“BBB do Amor”: por que gostamos de ver brigas em reality shows?
Gostar de acompanhar brigas e discussões em reality shows está relacionado a fatores emocionais primitivos
Desde o início de sua exibição, o Big Brother Brasil 22 é alvo de uma reclamação persistente: a ausência de brigas. Por mais que alguns desentendimentos aconteçam, o público deseja a magnitude dos conflitos que aconteceram nas edições passadas. Apenas em 2021, o programa incendiou discussões acerca da bifobia, rivalidade feminina e até mesmo tortura psicológica. Para quem gosta do caos, a atual edição realmente pode incomodar. Contudo, o grande questionamento é: por que gostamos tanto de ver brigas em reality shows? O que existe de tão atraente em acompanhar pessoas chegando à beira do colapso?
Claro, não estamos propondo um julgamento moralista e nem afirmando que é errado gostar de um “barraco”. Porém, é curioso pensar no quanto a negatividade é atrativa para o ser humano. Será que somos naturalmente assim? Possuímos a tendência de querer nos aproximar da confusão? Para responder a essas perguntas, Claudia conversa com o psiquiatra Daniel Barros, que explica os processos emocionais responsáveis por essa nossa curiosidade incontrolável de ver o circo pegar fogo. Confira:
Realities promovem emoções variadas de forma segura
Segundo Daniel Barros, a “fórmula de sucesso” dos realities é fazer o espectador sentir inúmeras emoções em um ambiente seguro. Em outras palavras, você pode experimentar alegria, raiva, tristeza e tensão sem sair de casa ou se expor ao risco real.
“Estes programas são montados para promover o estímulo de sensações. Mas é importante lembrar que esse conteúdo não é um ‘experimento’ da realidade. Existe um roteiro que visa direcionar as pessoas a passarem por determinadas situações, que vão de uma briga a um romance. E esse é o motivo básico que nos faz gostar dos realities: queremos sentir emoções”, explica o psiquiatra.
Por que as brigas prendem o espectador?
De acordo com o psiquiatra, é normal que o público rejeite a ideia de um reality show “morno”, em que poucas coisas acontecem. “A briga é apenas uma das maneiras de engajar o espectador. Se um programa está muito tranquilo, ele será entediante. Isso ocorre porque a nossa atenção é despertada pelas emoções. Quando nada especial surge em nossa rotina, o cérebro entra em modo automático para poupar energia. Mas quando algo diferente surge, a mente acorda e fala: ‘isso está mexendo comigo, me mobilizando’. Daí precisamos prestar atenção”, explica.
E claro, se estamos assistindo a um reality como o Big Brother Brasil, a última coisa que desejamos é entrar em “modo automático”. Daniel ressalta que, apesar de não serem as únicas formas de prender o público, as brigas e discussões ainda são as maneiras mais fáceis de gerar sensações. O motivo por trás disso está na própria condição humana: “quando os conflitos acontecem, os participantes ficam tristes ou com raiva. E, por sermos seres empáticos, é comum que acabemos entrando em sintonia e nos identificando com as emoções do outro”, pontua.
Somos naturalmente atraídos pela negatividade?
A resposta é simples: sim. Mas não porque somos maus ou algo do gênero. Para Daniel, essa atração natural pela negatividade tem origem em nosso instinto de sobrevivência. “Tendemos a prestar mais atenção no negativo como uma forma de nos autopreservar. Você saber que alguém está feliz não vai fazer muita diferença”, brinca o psiquiatra. “Porém, saber que alguém está vindo lhe atacar pode fazer muita diferença”, esclarece.
“Nós temos um radar mais antenado às emoções pessimistas porque elas carregam a função de alerta. E, claro, esse raciocínio inconsciente do ser humano é um prato cheio para as emissoras captarem audiência”, afirma.
Consumir brigas em realities constantemente pode ser prejudicial?
Se o mecanismo por trás dos realities é baseado em ativar os instintos e emoções mais primitivas do espectador, será que é saudável consumi-los frequentemente? Depende. “O problema não é apenas ser exposto a uma cena de briga, e sim como vamos interagir com aquela situação”, ressalta o psiquiatra.
“O impacto emocional é influenciado pelo quanto a pessoa está envolvida com aquela situação. É alguém da sua família? Você já passou por algo parecido? É imprescindível que prestemos atenção ao que nos faz bem. Caso perceba que está mais irritado, estressado ou melancólico após ver o programa, fique alerta. Agora, se você passa o dia inteiro assistindo pay-per-view e fica até desestressado com o conteúdo, está tudo certo. O problema acontece quando as emoções negativas perduram mesmo quando já desligamos a televisão”, conclui.