A primeira lembrança que tenho de CLAUDIA é de 1979, quando eu tinha 11 anos e morava em Macaé, no Rio de Janeiro. Minha mãe trazia a revista pra casa. Feminista, lutou e ainda luta pelas causas das mulheres. Ela chamava a minha atenção para os artigos da colunista Carmen da Silva e enfatizava a importância dos seus textos. Carmen antecipou reivindicações como o uso da pílula anticoncepcional, a inserção da mulher no mercado de trabalho e o divórcio. Uma mulher falando para outras num tempo em que a presença feminina na imprensa não era nada expressiva. E aqui estou hoje, com muito orgulho, escrevendo a minha primeira coluna para a revista que é parte da minha história. Juntas, CLAUDIA e eu atravessamos a vida desde o meu primeiro amor adolescente até hoje, aos 47 anos.
O passar do tempo tem suas vantagens. A gente amadurece e começa a enxergar que cada etapa da vida é especial à sua maneira, pois todas elas foram responsáveis pela construção do que somos hoje.
Mas eu só entendi realmente que já não era uma jovenzinha quando meu namorado, há pouco tempo, falou pra mim: “Sabe aquela atriz que fez o filme tal? Aquela que era linda quando era novinha”. Só que, no caso, a atriz que “era linda quando era novinha” tem a minha idade. Ou seja, eu fui bonita um dia, como a tal atriz. Agora eu sou bonitona. Porque, depois dos 40, a mulher vira “ona”. Você nao é mais bonita, agora é bonitona; não é mais gata, é uma gatona. E fica invisível também. Sim, porque as “onas” são praticamente invisíveis aos olhos masculinos. Não somos mais olhadas como antes. Isso é fato. (O segredo é deixar de buscar a beleza e correr atrás da elegância.)
Tudo piora quando você vai ao médico e ele, depois de examinar, inicia o discurso falando: “Olha, na sua idade acho importante começar a fazer alguns exames, como a colonoscopia. E você devia procurar praticar algum exercício físico sem impacto, mais leve, mais adequado à sua faixa etária”. Depois desse “na sua idade”, não dá para ouvir mais nada e aquilo fica ecoando na cabeça. Antes da colonoscopia, você vai para a terapia, só para assimilar que chegou a hora de se matricular numa hidroginástica. Mas tem o lado bom. Já dá para dizer não para um monte de coisas, sem culpa: “Ah, não tenho mais idade para isso, não!” É libertador. O tempo traz sabedoria para dizer não e também para aceitar um não como resposta com mais leveza.
Envelhecer ainda leva a gente a entrar em contato com a finitude. Inevitavelmente, você faz um balanço do que realizou na vida e do que quer daqui para a frente. O que precisa mudar? E então você deseja desfrutar o seu tempo com mais qualidade. E também aprende a não ficar frustrada com alguns sonhos da juventude que não foram realizados. Millôr tem uma frase que diz: “Qualquer idiota consegue ser jovem, mas é preciso muito talento para envelhecer”. Ao me confrontar com essa questão, vivo um processo de autoconhecimento. E, quando a gente se conhece, corre um risco menor de se perder da gente mesma.