares de mulheres fizeram greves e saíram às ruas vestidas de preto contra o feminicídio e em represália à morte de uma jovem em Mar del Plata – ela havia sido estuprada e empalada, assim como Ferreyra da Rocha.
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“Não basta estuprar, não basta matar. É castigar, ir mais longe, aplicar às vítimas o terror do agressor com uma violência que não se destina apenas a matar, mas também a aterrorizar”, diz texto lançado pelas integrantes do grupo feminista. Elas colocam o Estado argentino contra a parede ao dizer que ele “é responsável por cada uma das mortes por violência machista”, pois “seu silêncio e sua inoperância o tornam cúmplice e legitimador das práticas mais cruéis e feminicidas”.
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