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Com mais de 50 anos, elas seguem viajando o mundo

Elas viajam o mundo todo — e não abrem mão das aventuras só porque muitos ao redor tentam minar a bagagem de autoconfiança

Por Lorraine Moreira
20 out 2023, 08h34
Maria Regina Duarte, aos 63 anos, nem sonha em deixar de viajar de sozinha.  (Arquivo Pessoal/Divulgação)
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Esqueça a vontade de desacelerar ou ficar “no aposento”. Essas mulheres têm mais de 50 anos, compram mochilões, embarcam em viagens e vivem aventuras. Donas do próprio destino, decolam mesmo quando todos dizem para não bater perna por aí. Afinal, a passagem do tempo e a terceira idade podem vir acompanhadas de óculos multifocais, dores nas articulações e medos (sim, esses “presentes” chegam para todas); mas ninguém precisa ficar preso em casa em função da data estampada no RG.

Abraçar o mundo é uma oportunidade de autoconhecimento, e quem reconhece a importância desse recurso é Maria Regina Duarte, 63, funcionária pública aposentada. “Comecei a viajar sozinha para experienciar momentos que dificilmente teria em grupos”, contextualiza.

E afirma: “Descobri um processo de transformação significativa, pois a grande quantidade de vivências, diálogos e conhecimentos modificam nossa perspectiva. Nunca mais parei”. Com essa percepção, conheceu países da América do Sul, Central e Norte, além da Europa. 

A gestora Larissa Griska, 54, também encontra nas viagens um espaço para o desenvolvimento próprio. Aos 20 anos, deu o primeiro passo, quando partiu para o Nordeste sozinha, mas foi após os 50 anos que realizou o primeiro mochilão. “Estou indo aonde o destino me leva, enquanto a maturidade revela, sem pressa, o mundo e me permite degustar com calma o que está ao meu redor.”

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Aos 51 anos, Luciana de Souza começou a viajar sozinha aos 30, e não parou mais! (Arquivo Pessoal/Divulgação)
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Com uma mala pequena, de rodinha, ela carrega itens necessários para sua independência — roupas, remédios e óculos. “Perrengues e desafios compõem a nossa experiência, que é de muita reflexão. É quase obrigatório sair da zona de conforto e questionar os nossos modelos de vida”, conta a viajante. “Precisamos nos adaptar a tudo, clima, colchão e comida, e isso nos mostra como necessitamos de pouco para ser feliz, que a natureza tem valor e andar de mãos dadas com o que ela oferece é uma maravilha”, completa. 

Antes dos 30 anos, a professora Luciana de Souza deu uma chance à viagem solo. Agora, com 51 anos, não quer parar mais. “Depois de terminar meu casamento, percebi que fazia poucas viagens, e sempre com meu ex-marido. Então, tomei a decisão de embarcar sozinha, começando pelo Brasil. Depois, fui para Portugal. Na época, meu inglês não era bom, e aproveitei que dominava a língua portuguesa”, diz ela.

Suas recordações trazem emoção até hoje: “Nessa primeira viagem, conheci outros países, de tão segura que me senti”.

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A bagagem que elas carregam é cheia de histórias, lições e motivos para celebrar, mas nada disso vem sozinho: antes e durante o percurso, todas são questionadas sobre a decisão.

“As pessoas têm medo, algumas sentem pena, até perguntam se ninguém quis viajar comigo. Já tentaram arranjar companhia, mas eu fujo. Não porque não gosto, mas, assim como não existe problema em viajar acompanhada, não há nada de errado em viajar sozinha”, aponta Luciana.

Aliás, o mundo é perigoso, mas nunca foi solução manter as mulheres presas. Por outro lado, o apoio pode vir de quem encontra nelas um incentivo.

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Adriana Mantovani, 54, resolveu fazer expedições com a família em um motorhome. (Arquivo Pessoal/Divulgação)

“Recebo o retorno de jovens dizendo que sou uma inspiração para eles e que desejam seguir os mesmos passos quando tiverem minha idade”, diz Larissa.

“Viajar sozinha não significa ficar sozinha. Encontramos pessoas ao longo do trajeto, muitas viram amizades que permanecem com o passar do tempo”, acrescenta Luciana.

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Para quem deseja ir com a família antes de entrar nesse processo, também há uma possibilidade. “Faz quase dez anos que eu, meu marido e um casal de amigos, Vânia e Francisco, viajamos juntos pelo menos uma vez ao ano. Mas foi em 2018 que aderimos ao motorhome. A proposta surgiu deles: ‘Que tal viajarmos de motorhome?’. Convite aceito, fizemos cinco expedições, só paramos durante a pandemia. Trouxe lições de liberdade, sensação de estar viva e banho de conhecimento”, compartilha a jornalista e economista Adriana Mantovani, 54.

Ainda que as mulheres sejam desencorajadas, conhecer o mundo é uma chance de conhecer a si mesma. “Muitas perdem a vontade de viajar sozinhas porque pensam nos julgamentos externos. Mas, se você tem vontade, compra a passagem e vai embora. Definitivamente, vai descobrir que é muito feliz, poderosa e que pode vencer essa etapa”, aconselha Larissa.

Não importa a idade, o espaço de tempo ou o destino, existe um mundo gigante lá fora, que tal cruzar a porta? “Que possamos acreditar em nós mesmas, fazer o que agrega para nossas vidas e conhecer outras pessoas também, porque isso é valioso”, termina Maria. 

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