Tainá Müller revela a maior virada da carreira, e o caminho que a levou até lá
Tainá Müller, agora diretora e produtora, explica como vive seus desafios e transformações
Toda história de transformação tem algo de épico — ainda que não envolva dragões ou espadas, e, sim, coragem, intuição e risco. O escritor Joseph Campbell descreveu esse tipo de trajetória como “a jornada do herói”, um ciclo em que alguém atravessa provações, se transforma e retorna ao mundo com algo a oferecer.
Tainá Müller acaba de trilhar esse percurso de reinvenção. Subiu ao palco, em 12 de outubro, no Festival do Rio, para receber o prêmio de Melhor Longa-Metragem Documentário ao lado de Ísis Broken, com quem codirigiu Apolo — contando a gestação natural de um casal trans. A sensação foi, como ela diz, de chegar ao cume do Everest.
É a validação de um novo horizonte que já vinha intuindo — a compreensão de que era hora de dar forma a seus sonhos, inclusive àqueles de antes de ser atriz. “Quando fiz 40 anos, comecei a passar por uma transformação, cognitiva até, sobre quem eu gostaria de ser na vida”, conta.
Aos 43, sabe que a hora é agora. Nascida em Porto Alegre e com uma carreira de 20 anos marcada por papéis memoráveis na televisão, a geminiana não esconde que a inquietude e a descoberta são seus principais combustíveis.
“A curiosidade me move. E a criatividade é consequência de uma elaboração sobre o que você vai descobrindo com ela”, comenta, dizendo-se viciada em estudar por conta própria. Prova disso é que cursou dois anos de filosofia na PUC-RJ e, atualmente, estuda psicanálise uma vez por semana. “Foi ali que comecei a entender que eu queria ser uma artista criadora, muito além de ser apenas uma intérprete”, explica.
Da MTV ao cinema independente: as múltiplas frentes da carreira de Tainá Müller
Ainda em tempos de solo gaúcho, quando se dividia entre a faculdade de jornalismo pela manhã, o trabalho na MTV porto-alegrense e a cobertura de shows à noite, já experimentava o sabor de dirigir pequenos programas. “Eu já era chefe com 20 anos”, diverte-se.
A agora atriz-diretora-produtora sabe que esse lugar de atriz-criadora não é usual no mercado. “É mais frequente ver isso no teatro, mas, no audiovisual, ainda é raro. Estou tentando entender que espaço é esse que estou criando”, reflete.
De fato, Tainá se viu atravessando múltiplas frentes no desafio de produzir um filme independente. Ao longo desses quatro anos, também gravava Bom Dia, Verônica, da Netflix. “Foi uma jornada longa, em que fiquei movida a trazer essa história para o mundo a qualquer custo. Mas não gosto de romantizar a sobrecarga. Isso me cobrou um preço”, relembra.
No mesmo período, subiu aos palcos com a peça Brilho Eterno, colaborando no texto e na dramaturgia. “Ainda em Bom Dia, Verônica, eu já me sentia para além de apenas pegar o texto e interpretar. Também tive espaço para colocar minha visão na personagem”, confessa.
Como ‘Bom Dia, Verônica’ fortaleceu a imagem de Tainá Müller no streaming
No papel de Verônica, com três temporadas de sucesso no Brasil, Tainá entrou em um mundo desconhecido. “Ela me trouxe um sentido de potência que eu não imaginava. E até de potência física que você acaba internalizando. Eu nunca fiquei tão forte quanto na época de Verônica”, lembra ela, que para viver a personagem, treinava vários tipos de luta e aprendeu a atirar.
“A Verônica era o oposto do que vivi quando comecei na minha carreira de atriz. Até então, eu era a namorada do personagem que saía brigando, a personagem feminina que desestabilizava e era o objeto de desejo do sujeito masculino”, comenta.
Para ela, interpretar um sujeito feminino, que deu título a um seriado da maior plataforma de streaming do mundo, foi a chance de experimentar a rotina desbravadora de uma mulher, mãe de dois filhos adolescentes, que parte para a luta para salvar outras mulheres.
[Alerta de spoiler]: “E ainda precisou forjar a própria morte para dar conta dessa obrigação profissional”, diz. No entanto, ela já experimentara outros papéis desafiadores.
O impacto de Marina em Em Família e a construção de personagens disruptivas
A inesquecível Marina, de Em Família, de 2014, foi um exemplo marcante. “Eu protagonizei o primeiro casamento lésbico da TV aberta no Brasil. Esse momento me abriu uma porta de curiosidade e de investigação sobre essas novas formas de estar no mundo”, diz.
Uma delas foi estudar mais uma vez — no caso, filosofia feminista com Djamila Ribeiro e Márcia Tiburi. “Foi assim que descobri sobre feminismo interseccional, uma das bases para chegar ao início do caminho de Apolo”, conta.
Aprender sobre o que é ser mulher contemporânea também é ter noção sobre o alto nível de exigência e de autoexigência. E foi em uma viagem a Bali, neste ano, que ela descobriu que precisava afrouxar essa cobrança.
“Foi a primeira vez, desde que o [filho] Martin nasceu que viajei sozinha”, conta ela, que sempre desejou voltar à Ásia, continente em que viveu quando era modelo. “Tem horas em que o corpo não aguenta bancar a super-heroína da sua própria vida”, finaliza.
Créditos
- Edição de moda: Renata Brosina
- Beleza: Débora Bitencourt
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