Salto alto já foi coisa de homem. Conheça a história do sapato
Se a origem do calçado tem tudo a ver com a ~masculinidade~, como ele se tornou o exato oposto disso?
Você pode amar ou odiar o salto alto; achá-lo um símbolo do poder ou da submissão feminina; sentir, ao usá-lo, que você é maravilhosa ou que o seu pé vai acabar matando você. Sobre uma coisa, porém, não há discussão: esse tipo de calçado é parte essencial da nossa cultura.
Você sabia, no entanto, que ele foi originalmente inventado para que os homens o usassem? A história do calçado, que começa durante a Idade Média na região onde hoje fica o Irã, é uma prova indiscutível de que até as coisas que atualmente nos parecem óbvias já foram diferentes um dia – e, possivelmente, serão também no futuro.
Hoje em dia muita gente brinca estar ~indo para a guerra~ quando calça o bom e velho salto alto e sai para a balada. E, curiosamente, ele começou a ser usado entre soldados da Pérsia medieval. Sim, eles literalmente iam para guerras de salto alto o tempo inteiro.
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Em entrevista à BBC, Elizabeth Semmelhack, do Museu do Sapato em Toronto, no Canadá, explica que ter um saltinho maroto no sapato dos militares era algo muito importante – para que se prendessem direitinho nos estribos, aqueles encaixes metálicos para os pés dos cavaleiros, sabe?
“Isso permitia que eles atirassem suas flechas de forma mais eficaz”, diz ela.
Na época, o xá (uma espécie de rei) da Pérsia tinha a maior cavalaria do mundo – e, quando seus homens chegaram à Europa, lá pelo século 16, eles levaram a “moda” de seus calçados junto de si. Em pouquíssimo tempo, a imagem ~máscula~, viril e forte dos soldados de salto alto fez com que os aristocratas europeus começassem a usar salto alto também.
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Ao longo do tempo, o povo também começou a copiar os modelitos dos nobres – fazendo com que estes últimos produzissem saltos cada vez mais altos, para se diferenciar.
Provavelmente por isso (mas também porque, convenhamos, ele era bem baixinho), o rei francês Luís XIV é o maior exemplo do uso de salto alto por homens nesta época. Os saltos dele chegavam a medir até 10 cm, acredita?
Muito antes de Christian Louboutin, aliás, o “Rei Sol” fazia com que a nobreza ligada a ele usasse sapatos com saltos vermelhos – algo muito caro e, portanto, luxuoso e raro na época.
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Foi nesta época que, surpreendentemente, as mulheres começaram a fazer coisas antes reservadas à moda e aos hábitos masculinos: começaram a fumar charutos, a cortar os cabelos bem curtinho, a usarem chapéus masculinos e, para coroar, a calçarem sapatos de salto alto.
Durante o reinado de Luis XIV, eram muito valorizadas a praticidade e a razão – e, vamos combinar, se tem uma coisa que sapatos de salto não têm, essa coisa é funcionalidade. Os homens, que trabalhavam e andavam muito por aí, começaram a deixar essa moda de lado. Só as mulheres continuaram usando salto alto. Até que…
Depois da Revolução Francesa, os saltos saíram de moda por algum tempo – afinal, com a queda (e com as cabeças cortadas!) dos reis e da nobreza, não fazia mais sentido querer ser mais alto que os outros, querer distinguir-se dos demais.
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As mulheres só voltaram a calçar saltos dois séculos depois (sim!), quando fotógrafos pornôs perceberam uma coisa bastante interessante: esses centímetros a mais faziam os bumbuns de suas modelos ficarem bem mais bonitinhos. Pois é!
É muito provavelmente por isso que, até hoje, associamos o salto alto a mulheres atraentes. Como dá para perceber com toda essa história, porém, é bem provável que, em poucos anos, tudo o que sabemos sobre salto alto (e sobre a vestimenta de homens e mulheres em geral) mude completamente.