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IZA: “Me sinto corajosa para me colocar vulnerável”

Depois de lançar o álbum mais íntimo de sua carreira, Iza reflete sobre sua trajetória – e sua antiga relação com a moda – para celebrar o momento atual

Por Renata Brosina
16 abr 2024, 08h00
Iza - fendi
A primeira filha de Iza nasceu (Tom Barreto/CLAUDIA)
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Vamos fazer uma brincadeira? Feche os olhos e tente acertar o que IZA, um dos maiores nomes da música pop e R&B nacional, costuma anotar no seu caderninho de bolso. Set list para um show? Acertou! Desenho do palco? Acertou também! Até aí, tudo normal, são coisas que fazem parte do dia a dia de uma cantora.

Mas, durante o Zoom feito na última semana de fevereiro em que Iza concedeu esta entrevista para CLAUDIA, o que me impressiona nas páginas do bloquinho é o desenho de um vestido de madrinha que ela fez para o casamento de uma amiga. No caso, não estamos falando de um mero rascunho do que a artista vai comprar por aí. A cantora esboçou cada detalhe da peça, o contorno delicado nas curvas da silhueta, os detalhes da execução e uma proporção que, sim, nem todo graduado em Moda (incluindo eu mesma), é capaz de executar. 

“A minha mãe é professora de arte e por isso eu desenho desde criança. Acaba sendo uma terapia para mim”, confessa a carioca que, desde a infância, gosta de desenhar roupas, sapatos e bolsas.

“Meu sonho era ter o closet com as peças do filme As Patricinhas de Beverly Hills, mas eu não tinha condições. Então, eu lembro de pegar um caderno com espiral, cortá-lo em três partes. Em cima era o top, o meio representava as calças ou saias e o terceiro ficava para os sapatos”, lembra Iza, que ficava brincando e passando as páginas para combinar os looks de  múltiplas formas. 

Iza na Itália
Iza na Itália, com look Fendi (Tom Barreto/CLAUDIA)

“Aquilo era muito importante para mim e ocupava grande parte do meu tempo”, completa a publicitária que, em 2012, pegou seu diploma na PUC-RJ, teve uma série de experiências profissionais no mercado e, hoje, enxerga inúmeras vantagens em ter seguido um caminho tão pouco convencional antes de chegar aos palcos.

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“Na música, eu consegui realizar todos os meus desejos mais íntimos e consigo unir tudo que aprendi ao longo da vida. Além de desenhar, aprendi sobre edição, rádio, cinema, televisão, assessoria de imprensa e todas as miudezas”, conta. Iza se enxerga como uma marca, com seus pilares bem estabelecidos e que se reinventa sem perder os seus valores. 

O guarda-roupa de IZA

Iza ensaio fendi na itália
Iza veste Fendi. (Tom Barreto/CLAUDIA)

A sua conexão com a moda vem antes da música. Na verdade, Iza, de 33 anos, nem imaginava que um dia os dois universos poderiam se cruzar.

“Eu sempre gostei de me expressar por meio das roupas e dava muita importância para isso desde pequena. Eu passava horas experimentando e trocando de look”, recorda. De fato, um dos seus destinos preferidos, ainda menina, era o guarda-roupa da sua tia Tereza, irmã da mãe, Isabel.

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“Lembro de chamar o closet dela de ‘Tereza Fashion Mall’. Como a gente não tinha dinheiro para comprar roupa toda hora, eu pegava as peças dela e era como se eu tivesse ido fazer compras”, comenta ela, que enxergava na expressão de vaidade da tia uma espécie de poder.

Ela era e é essa grande imagem de mulher preta para mim: bem-sucedida, que se ama e investe em bolsas, sapatos e roupas para estar sempre bem vestida”, explica. 

A admiração pela tia até se transformou em música, anos depois, no álbum Afrodhit, de 2023. “A faixa ‘Terê’ é dedicada a ela, a esse mulherão de 62 anos, que faz pole dance e sempre me inspirou”, compartilha.

cantora Iza - fendi
Iza veste Fendi (Tom Barreto/CLAUDIA)
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Atualmente, o destino preferido de tia e sobrinha é o “Isabela Fashion Mall” — o armário da cantora. “Com o acesso que tenho hoje, para adquirir peças dos sonhos, nós duas nos divertimos muito”, afirma, rindo.

Para Iza, os figurinos também contam histórias: “Eu costumo dizer que as roupas cantam por mim”. O álbum do ano passado, aliás, é um mergulho na sua própria trajetória – incluindo aí traumas, dores e momentos turbulentos.

“É muito importante quando você tem coragem de se despir para falar de coisas de que talvez não se orgulhe, e poder olhar para o que passou na sua vida com outros olhos”, diz.

O processo criativo, nesse sentido, a ajudou a superar as dificuldades e transformá-las em canções. “Deixou de ser dor e virou outra coisa. Me sinto corajosa para me colocar vulnerável na frente dos meus fãs”, afirma. 

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Para os shows de Afrodhit, pensou meticulosamente no figurino também: apostou nas silhuetas, com calça boca de sino, cinturões, corsets e sobreposições de tule.

“Não é fácil para alguém escolher um look para mim. Afinal, não é a roupa que precisa me vestir, mas, sim, eu que tenho que vesti-la”, explica sobre a necessidade de estar confiante, passar seu mood e a energia certa para seus fãs.

“Tem coisas que eu desenho ou que eu peço para alguns estilistas desenharem para mim. A maioria é feita sob medida e sempre vem da troca de ideias”, explica ela, que aprecia essa relação com criadores, marcas e inúmeras possibilidades de se relacionar com a moda.

Mais recentemente, se aproximou da grife italiana Fendi, de quem se tornou embaixadora no Brasil em 2022 — as imagens que acompanham esta reportagem, aliás, foram tiradas na Semana de Moda de Milão, em fevereiro deste ano, e só trazem looks da marca. Iza adora observar a cenografia, a trilha, as luzes e a história que as passarelas contam, além, é claro, das roupas e dos convidados especiais.

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“Em setembro do ano passado, fui ao jantar em homenagem ao [diretor criativo] Kim Jones e lá estavam Kate Moss, Demi Moore… e de repente chegou Naomi Campbell. Quando ela veio me cumprimentar, fiquei chocada. Essa é uma mulher que me faz sentir representada”, conta. Com a Fendi, viveu experiências únicas, como uma tour exclusiva ao Museu do Vaticano e à Fontana di Trevi.

 “É muito divertido. Eu nunca pensei que pudesse tirar esse sonho do papel dessa forma através da música”, celebra ela, que gostaria de dar alguns conselhos a si mesma, ainda como a pequena Isabela Cristina Correia de Lima Lima. “Eu falaria para ela não se achar esquisita. Diria que ela é perfeitinha e tudo que está fazendo vai fazer muito sentido lá na frente”, diz.

Iza acredita que, se tivesse planejado, teria se limitado. “É tão bom quando a vida nos surpreende e quando nos sentimos confortáveis para cantar, testar, aprender, ser vulnerável”, finaliza. A pequena Iza, com certeza, está orgulhosíssima de onde a grande Iza chegou. 

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