SPFW N60: os destaques e surpresas do primeiro dia do evento
Com desfiles na Estação Júlio Prestes e na Biblioteca Mário de Andrade, a semana de moda brasileira começou com momentos inesperados

A Semana de Moda aterrissou em São Paulo nesta segunda-feira (13). Nem metade das 38 grifes que vão desfilar na capital paulistana até o dia 20 se apresentaram, mas os desfiles do primeiro dia já arrebataram o coração das fashionistas. No primeiro dia da 60° edição da SPFW, João Pimenta, Gloria Coelho e Ronaldo Fraga conquistaram os críticos.
João Pimenta

João Pimenta deu start nos trabalhos com mais uma edição de sua marca homônima. Se na temporada passada a inspiração saiu de modelagens diferentes para o corpo masculino, unindo a técnica da alta-costura à estética do streetwear, desta vez, o estilista ampliou o olhar para a literatura, o espaço público e o interesse por uma moda jovem, sexy e vibrante.

Antes mesmo do desfile acontecer na Biblioteca Mário de Andrade, João estabeleceu a conexão entre moda e literatura através dos convites.
Livros de Cecília Meireles, Pablo Neruda, Mário de Andrade e Castro Alves foram entregues aos convidados. A performance da atriz Bárbara Paz, que recitou trechos de Macunaíma, de Mário de Andrade, Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, e Mudar: Método, de Édouard Louis, reforçou a atmosfera poética da apresentação.

Ao contrário do que geralmente se associa a uma biblioteca — calma, silêncio e discrição —, as roupas exibiram uma pegada jovem, ousada e urbana. Paletós sem estrutura interna, maxi bolsas em azul Klein e calças de alfaiataria transparentes traduziram essa proposta. O resultado reafirma o motivo pelo qual João Pimenta é um dos grandes nomes da moda brasileira.
Gloria Coelho

Quando parecia impossível nos deslumbrar mais, Gloria Coelho apresentou uma coleção voltada ao futuro, e tudo o que isso significa. O símbolo escolhido para dar o tom de suas criações foi o trem, porque ele “representa o movimento das engrenagens” e é “uma metáfora que traduz o dinamismo constante de Gloria Coelho no universo da moda”.

O interesse pela ampliação das ferrovias, como uma alternativa sustentável e eficiente de transporte, pareceu o momento certo para traduzir essa visão em moda. Aliás, a Estação Júlio Prestes serviu de cenário para a apresentação que celebra os 50 anos de história de uma das mais influentes marcas do país.

Entre romantismo, história e tecnologia, a marca trouxe elementos como transparência em vestidos longos, luvas pretas que cobrem todo o antebraço e o couro em sapatos, bolsas e jaquetas. Chegar nesse lugar só foi possível com o estudo do século 19, marcado por revoluções científicas, pelo surgimento das ferrovias e pelo nascimento do pensamento moderno.
Ronaldo Fraga

Seis anos foi o tempo que levou para retornar às passarelas da SPFW. Da coleção que apresentou em 2019, passando pela pandemia e até este ano, Ronaldo Fraga deu uma pausa nas passarelas para repensar sua relação com a moda. E seu retorno reforça a importância de, vez ou outra, parar para refletir sobre o que se está criando.
O desfile aconteceu no Museu da Língua Portuguesa, onde o estilista apresentou uma coleção que mergulha na infância de Milton Nascimento, um dos maiores ídolos da música brasileira, recentemente diagnosticado com demência por corpos de Lewy (DCL), doença neurodegenerativa que afeta a cognição e o movimento.

Quem abriu o desfile foram crianças vestidas com roupas coloridas e asas de anjos feitas de papelão. Em seguida, entraram modelos que, apesar de adultos, mantinham um toque lúdico por meio das roupas e acessórios, como lâmpadas nas cabeças, inspiradas nos desenhos do mar de morros de Minas Gerais.

Entre os destaques, o vestido Caçador de Mim, em homenagem à canção de 1982, traz duas figuras que se encaram. Há também uma peça com pássaros presos por delicadas estruturas de barbante. Também chamaram atenção os jeans que remetem ao estilo de Milton Nascimento na virada dos anos 1960 para os 1970.
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