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“Minha mãe pegou no flagra meu tio abusando de mim e me deu uma surra”

A leitora Bete* foi vítima e nunca pôde conversar com ninguém da família. Na sua casa, com as filhas, o assunto é constante, para que elas tenham informação

Por Da Redação
6 out 2020, 09h00
 (Palmiro Domingues/Getty Images)
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“Não sei precisar quando tudo começou, só me recordo do final. O meu abusador era meu próprio tio, irmão de minha mãe. Ele nunca me violentou, porém abusava de mim todos os dias de outras formas. Eu não tinha consciência do que era aquilo porque nunca fui orientada.

Quando ele me tocava, me forçava a tocá-lo. Também fez sexo oral em mim e tentou penetração muitas vezes, mas doía e ele desistia. Eu tinha 6 anos e ele, 17. Ele gostava de dizer que aquele era nosso segredinho e que eu não deveria contar a ninguém, especialmente a minha mãe, senão ela me bateria até eu morrer. Minha mãe era brava e as surras dela eram violentas, eu tinha muito medo de apanhar dela.

Não sei o motivo, mas um dia minha mãe voltou do trabalho antes do horário de costume. Quando ela chegou, eu estava em casa com meu tio. Ela bateu na porta e ele mandou eu me esconder sob a cama. Ele saiu do quarto como se nada tivesse acontecido.

Eu saí debaixo da cama alguns minutos depois e minha mãe estava me esperando com o cinto de couro na mão. Quando ela me viu, me puxou pelo cabelo e começou a me bater. Eu estava tão magricela e ela me batia com todo o ódio do mundo, me chamava de puta, de vagabunda, me dava cintadas e tapas na cara.

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Quando as forças dela se acabaram, ela parou de me bater. Fiquei com hematomas muitos dias e nada aconteceu com meu tio. Mas depois daquele dia ele nunca mais encostou em mim.

Já adulta lembrava daquele dia como um filme na minha cabeça. Às vezes ainda me lembro e fico pensando o quanto eu fui cobrada por uma responsabilidade que não era minha. Tomei a surra sem ser culpada. Choro até hoje com isso.

Sou casada e tenho duas filhas. Faço questão de orientá-las sobre tudo. Digo que ninguém pode tocar no corpo delas ou vê-las nuas. Ensino que elas não devem tocar em ninguém e fugir de qualquer pessoa que tente ter contato físico com elas. Oriento sobre todos os possíveis abusos que possam ocorrer com elas, principalmente por parte de familiares ou conhecidos. Não deixo minhas filhas na casa de ninguém, pois tenho muito medo delas passarem pelo que passei.

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Esse assunto não é tabu na minha casa não é tabu. Falamos sobre isso sempre que vem a público algo envolvendo abuso de crianças e ressalto a importância de nos protegermos.”

A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.

*Nome trocado a pedido da personagem

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