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Guinada de brechós revive a importância de sustentabilidade

Conversamos com as fundadoras de cinco brechós, de diferentes nichos e plataformas, para entender a virada no mercado de second hand

Por Raíssa Basílio
Atualizado em 21 jun 2023, 13h38 - Publicado em 21 jun 2023, 07h49
Sim, second hand: Guinada de brechós revive importância de consumo sustentável
Sim, second hand: Guinada de brechós revive importância de consumo sustentável (Getty Images/Reprodução)
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Em meio à ode ao consumo rápido e prático de fast fashion, o brechó reocupa seu espaço. A experiência do garimpo volta ao imaginário do consumidor que está em busca de produtos duráveis, vintages, diferentes e sustentáveis. Tanto que as pesquisas por brechós cresceram 140% em 2023, segundo um levantamento de dados do Google Maps. Entre os fatores responsáveis por essa mudança no comportamento estão a crise econômica derivada da pandemia de Covid-19 e a noção de consumo sustentável estar mais acessível.

“O brechó ressurgiu como uma possibilidade interessante não só do ponto de vista da sustentabilidade – o que passou a ser inegociável para muitas pessoas –, mas também porque representa uma experiência de compra autêntica”, explica Raquel Dommarco, especialista em tendências do WGSN. Segundo o hub de pesquisa de comportamento, existem três perfis de consumidores: o primeiro é dos que estão atrás de itens históricos e vanguardistas no segmento de luxo; o segundo, dos focados em garimpar, com opções diferenciadas e econômicas — esses são os que compram em brechós de bairro, em que o foco não é a marca; e o terceiro, dos que estão antenados no lado virtual, adeptos de e-commerce focados em “achados”.

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Sim, second hand: Guinada de brechós revive importância de consumo sustentável (Getty Imagens/Pexels/Reprodução)

Segundo Raquel, da perspectiva geracional, o grande impulsionador desse tipo de compra e venda vem da geração Z. “O mercado de revenda é um dos canais favoritos deles, o que acaba forçando os varejistas tradicionais destinados a se adaptarem a um cenário em que o ‘novo’ nem sempre é sinônimo de ‘melhor'”, explica a especialista. Esse movimento é traduzido em fast fashions correndo atrás de alternativas para não perder mercado. E, apesar do momento crítico da Covid-19 ter sido uma virada de chave na vida das pessoas também em relação ao consumo desenfreado, o crescimento dos brechós começou bem antes de 2020, quando se deu a percepção de que a indústria da moda necessitava de responsabilidade ambiental.

“A pandemia foi um fator de aceleração das demandas por soluções concretas, alternativas viáveis e uma tomada de atitude por parte de empresas e do público em geral”, explica Raquel. O crescimento e a maior visibilidade dos negócios comandados por mulheres que você conhece a seguir não é à toa.

A seguir, confira 5 diferentes marcas que têm em comum o consumo sustentável:

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No Fundinho

Yasmim Stevam, dona do brechó No Fundinho
Yasmim Stevam, dona do brechó No Fundinho (No Fundinho/Divulgação)

O No Fundinho fica em um duplex no emblemático Edifício Esther, no Centro de São Paulo. A atmosfera intimista, com decoração inspiradora e uma curadoria certeira tornam o No Fundinho um destino obrigatório para quem curte garimpar. A responsável por tudo isso é Yasmim Stevam. “Não queremos vender apenas um produto, mas uma experiência. O nosso diferencial é a identidade.” E o bom relacionamento com o consumidor. “Um cliente pode acabar com seu negócio, então o foco sempre foi no atendimento, seja físico ou online.” Aliás, foi durante a pandemia que o espaço viralizou e as vendas aumentaram. A boa notícia é que, após esse período, o efeito seguiu. “Temos uma visibilidade absurda. Toda vez que chega alguém, perguntamos de onde conheceram”, conta ela. Geralmente a resposta é Google, TikTok ou por indicação – o famoso boca-a-boca ainda é relevante, sim.

Enjoei

Ana Luiza McLaren, cofundadora do Enjoei.
Ana Luiza McLaren, cofundadora do Enjoei. (Enjoei/Divulgação)

Esse gigante veio ao mundo antes mesmo da nossa noção de e-commerce, lá em 2009. A plataforma entrega uma experiência de brechós de pessoa física para pessoa física, queira você comprar ou vender. Ele tem uma média de 1,2 milhão de produtos publicados por mês, são cerca de 1 milhão de vendedores e mais de 1,2 milhão de compradores ativos. Já o Enjoei Pro, opção operacionalizada pela plataforma e que cuida de todo processo, desde as fotos até as vendas, têm crescido em seu volume total transacionado, com aumento de 112% de 2021 para 2022. O Enjoei é também a primeira loja online focada em second hand a abrir o capital na bolsa, em 2020 – pioneira no mundo. A cofundadora Ana Luiza McLaren conta que mesmo na época ainda faltava um entendimento dos investidores do que era um brechó online. “É uma cultura que ainda não está estabelecida no Brasil. O entendimento aqui era essa coisa meio bazar de igreja ou beneficente”, diz ela. “Agora que está se criando uma concepção de serviço com curadoria e itens específicos para determinados segmentos.”

Peça Rara

Bruna Vasconi, fundadora do Peça Rara.
Bruna Vasconi, fundadora do Peça Rara. (Peça Rara/Divulgação)

O período pandêmico também ajudou a rede, que nasceu em Brasília e ampliou o negócio significativamente nos últimos anos: de 8 franquias, pulou para 59, sendo 52 nascidas durante e após o lockdown. “Sentimos o crescimento no segundo semestre de 2020 e, de lá para cá, isso se manteve. Foi impressionante o volume de peças que passamos a receber e o aumento na procura por roupas second hand“, conta Bruna Vasconi, fundadora do Peça Rara, que tem como uma das sócias a atriz Deborah Secco. “Uns se desfazendo daquilo que não fazia mais sentido; outros se dando conta de que o brechó era uma excelente alternativa em uma época de economia fragilizada.” Pioneiro no sistema de franqueados no país, o brechó atua por meio da venda consignada, na qual o fornecedor envia os produtos e a loja só o paga quando o item for vendido. Para se ter ideia, uma franquia tem faturamento bruto médio mensal de R$190 mil. O empreendimento que nasceu de uma necessidade agora é um negócio-modelo.

Gringa

Fiorella Mattheis, criadora do Gringa.
Fiorella Mattheis, criadora do Gringa. (Gringa/Divulgação)

A ideia nasceu em 2018, mas a empreitada da atriz e empresária Fiorella Mattheis só viu a luz do dia durante o isolamento social. “Somos uma empresa nativa digital, a pandemia não nos impediu de continuar”, conta Fiorella. O Gringa entra no setor de luxo, onde é possível adquirir peças usadas de grifes famosas, entre Chanel, Gucci, Dior, Hermès, Carolina Herrera e mais. “Nosso negócio cresce, em média, 70% ao ano. Já vendemos mais de 10.000 bolsas.” As peças, entre roupas e acessórios, passam por uma restauração antes de entrarem no site. Processo minucioso feito para “melhorar o valor de venda e durabilidade”. “Absolutamente todos os produtos disponíveis na Gringa passam por análise de autenticidade e curadoria, só vendemos os autênticos”, garante a fundadora. É o second hand de luxo e com a garantia de quem entende do assunto.

TROC

Luanna Toniolo, fundadora da TROC.
Luanna Toniolo, fundadora da TROC. (Gutyerrez Erdmann/Divulgação)

A TROC nasceu em 2016, fundada por Luanna Toniolo e adquirida pela Arezzo&Co em Novembro de 2020. A marca é um brechó online que tem a missão de ressignificar a cultura de consumo. “Por meio da moda circular, a TROC já ajudou a economizar mais de 1,3 bilhão de litros de água. Além disso, cerca de 200,1 toneladas de roupas a menos estão em aterros sanitários e menos 1.535,7 toneladas de CO2 estão na atmosfera do planeta”, conta Luanna. O empreendimento é um case de sucesso no mundo da second hand, a loja tem uma fila de espera de três mil pessoas para a venda de roupas usadas. Essa demanda fez a TROC crescer muito, cerca de 42% no número de vendas. “Eu sentia falta de ter um propósito, de deixar um legado positivo para o mundo. E hoje sinto que estou no caminho certo”, completa a fundadora.

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