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Inspiração: a história da professora que iniciou uma carreira em tecnologia após se aposentar

Depois que parou de dar aulas, Sônia Bertocchi recomeçou e virou expert em produção e gestão de ambientes virtuais de aprendizagem.

Por Liliane Oraggio (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 04h05 - Publicado em 25 ago 2014, 22h00
Depoimento a Liliane Oraggio
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Inspiração: a história da professora que iniciou uma carreira em tecnologia após se aposentar

Aos 63 anos, Sônia Bertocchi tem a agenda lotada de trabalho para os próximos três anos.
Foto: Julia Rodrigues

 

Para Sônia Bertocchi, o grande salto da sua carreira ocorreu em 1996, quando ela ganhou de Dia das Mães um modem. O presente despertou na professora o interesse pelo mundo digital e a vontade (que, não muito tempo adiante, seria concretizada) de ter o próprio site. No entanto, logo veio a aposentadoria e, com ela, o início de outra carreira. Sônia se tornou referência em produção e gestão de ambientes virtuais de aprendizagem – e, aos 63 anos, tem a agenda lotada. Segundo ela, a vida agitada gra��as à internet mantém o bom humor e ainda ajuda a superar a perda de pessoas próximas e a arejar o casamento de 43 anos.

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Veja a reportagem na íntegra

“Ser uma pessoa multifocada – ou seja, ter diferentes interesses e se manter ligada nas novidades – ajuda a continuar descobrindo outros caminhos para si mesma a vida toda. Comecei a dar aulas de língua portuguesa e literatura em 1970. Na época, a atuação do professor era muito restrita: não saíamos da sala de aula e só podíamos seguir o bê-á-bá das cartilhas. Sempre fui curiosa. Então era difícil me contentar apenas com isso. Para compensar, eu costumava inventar desafios para mim e acrescentava outras atividades à principal, de ensinar em escolas públicas e particulares da Grande São Paulo. Nos anos 1990, por exemplo, descobri que alguns sebos europeus alugavam livros a seus frequentadores, não só vendiam. Fiquei tão encantada que resolvi abrir algo semelhante em São Caetano do Sul, onde morava. Deu certo e chamou a atenção de muita gente – tanto que fui convidada para ser diretora de cultura da prefeitura de lá. No cargo, aprendi a elaborar projetos e fazê-los acontecer do zero, o que foi ótimo para minha bagagem profissional. Mas minha grande guinada na carreira começou a ser gestada no Dia das Mães de 1996, quando meus três filhos me deram um modem. Que presente! Com ele, era possível acessar da sala de casa a internet, ainda discada, no computador grandão com tela preta e letras verdes que eu tinha. Na primeira noite, nem dormi: fiquei navegando, maravilhada com o universo que se abria para mim.

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Não demorou para surgir o desejo de ter meu site, mas eu sabia que não podia pagar por isso. Decidi pedir ajuda ao namorado nerd da minha filha adolescente e ele me ensinou a programar em HTML, código básico para criar páginas online. Hoje, domino esse conhecimento, o que me possibilita entender quase tudo de programação e afins. Foi aí que consegui estrear meu site, o Hipertexto Educação Online, pioneiro no uso da tecnologia para aprendizagem, que ficou no ar por sete anos. Naquele tempo, computadores eram pouco usados nas escolas e fui uma das primeiras a assumi-los como instrumento de ensino. Se hoje ainda há resistência, dá para imaginar quanto enfrentei naquela época.

Fim de uma carreira, começo de outra

Ainda cheia de pique, me aposentei em 2002, aos 51 anos. Foi um baque. A rotina que havia seguido durante 32 anos de repente não existia mais. Eu me achava inútil. Meus filhos estavam formados, mas não estava pronta para ficar de pijama em casa, como mandava o figurino da minha geração. Foi um momento de profunda tristeza. Quando pensava em voltar ao mercado, me perguntava: ‘Quem vai querer trabalhar com uma velha?’ Era assim que me sentia. A salvação veio da minha filha Daniela, jornalista. Ela participava da criação do Educarede, portal de educação da Fundação Telefônica, e buscava profissionais para produzir conteúdo. Passei por uma avaliação e comecei a escrever para o site e a mediar fóruns online. Um acerto! Foi assim que dei início a outra carreira.

Virei referência em produção e gestão de ambientes virtuais de aprendizagem. Tenho a agenda lotada pelos próximos três anos. Uma das minhas atividades favoritas é viajar pelo país dando consultoria, palestras e oficinas para educadores sobre o uso pedagógico das tecnologias da informação e da comunicação (TIC). Nas minhas andanças, já encarei muito preconceito. Afinal, não é comum uma mulher da minha idade – hoje 63 anos – ter domínio sobre esses assuntos. Rebato com humor dizendo que qualquer um pode ampliar seu campo de atuação. Eu consegui, e depois da aposentadoria. Construí uma vida autônoma agitada. Nenhum dia é igual ao outro.

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Uma nova vida

Meu processo de reinvenção total incluiu uma mudança de casa. Eu me mudei para uma chácara em Indaiatuba, cidade pacata a 100 quilômetros da capital. A primeira providência que tomei não foi achar uma manicure, mas um excelente técnico de informática que me garantisse conexão via rádio, para que eu pudesse estar online o tempo todo. Transformei a lavanderia em escritório, embora hoje, com a rede wi-fi, eu possa trabalhar de todos os cantos da casa com um laptop. Às vezes, se necessário, vou a São Paulo, mas muitos dos meus clientes e parceiros entendem que é possível tocar projetos à distância.

Acho incrível a simultaneidade que a internet nos proporciona. Enquanto faço o macarrão ao pesto com manjericão colhido no meu quintal, alimento meu blog, Lousa Digital – com 800 visitas diárias, no mínimo -, mando mensagens para meus quase 5 mil seguidores no Twitter e posto o que vejo de melhor no Facebook, onde tenho 2,6 mil amigos. Ainda posso discutir no Skype um artigo que está sendo escrito a quatro mãos com o professor parceiro de outra cidade. Recentemente, também estreei um blog no portal de informação Brasil Post.

Gosto de pensar que, na minha vida, tudo está interligado e, por isso, nunca me sinto perdida ou desanimada. O dinamismo que adquiri lidando com a internet me ajudou a superar a perda de pessoas próximas e ainda areja meu casamento, de 43 anos, com o Rubens. Não é só: nem cheguei a ter sintomas da menopausa e enfrentei um câncer de pele me cuidando sem fazer drama. Minha nova carreira tecnológica afasta o tédio e mantém meu humor. Também reforça a relação com meus filhos e me faz compreender melhor a realidade em que vive a minha neta, de 10 anos. Aliás, minha família é a principal equipe de consultores que tenho. Além da jornalista, tenho uma filha advogada e um filho engenheiro, como o pai. Trocamos cotidianamente ideias sobre projetos interessantes e, assim, ajudamos uns aos outros. Costumo também compartilhar minhas dúvidas e meus dilemas com amigos bem mais jovens nas redes sociais. A discussão é sempre boa. De um lado, eles têm pique e raciocínio rápido. Por outro, eu conto com paciência e feeling apurado pela experiência para avaliar cada ponto, cada palavra.

Penso em diminuir um pouco o ritmo das viagens. Mas quero me manter sempre plugada e ativa, sem esquecer de reservar um tempo para curtir um cinema no meio da semana com meu marido. Sei que vivo no melhor dos mundos, mas me mexi para estar nele. Meu atual sonho de consumo é um Google Glass, os óculos que mantêm seu dono conectado. E me imagino em uma casa totalmente informatizada, como nos filmes de ficção científica. Com esse meu jeito, uma coisa é certa: a monotonia nunca vai me pegar.”

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