Sequestro e tiroteio: o conturbado casamento LGBT em ‘Órfãos da Terra’
Era para ser uma festa bonita, mas a novela 'Órfãos da Terra' apelou para um clichê bem nocivo.
Enquanto a história de Laila (Julia Dalavia) e as vinganças de Dalila (Alice Wegmann) ocuparam boa parte da trama de ‘Órfãos da Terra‘, uma história paralela foi crescendo aos pouquinhos e ganhou totalmente o público. Estamos falando do casal Camila (Anaju Dorigon) e Valéria (Bia Arantes), cujo amor floresceu inesperadamente. O capítulo desta quinta-feira (26) exibiu o casamento das duas personagens, mas mesmo essa festa acabou sendo afetada pelos delírios da vilã principal em uma cena totalmente desnecessária.
O casamento de Camila e Valéria, como se espera de toda a novela, reuniu a maior parte do elenco e não achamos que não traria qualquer acontecimento bombástico para a trama, somente a celebração do amor. Na cerimônia, as duas caminharam juntas até a juíza e, sob os olhares de todos os amigos e familiares, trocaram um selinho bem demorado.
A cena do beijo entre as personagens ganhou um tom afrontoso para a própria novela, pois a emissora havia censurado um beijo entre o casal há algumas semanas. Para piorar a situação da Globo, a censura à cena aconteceu no mesmo dia em que a internet estava inflamada em debate sobre beijos homoafetivos, pois Marcelo Crivella havia ordenado o cancelamento da venda de um quadrinho dos Vingadores na Bienal do Livro – por conta de um beijo entre dois rapazes.
O tão esperado beijo de ‘Órfãos da Terra‘ veio somente agora, no casamento das duas, e muitos esperavam que a cerimônia servisse como uma redenção da emissora. Infelizmente, isso não aconteceu. Após a cerimônia, a vilã Dalila invadiu o casório da própria tia e a tomou como refém. Seu objetivo? Sequestrar Laila. Mesmo conseguindo capturar sua nêmesis, Dalila puxa o gatilho e acerta Camila pelas costas. A noiva cai no chão e todos se desesperam.
O maior problema dessa cena foi a repetição de um clichê bem conhecido na mídia quando se trata de casais LGBTs: a tragédia. Por que as autoras escolheram realizar essa tragédia justamente em um casamento entre mulheres? Não estaria isso perpetuando a ideia equivocada de que se trata de algo errado? O quanto uma cena dessas não pode afetar uma pessoa que está descobrindo sua sexualidade e conta com as personagens da trama como exemplo?
Claro, não podemos exigir que todas as histórias sejam belas, até porque, sem conflito não há uma novela, mas é delicado usar um casamento LGBT para realizar um atentado deste porte.
Um dado curioso: em toda a história das novelas no Brasil, pouquíssimas vezes presenciamos uma cerimônia de casamento entre pessoas de mesmo sexo. Na maioria dos casos, as pessoas apenas ficam juntas e pronto, sem qualquer apoio da família ou de outros personagens! Já é hora desses raros casamentos serem tratados como algo positivo e comum, assim como os trocentos casamentos entre heterossexuais que acontecem em todas as novelas.