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10 atitudes infalíveis para desbancar o ódio

Convidamos artistas, pensadores e profissionais das mais diversas áreas a compartilhar soluções para as ondas de ódio que temos vivenciado

Por Iracy Paulina (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 20h09 - Publicado em 5 jan 2016, 18h30

Ele pauta os ânimos como se fosse impossível o diálogo ou a mediação. Primeiro vem a ira, depois o ranço e a sequência inevitável: o constrangimento do oponente, o cerceamento moral e até a agressão física. Nunca a política e a religião produziram tantos inimigos entre parentes, vizinhos e colegas. Pensadores apontam estratégias vigorosas para banir (ou administrar) a raiva neste tempo de tantas aflições:

Perceba que somos idênticos a quem parece ser o nosso oposto

“O problema é dividir o mundo entre eles e nós. Para os judeus, todos os outros são góis. Para os negros, os outros são brancos. Os gays são os estranhos dos éteres; os ricos, os dos pobres. Os que não são petistas são ‘eles’. E vice-versa. Para quem mora no morro, os demais são do asfalto. Para os do culto, aquele que não encontrou Jesus está com Satanás. O que desonra Alá é infiel… e assim vamos. Evidentemente, as linhas que dividem os grupos são subjetivas e só fazem aumentar as tensões na sociedade. Por mais que se tenha orgulho da própria origem, crença, cor da pele ou orientação sexual, o camarada tem que perceber que no fundo é idêntico ao homem que considera seu oposto. A intolerância é um claro sintoma da burrice.” Fernando Meirelles, cineasta​

Foque a atenção no amor e exercite-o. Use a internet como um fórum de ideias

“Fico triste ao ver o retrocesso da liberdade de pensamento e as pequenas censuras ocultas. Como polícias, elas monitoram palavras e vírgulas. São fruto da valorização da opinião na internet. A web poderia ser um celeiro de debates, tinha potencial para nos fortalecer e para a autogestão, mas a vaidade a transformou no cenário do ‘eu acho, eu digo’. Isso se soma à falsa coragem que se tem atrás do teclado, resultando em um festival de preconceito e fundamentalismo. Cada um precisa pôr a atenção no amor e exercitá-lo. Como tudo puxa para o lado contrário, temos que fazer força. No coletivo, devemos nos submeter a uma espécie de Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) do cidadão, estudar a nossa história, a história dos representantes políticos para escolher melhor, priorizar o bem comum e redobrar a esperança.” Denise Fraga, atriz

Module o ódio cultivando sua vida interior

“O ódio sempre existiu. Já odiamos muito mais, como nos genocídios da história. Viver sem ódio é péssimo, porque é reprimir o que sentimos. E temos razão em odiar inimigos, pessoas que nos querem mal. É praticamente impossível erradicar as principais fontes de ódio, que são as variadas formas de identidade imaginária coletiva. Caso do nacionalismo, da exacerbação nas religiões e torcidas de futebol. Mas podemos modular esse sentimento, criando uma cultura que permita ao indivíduo alimentar sua vida interior, limitada na maioria dos sujeitos. Sem isso, ele se apega no que estiver disponível – em geral, as identidades coletivas.” Contardo Calligaris, psicanalista

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Entre na pele do outro para sentir o mesmo que ele

“Para enfrentar as epidemias de ódio, promova o oposto: a empatia. Essa habilidade nos coloca ‘no sapato do outro’ e nos faz ver o mundo através de seus olhos. Com isso, estabelecemos conexão e reconhecemos semelhanças para além das barreiras. Assim, será difícil que as sementes do ódio cresçam, sejam elas baseadas na diferença de religião, nacionalidade ou gênero. A solução mais simples é ensinar empatia nas escolas, como se faz com história e ciências. Ela ajuda a espalhar amor na sociedade. Mas que tipo de amor? Os gregos tinham duas palavras para expressá-lo: eros, com conotação sexual; e ágape, sentimento altruísta entre estranhos. Adotemos este último, no coletivo.” Roman Krznaric, filósofo e historiador britânico, criador do projeto itinerante Museu da Empatia

Traga de volta antigos valores, como a compaixão

“Há uma banalização da maldade. Todos acham normal o que ouvem, nada choca. Na era do ódio cego, ser bom vem em segundo plano. O antídoto para esse veneno é cultivar em si mesmo a compaixão e os valores perdidos na mercantilização – tudo hoje precisa ter preço. Meu último desfile mostrou que, em tempos de guerra, falar de amor é ato de subversão e resistência. Só reconquistaremos a generosidade com o trabalho corpo a corpo. Ele levará à aceitação nas divergências. Se a pessoa é evangélica ou do candomblé e se casa com gay, essa éuma opção dela – um lugar onde não posso entrar. Aceito e pronto.” Ronaldo Fraga, estilista

Separe a crítica construtiva da ofensa. Pense antes de postar

“Criei o meu canal no YouTube para vencer o medo de ouvir críticas. E aprendo todo dia. A principal lição que tirei: na web, você precisa separar, do que dizem, aquilo que serve para você. E quando vale a pena responder. Existem críticas que são construtivas, crescemos com elas. Outras ofendem, não acrescentam nada. Então, é melhor ignorar estas para não entrar em uma polêmica que desgasta e nada produz. Tenha responsabilidade com o que você posta nas redes. É fácil digitar qualquer coisa e dar enter. Mas, cara, você precisa saber o que fala. Pesquise antes de postar e de abalar a vida do outro.” Jout Jout, youtuber

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Pratique o diálogo. E preste atenção na linguagem

“Na experiência cotidiana, a gente foi perdendo a essencial habilidade de conversar. O diálogo, que saiu da rotina, é a disponibilidade de ouvir o outro e expor os próprios pensamentos. A tecnologia não deixa isso acontecer. Na hora da refeição, a TV está ligada; as redes funcionam sem parar. O que recebemos deles são pensamentos prontos, que não florescem. E estamos mergulhados nisso. Precisamos voltar a conversar na família, no trabalho, nas ruas e nas redes. O primeiro passo para isso é ter uma abertura para o outro – ele é um desafio. O segundo é prestar atenção em nossa linguagem. Ensinamos o preconceito por meio de termos agressivos, chulos, que marcam as pessoas. Nossa experiência afetiva também se dá por meio da linguagem. Por isso, é importante investir em uma melhor forma de comunicação. Os intolerantes são aqueles que entregam um sistema de pensamento pronto, não questionam, querem explicar o mundo com argumentos fechados e preconcebidos.” Marcia Tiburi, filósofa

Cozinhe mais. A comida reúne até os diferentes

“A mesa sempre juntou as pessoas: na Santa Ceia, na Távola Redonda, no almoço de negócios, no jantar dos amantes, no almoço de domingo na casa da avó e até no Carlota (restaurante). Vejo ali que a comida centraliza as atenções, aproxima, equaliza os corações. Além de apaziguar a fome, que traz impaciência, um prato cheiroso consagra os encontros e, naturalmente, acalma os ânimos. Se lembrarmos a máxima que diz que ‘cozinhar é um ato de amor’, podemos ter, então, uma ótima receita para destronar o ódio.” Carla Pernambuco, chef de cozinha

Estimule as crianças a conviver com a diversidade

“Universalizar a escola pública seria uma forma radical de combater o ódio. Todas as crianças, independentemente do nível social, estudariam juntas.No Brasil, temos um apartheid estudantil, o que forma uma visão estereotipada. O branco tem uma imagem preconceituosa do preto; o preto, uma visão preconceituosa do branco. Convivendo desde a pré-escola, partilhando atividades lúdicas, em contato com várias culturas, famílias, realidades, os alunos construiriam um relacionamento baseado na amizade, sem caricaturas uns dos outros, sem rejeição. É pelo lado afetivo que poderemos formar uma sociedade mais democrática.” Renato Janine, professor de filosofia

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Mesmo sem concordar, respeite o direito de expressão do outro

“Manifesta-se o ódio por falta de educação. Não a educação formal. Gente com diploma revela intolerância. Falo daquela que inclui o respeito à diversidade e o convívio com opiniões diversas. O ideal é a máxima atribuída a Voltaire: ‘Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo’. É impressionante como os insultos contra nordestinos, mais fortes agora nas redes sociais, não param. Muitos do Sul e Sudeste associam os nascidos no Nordeste à ignorância, ao analfabetismo, à preguiça. Os clichês são pura balela e cegueira educacional de quem os pronuncia ou escreve. Já fui vítima desse tipo de patrulha. Tentam desqualificar minhas opiniões com ataques do gênero: ‘Cala a boca, nordestino sujo etc.’. Quase todo dia aparece algum comentário desse tipo entre os meus ‘civilizadíssimos’ leitores. É trágico.” Xico Sá, jornalista e escritor

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