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“Meu pai me passou uma infecção sexualmente transmissível”

A leitora Christine* tinha 8 anos quando o pai começou a abusar dela. A violência durou até sua mãe se separar dele, quatro anos depois

Por Da Redação
1 set 2020, 09h00
assédio
 (Palmiro Domingues/Getty Images)
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“Tenho 41 anos, mas até hoje carrego as dores de ter sido abusada pelo meu pai quando criança. Minha mãe era costureira e se desdobrava pra ganhar dinheiro e cuidar de mim e dos meus dois irmãos menores. Meu pai era motorista de ônibus.

Enquanto ela costurava, ele pedia para eu dobrar a manga da sua camisa de uniforme. Nesse momento, colocava o dedo dentro da minha calcinha e ficava me tocando. Outras vezes, sem a minha mãe ver, tirava o pênis de dentro da cueca e ficava esfregando em mim. Quando terminava, ele repetia: ‘Não conta para a sua mãe, ela vai morrer’. Eu não entendia aquilo quando eu tinha 8 anos, mas eu tinha certeza que não queria que minha mãe morresse.

Eu odiava ficar sozinha com meu pai, odiava quando ele chegava perto de mim. A barba dele ficava roçando no meu pescoço. Ele fazia carinhos que não eram normais numa relação entre pai e filha. Os abusos foram se tornando cada vez mais constantes até chegar à penetração. Ele ejaculava em mim e dizia que era xixi, me mandava tomar banho e não falar nada para a minha mãe. Até o dia que, mesmo sem entender nada, eu comecei a fugir dele. Mas não contava nada para minha mãe.

Um dia, estava na escola, na aula de ciências, e a professora explicou sobre conjunção carnal, incesto. Fui entender que era aquilo o que ele fazia. Eu tinha 12 anos e era extremamente fechada. Minha mãe havia se separado do meu pai, pois havia encontrado ele na casa de uma amante. Ela teve depressão, sofreu demais por ele. Não ajudaria nada eu contar a ela o que havia acontecido. Os abusos não seriam desfeitos e seria mais sofrimento para ela. Talvez ela nem resistisse a outro desgosto.

Eu me calei e carrego isso comigo até hoje. É uma ferida que nunca sara. Por muito tempo, eu me culpei, achando que eu tinha causado aquilo. Hoje entendo que era só uma criança sem conhecimento. Naquela época, as conversas sobre sexualidade não eram abertas como hoje.

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Aos 15 anos arrumei meu primeiro emprego, tinha até convênio médico. Fui no ginecologista e descobri que tinha pegado uma infecção sexualmente transmissível. Tive que fazer tratamento com antibióticos por um bom tempo, mas fiz tudo escondido.

Hoje tenho pouquíssimo contato com meu pai. Eu e meus irmãos raramente falamos com ele. Sempre que ele liga, pede perdão por tudo. Sei que é a isso que ele está se referindo. Hoje eu sou mãe, tenho dois filhos, dou a vida por eles e entendo que meu pai nunca me amou como filha. Mesmo assim, peço a Deus todos os dias para perdoá-lo e para me ajudar a perdoá-lo também. Não é fácil carregar isso comigo, não tem como não lembrar e evitar a dor.”

A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.

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*Nome trocado a pedido da personagem

O que falta para termos mais mulheres eleitas na política

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