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Coluna da Mônica Martelli: “Não dá para viver sem expectativas”

A atriz Mônica Martelli fala sobre a importância de dosar o limite entre as promessas e a vida real

Por Mônica Martelli (colaboradora)
Atualizado em 22 out 2016, 19h24 - Publicado em 10 jul 2016, 07h00
Igor Zahir
Igor Zahir (/)
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Criar expectativas é ruim e quase sempre leva a decepções e sofrimento desnecessário. Por exemplo: um animal dorme tranquilo na caverna até que acorda e dá de cara com um leão. Ele se assusta, claro, mas só naquele momento, quando a adrenalina será útil para se defender. Agora, imagine se esse fosse um bicho cheio de ansiedade. Ele estaria lá na caverna (sem dormir) pensando: “O leão vai aparecer, ele vai me pegar! Ai, meu Deus!” Viu como é um drama em vão? E vai que, no final, o leão é legal e nada acontece.

Se pararmos para pensar, a fantasia que criamos na cabeça nunca corresponde à realidade. Todo mundo já trabalhou além da hora ou levou tarefas para casa esperando ser reconhecido, mas não ganhou nem um tapinha nas costas. Para mim, porém, os casos mais graves desse tipo ocorrem nos relacionamentos. Inventamos uma ideia do outro e, quando ele não corresponde àquela figura totalmente fantasiosa, nos decepcionamos. Coitado, não deve nem ter entendido o que aconteceu.

Eu acabei de sair de uma relação em que isso era muito comum. Vivia desejando que ele reagisse de um jeito x, e ele fazia y. Com certeza, acontecia o mesmo com ele. Fiz tudo que podia: amei, me entreguei, me desdobrei para ficarmos juntos, mas esqueci a parte mais importante, que era enxergá-lo como a pessoa que ele verdadeiramente era. A paixão cega, o que pode ser perigoso.

Depois que me separei, resolvi viajar com minha filha, Julia, 6 anos. Fomos para Caraíva, no sul da Bahia, e eu disse a ela que seria uma experiência incrível, libertadora. “Lá não tem carro, o táxi é uma carroça e a gente chega na cidade de barquinho”, repetia. Sozinha, pensava que seria uma ótima oportunidade para esquecer meu ex e até, quem sabe, me apaixonar por outra pessoa.

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Chegou o grande momento. Aportamos na cidadezinha e o piloto do barco não fez nem menção de ajudar a colocar as malas na carroça. Na hora, lembrei do ex. Se ele estivesse aqui, ia ajudar. Mas tentei superar rapidinho. Na pousada, vi uma aranha no quarto. Saí desesperada atrás de alguém para tirá-la de lá e encontrei a recepção fechada. “Ah, se ele tivesse vindo, mataria a aranha”, pensei. À noite, fomos jantar na vila e minha filha dormiu no banco do restaurante. Voltei com ela no colo cambaleando sobre a areia fofa. Só conseguia imaginar meu ex carregando a Julia para o hotel. Para onde eu olhava, via casais, pessoas apaixonadas. A decepção bateu, é lógico. Nada se igualava àquela utopia que eu tinha da tal viagem restauradora. Mas a culpa era minha. Eu havia projetado a fuga perfeita e, como o sonho não era correspondido, achava que a vida estava sendo injusta comigo.

Acordei no dia seguinte decidida a virar o jogo e assumir o comando do meu presente. Foi o que bastou para a viagem mudar totalmente de ares. Os perrengues se tornaram piadas, fiz amizades e me diverti muito. Cheguei à conclusão de que não dá para viver sem expectativas, mas o segredo mora em saber dosar o limite entre a promessa e o que é real. Ah, também aprendi que Caraíva não é um destino recomendado para ir só com o filho pequeno quando você está tentando esquecer o ex. Lembrei dele até a última mala pesada colocada na esteira do aeroporto.

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