Como o ar-condicionado afeta a produtividade das mulheres
Estudo sugere que existe uma correlação entre temperaturas mais baixas e um menor desempenho feminino nas atividades
Em um espaço de trabalho, uma cena é bastante comum quando o ar-condicionado está ligado: em geral, as mulheres estão mais agasalhadas que os homens. Isso acontece porque a taxa metabólica feminina é menor do que a masculina, fazendo com que as mulheres sintam mais frio – e isso afeta a produtividade delas.
A norma NR17 do Ministério do Trabalho brasileiro determina que a temperatura ambiente em locais onde são exigidas “atividade intelectual e atenção constantes” – como escritórios, salas de controle, laboratórios, etc – fique entre 20ºC e 23ºC. Já a Secretaria de Saúde e Segurança Ocupacional dos Estados Unidos recomenda que o termostato seja mantido entre 20ºC e 24,5ºC.
Essas temperaturas, no entanto, foram escolhidas baseando-se em um modelo de conforto térmico desenvolvido na década de 1960, com origem na taxa metabólica de um homem médio. Essa taxa masculina é maior que a taxa metabólica feminina em até 35% e, por isso, elas sentem mais frio que os homens.
A questão é que todo esse padrão imposto para a temperatura do ar-condicionado pode estar afetado a produtividade, principalmente das mulheres, segundo um estudo recente da Universidade do Sul da Califórnia e do Centro de Ciências Sociais de Berlim WZB.
Temperaturas mais altas auxiliam a produtividade feminina
Um estudo feito com mais de 500 estudantes em Berlim estabeleceu uma correlação entre o aumento da temperatura dos escritórios e uma maior produtividade para as mulheres enquanto a produtividade masculina não obteve uma significativa diminuição.
Segundo a pesquisa, as mulheres desempenharam melhor tarefas matemáticas e verbais quando a temperatura estava mais alta, enquanto os homens não apresentaram desempenho melhor com o termostato mais baixo.
Dessa forma, parece que a relação entre a temperatura e a produtividade masculina é menos pronunciada do que a feminina.
“Foram realizados muitos estudos mostrando que as mulheres, geralmente, preferem temperaturas mais altas do que os homens nos ambientes internos, mas ninguém havia medido a relação entre essas diferenças e o rendimento no trabalho”, diz à BBC a economista Agne Kajackaite, especialista em economia comportamental, pesquisadora do Centro de Ciências Sociais de Berlim WZB e uma das autoras do estudo.
“Nossa pesquisa demonstrou que a briga pela temperatura não é só uma questão de conforto”, completou. O estudo, então, indica que o gênero é um fator importante para determinar o impacto da temperatura no conforto, assim como na produtividade e no rendimento cognitivo.
Como a pesquisa foi feita?
Os estudantes que participaram da pesquisa fizeram diferentes testes em temperaturas que variavam de 16ºC a 32ºC. Em cada sessão, eles completavam três tarefas diferentes de escrita e matemática, com um limite de tempo.
Os resultados mostraram uma correlação significativa entre a temperatura do ambiente e o desempenho dos participantes nas provas.
“Os homens foram mais produtivos em baixas temparaturas. E as mulheres tiveram um desempenho significativamente melhor em temperaturas mais altas, enquanto os homens só foram um pouco pior”, afirma Kajackaite.
“O fato de o estudo ter recebido tanta atenção mostra claramente que há uma briga pela temperatura e há uma necessidade de discussão e ajustes”, explica ela, que assinou em conjunto com Tom Chang, professor da Universidade do Sul da Califórnia.
Então, qual é a temperatura ideal?
Para aumentar a produtividade em locais de trabalho que são compartilhados por homens e mulheres, os pesquisadores sugerem que as temperaturas sejam mais altas do que a recomendação atual.
“Os gestores deveriam começar a prestar mais atenção à temperatura do escritório. Devem escutar o que dizem seus funcionários e levá-los a sério, já que isso tem um efeito significativo na produtividade”, opina Kajackaite.
Leia também: ‘Síndrome de burnout’ entra na lista oficial de doenças da OMS
+ Mulheres são 3 vezes mais propensas a crises de enxaqueca, diz estudo
Siga CLAUDIA no Youtube