Cailtyn Jenner é talvez um dos nomes mais comentados do ano. Isso porque ela, antes conhecida como Bruce Jenner, se tornou o rosto da luta pela aceitação de homens e mulheres transgêneros. Aceitação, aliás, é o termo da década, uma vez que cada vez mais as pessoas lutam para serem aceitas como elas são de verdade, deixando os rótulos para trás.
“Antes de comentarmos a questão da aceitação do transgêneros pela sociedade atual, é preciso colocar a dificuldade presente em muitos casos de auto-aceitação, marcada pela vergonha, pela culpa, pela incapacidade de se ver diferente dos demais que faz com que a pessoa se esconda ante o medo da incompreensão social em geral e da família em especial”, explica o psicanalista Fabio Bonilha Cavaggioni. Ele diz que, por conta isso, é comum uma bandeira contrária a diversidade sexual ser levantada justamente por conta do medo daquilo que é diferente.
Até mesmo por essa questão, é compreensível que Caitlyn tenha demorado tantos anos para se assumir transgênero – ela já havia tentado antes, na década de 1980. Como um homem conhecido pela virilidade, pela pinta de galã e pela força que lhe rendeu uma medalha olímpica, além de casamentos e filhos, como se desvencilhar desses arquétipos para encarar uma mudança completa de gênero? “A maior dificuldade encontrada para aceitação social passa pela desconstrução da ideia de gênero como ligado diretamente a biologia do sexo, passando pela educação e chegando a questões jurídicas e relacionadas ao Direitos Humanos”, completa Fabio.
Caitlyn contou com um grande sistema de apoio, apesar das dificuldades iniciais. Seus filhos, Kylie, Kendal, Brody, Casey, Burton e Brandon Jenner, além das enteadas Kim, Kourtney e Khloé Kardashian, mostraram apoio à sua transição, ao mesmo tempo que tentavam entender como se adaptar à essa nova realidade.
No caso de pais e mães, continua o psicanalista, a aceitação da família é primordial, principalmente porque jovens transgênero estão sujeitos a situações de bullying com maior frequência, no âmbito escolar. “Os pais devem agir de forma despreconceituosa diante da realidade de se ter um filho/a trangênero, trabalhar um olhar tolerante, compreensivo e acima de tudo apoiá-lo ao longo das provações e preconceitos que serão enfrentados durante a vida. Respeito e amor são as palavras principais nesta relação, tal atitude deve ser levada a efeito também pelos irmãos e parentes mais próximos”.