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“Chegamos a um espaço da elite”, diz Emicida sobre LAB

Evandro Fióti e Emicida: irmãos, parceiros e sócios que traduzem a batida das ruas em músicas e roupas.

Por Marina Pedroso
Atualizado em 20 jan 2020, 08h28 - Publicado em 17 ago 2017, 12h49
 (LAB/Divulgação)
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A filha de uma amiga, que tem 7 anos e mora na periferia, me ligou depois da nossa estreia dizendo contente: ‘Tio, nunca tinha visto tanta gente parecida comigo em um desfile’”, conta o rapper Emicida. O evento que a impactou foi a primeira apresentação da Lab, marca que Emicida e seu irmão mais novo, Evandro Fióti, também músico e produtor musical, idealizaram, e que tem o estilista João Pimenta como diretor criativo, na edição N42 do São Paulo Fashion Week, em outubro de 2016.

No evento, um time de modelos negros, plus size e com vitiligo cruzou a passarela para ir além de padrões e atualizar a definição de representatividade em um desfile de moda. Meninas e meninos, ora carecas, ora com black power, usaram calças largas e saias com estampas étnicas, além de casacos-quimonos, para desfazer as fronteiras de gênero.

“Sabe o que é mais louco? Os modelos que desfilaram foram chamados pra outros trabalhos depois. Conseguimos mudar algo no sistema”, diz Fióti, que ainda é sócio do irmão na Laboratório Fantasma, gravadora da qual a grife pertence.

Nesse momento da entrevista, versos da música Yasuke, de Emicida, me vieram à cabeça: “As pessoas são que nem palavras/só fazem sentido quando junto das outras”. A canção fez parte da trilha sonora criada pelo rapper para apresentar no SPFW a coleção Yasuke, inspirada no hip-hop e nas culturas japonesa e africana. Informação demais para um tema? Nada disso.

“O rap bebe em várias fontes, pega o que gosta e cria algo novo com aquilo. Isso se chama samplear e todos fazem isso, mesmo sem perceber. Usamos a técnica para as roupas”, afirmam os irmãos.

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Para eles, música e moda têm ainda mais em comum: servem para contar histórias e se baseiam na criatividade. É natural, então, que uma influencie a outra. A coleção Yasuke, nome de um samurai negro, possui ligação direta com o disco que trabalhavam à época, Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa, lançado em 2015.  Já a segunda, Herança, desfilada no SPFW N43, em março deste ano, teve como mote o samba – a escolha se deu pela comemoração ao centenário do gênero, celebrado em 2016, e pelo lugar emocional que ele ocupa na história dos brasileiros. As peças de streetwear com releituras das listras e dos confetes que aparecem no figurino de malandros típicos ganharam vida com o trabalho de bordados de dona Jacira, mãe da dupla. “Ela é multiplataforma também: borda e pinta para contar histórias”, diz Emicida, que herdou dela o gosto por tricotar e se diz viciado em crochê.

Engana-se, portanto, quem pensa que a relação dos músicos com a moda é recente. “Desde o início da Laboratório Fantasma, há oito anos, fazíamos camisetas e moletons para vender em shows. Por isso, lojas nos procuraram e até fizemos uma coleção em colaboração com a West Coast e com o João Pimenta em 2015. Essas experiências nos impulsionaram a lançar a Lab”, conta o caçula.

Ao investir no potencial da empresa como player na indústria da moda – a marca acaba de receber o Prêmio APCA 2016, dado pela Associação Paulista de Críticos de Arte, na categoria revelação em moda –, o maior desafio foi o de manter a essência dos idealizadores. “Chegamos a um espaço da elite, mas temos de ser fiéis às nossas origens na periferia e à nossa filosofia, que contempla a inclusão”, relata Emicida. Daí a importância de um casting diverso na passarela e de peças com o DNA das ruas, acessíveis também graças à grade de tamanhos (até o 5G). “Nossa verdade está nas peças e as pessoas se identificam porque desejam a mudança e querem pertencer”, conclui o rapper. Esse é o sentimento que parece ter atingido a menina do começo da reportagem, mesmo que ela não tenha a exata compreensão. Como diz outro verso de Yasuke: “Foi sonho, foi rima, hoje é fato pra palco”. E nós aplaudimos de pé.

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