Samara Felippo: “Não sou negra, mas tenho filhas e luto por elas”
Para a atriz, seu engajamento é necessário a fim de garantir um lugar de fala na sociedade para as filhas Alícia e Lara
O questionamento das filhas sobre o cabelo crespo fez com que a atriz Samara Felippo, 38 anos, se pronunciasse dando uma verdadeira lição sobre empoderamento infantil e representatividade negra.
Tudo começou quando a pequena Alícia, 8 anos, perguntou à mãe por que não existiam meninas com cabelos cacheados em sua escola e disse que não gostava de seus fios.
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Samara compreendeu que precisava passar confiança para sua filha mais velha e aprender a cuidar dos cachos da menina – com tratamentos simples para os fios, como xampus e óleos específicos e cronograma capilar. “Achava que entendia tudo, mas somos tão arraigados a racismo, machismo e todos esses preconceitos que cometemos erros sem perceber, como manter o cabelo amarrado para abaixar o volume ou pentear e fazer comentários do tipo ‘como dá trabalho’. A criança cresce pensando que o cabelo dela é um fardo”, disse em entrevista ao UOL.
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O peso carregado pela filha com sua característica natural aumenta, na opinião da atriz, pela ausência de semelhanças físicas entre ela e outras pessoas com quem interage no dia a dia. “Ela não se vê representada em lugar nenhum. E é muito óbvio, pois não existe representatividade negra na mídia, na moda, nos desenhos animados, nos brinquedos. Uma criança negra cresce com um monte de Barbie loira ao redor. Na sala dela, só tem um menino negro, mas ela não se vê ali.”
Lugar de fala
Embora seja branca e reconheça não ser a melhor pessoa para falar sobre o assunto – por não ser negra -, Samara acredita que seu engajamento seja necessário para garantir um lugar de fala na sociedade às filhas Alícia e Lara, 4 anos – fruto do relacionamento da carioca com o jogador de basquete Leandrinho. “Realmente não sou negra, não tenho cachos, mas tenho filhas e luto por elas (…) Podem criticar [o fato de eu ser branca], mas vou falar e massificar o quanto eu puder essa questão, que se faz necessária. Enquanto puder falar por elas, falarei.”